Capítulo 17: Busca

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O navio adentrou as águas do Rio da Prata numa calma manhã de sábado, e fez em Montevidéu sua última parada antes de chegar a Buenos Aires. Lídia e Marga estavam ansiosas. A cada milha náutica desbravada pelo gigante dos mares, sentiam-se mais perto daqueles que amavam. O reencontro anunciava-se no horizonte como mais do que uma simples uma esperança: era um desejo ardente, o fim de uma saudade que só havia crescido desde a última vez que seus olhos se encontraram.

Carlos vivia uma sensação conflitante: seu coração alegrava-se pela proximidade do reencontro com Eva, sua filha, a quem não via há tempos. Queria não apenas abraçá-la, mas também conversar com ela, explicar o porquê de terem se separado e enfim poder ser seu pai. Mas, ao mesmo tempo, a chegada em Buenos Aires significava o reencontro de Lídia e Francisco. Desde a fatídica noite no porto de Recife, estava distante da amada. Encontravam-se apenas durante as refeições e nas longas tardes que passavam na piscina, junto de Marga.

Chegaram à Argentina durante a tarde, e preencheram um requerimento de asilo político que estava sendo oferecido aos espanhóis. Prontamente tiveram suas entradas autorizadas, e pediram a um taxista que os levasse a um bom hotel. Diferentemente de Cádiz, Algeciras, Tânger e Casablanca, em Buenos Aires não estavam apenas para uma pernoite. Ali, queriam reconstruir suas vidas. Em breve precisariam alugar uma casa, procurar por um emprego, mas Carlos tranquilizou Lídia e Carlota ao afirmar que ainda tinham dinheiro suficiente para focarem na busca pelos familiares perdidos.

Na manhã de domingo saíram a perambular pelas ruas, na esperança de encontrarem por acaso com Francisco, Sofia ou Pablo. Mas Buenos Aires já era uma cidade grande, e em franco crescimento. Milhares de pessoas já viviam ali, e muitas outras chegavam todos os dias. Procurar por seus entes queridos sem nenhuma pista seria como procurar por uma agulha num palheiro. Quando anoiteceu, estavam exaustos e com bolhas nos pés.

Enquanto lutava para engolir a comida de seu prato, Lídia temeu o pior: e se sua família não estivesse ali? Carlos podia ter recebido uma informação equivocada. Francisco, Eva e Sofia podiam ter voltado para Nova York. Ou talvez tivessem escolhido ficar na França. A verdade é que podiam estar em qualquer parte do mundo, e ficou aterrorizada com essa percepção. Assim como Marga quando ouviu seus temores. Talvez sua busca ainda estivesse longe de terminar. Talvez estivesse apenas começando.

– Eu tenho uma ideia do que podemos fazer – Carlos comentou. – Amanhã iremos ao departamento de imigração. Ontem no porto anotaram nossos nomes, pediram informações sobre nós. Elas devem ficar armazenadas em algum lugar. Se eles de fato estão aqui, seus nomes estarão nos registros.

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