Capítulo 10: Hesitação

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Carlos se reuniu com Lídia, Carlota, Óscar e Marga no quarto da pensão. Depois de verem os cartazes, todos estavam ansiosos para deixar a Espanha o quanto antes. Ser capturado pelos franquistas, àquela altura, significava a morte. Da maneira mais cruel e triste possível.

– Por favor, me diga que você traz boas notícias – Marga pediu.

– Boas e más – Carlos considerou. – Pra que vocês possam me entender, vou começar pelas boas. Eu encontrei um mercador disposto a nos levar até Tânger, no Marrocos, de onde poderemos seguir para Casablanca. A gente já acertou o pagamento. A primeira metade eu já dei, não tive escolha. Foi uma condição que ele impôs, mas me prometeu que vai estar lá nos esperando. Partimos ainda nessa madrugada, antes do sol nascer.

– E agora as más – Lídia interferiu, ansiosa.

– Agora as más. Ele disse que o exército nacionalista está atento a tudo que acontece no porto. Fiscalizam todos os barcos antes de saírem rumo ao Marrocos, não somos os únicos traidores da pátria querendo fugir da Espanha, e muito menos os únicos procurando essa rota.

– E? – Óscar disse.

– E isso nos deixa com duas escolhas: podemos tentar embarcar normalmente, pelo píer, mas com altas chances de sermos encontrados pelos soldados. Ou podemos nadar, mais ou menos um quilômetro, ele disse, e embarcar depois da revista ser feita e do barco ser autorizado a zarpar.

– Nadar? Meu Deus, isso é uma loucura – Lídia mostrou seu descontentamento.

– Mas é a opção mais segura. Eu sei nadar. Mas e vocês?

– Eu sei – Óscar se prontificou.

– Eu também – Carlota disse.

– Eu também sei – Lídia completou.

Todos olharam para Marga, que ficou em silêncio.

– Você não sabe, Marga? – questionou Lídia.

– Não. Pra ser sincera, eu tenho muito medo de água – Marga respondeu.

Todos ficaram em silêncio por alguns instantes.

– Marga, eu posso te ajudar. Eu sei nadar muito bem. Você sobe nas minhas costas e nós vamos até o barco.

Lídia não estava gostando do que ouvia.

– Um quilômetro, Carlos! No mar! Durante a madrugada!

– Lídia, acho que nós não temos outra escolha – opinou Óscar.

– Eu também acho que não – Carlota concordou. – Nós seríamos facilmente encontrados numa revista e essa é a rota mais segura. Portugal também está sob um governo fascista, nós seríamos extraditados. Cruzar o país outra vez para alcançar a fronteira com França é muito arriscado, estão nos procurando por todas as partes.

– Vocês podem ir – Marga disse, tentando segurar as lágrimas. – Eu fico e tento escapar de outro jeito.

– De jeito nenhum, Marga. Sem você nós não iremos! – Lídia protestou.

– Marga, me escute – Carlos aproximou-se dela. – Nós podemos arrumar alguma coisa que flutue onde você possa se agarrar. E eu te ajudo.

– Todos nós te ajudamos – Óscar propôs.

– Juntos nós podemos fazer isso dar certo – Carlota uniu-se.

Mais desconfiadas, Lídia e Marga se entreolharam. Mas acabaram aderindo ao plano. Não por estarem confiantes, e sim por simplesmente por não terem outras opções.

As Telefonistas: Uma Nova ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora