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-Está muito calado, capitão. - a voz doce do ômega o trouxe de volta para este ano, este dia, esta hora e o fez enxergar a vida do agora e não a que se perdeu. - Eu sei que vampiros são por natureza calados, mas… Me pergunto se foi algo que eu disse. Que lhe ofendeu.

-Não. Vampiros da minha idade acabam por se esquecer que estão pensando quando deveriam falar. - Naruto sorriu, sentindo seu rosto aquecer ao perceber que Sasuke tem uma forma diferente de pronunciar cada palavra, como se as desenhasse com caligrafia rebuscada, todas as linhas do seu rosto se moviam com graça e sensualidade, como se quisessem hipnotizar quem o ouve. - Por favor, não olhe diretamente para mim, não é sempre que estou ciente da minha sedução. - orientou com muita calma, de modo que Naruto desviou rapidamente o rosto e não viu o sorriso divertido.

-Acontece algo de mau caso alguém o olhe diretamente por muito tempo para o rosto de um vampiro? - a pergunta soou um tanto tímida. O lobo se concentrou na louça, enquanto Sasuke desfrutava do café cálido na xícara branca, para acalmar o seu coração palpitando tão forte. Por que isso acontece quando ouve, pensa ou vê aquele vampiro? Ele nem é o mais incrível que já viu.

Haviam vampiros que eram artistas famosos, como cantores e cantoras de sucesso, atores e atrizes, modelos de todas as idades e eram verdadeiros deuses divinos de tanta beleza exibida e não era difícil que aparecessem na televisão dando entrevistas - aqueles sim eram vampiros belos dignos do elogio dito, tão incríveis que chegam a intimidar.

-Bom… A maioria se apaixona e é hipnotizado, mas alguns vampiros podem enlouquecer por mostrar algo que quem vê nunca terá. Imagine a carne mais suculenta, perfumada e saborosa de toda a sua vida, fumegando sobre a grelha, o sabor vem até seus lábios e sua língua e o faz salivar sem nem mesmo ter provado o menor pedaço. - Naruto engoliu em seco, pois facilmente conseguiu ver a metáfora e havia tempos que não provava tal comida. - E é tudo isto o que terá da carne. Uma imagem criada em sua mente, pela força dos seus sentidos. É assim que muitos se sentem ao desejarem um vampiro, que erroneamente usou sua sedução, e não o terem.

-Horrível e… excitante.

Aquele foi um comentário inesperado até para Sasuke. Seus ouvidos perceberam movimentação no andar superior e os de Naruto também. Este se virou para observar a sala, a fim de verificar quem despertou, mas eram apenas as esposas trocando de lugar na cama. Ao se voltar para a janela, Sasuke não estava mais lá, apenas a xícara vazia. Teria se sentido mal se não soubesse o motivo real por aquela atitude. Pena que não pôde se despedir corretamente dele.

Sasuke suspirou de forma cansada, pendendo seu rosto de lado discretamente para focar sua audição nos sons vindos daquela casa, enquanto mantinha os olhos fechados para não ser afetado pela luz do sol. Estava na diagonal contra a parede na sombra de um prédio há meio quilômetro de onde está Naruto, sentado em seus calcanhares com as mãos juntas, os indicadores batendo um no outro como se marcassem o tempo. Ficou de pé e começou a subir devagar, encaixando seus polegares no colete até chegar ao topo e dali enxergar o horizonte da cidade e do mundo, o sol brilha entre cumes, o sinal aos mais jovens de era hora de voltar para casa e descansar.

Um aviso aos mais velhos de que precisavam voltar para as jaulas. Sasuke moveu-se tão rápido de volta ao acampamento que parecia uma sombra negra flutuando pelas ruas da cidade, mais veloz que a luz vem em seu encalço, ansiando tocá-lo. Quando parou, foi recepcionado por seus subordinados e pelos relatórios de Kiba, Karin e Suigetsu com os últimos informes da guerra. Perderam 10 soldados naquela semana, mas valera a pena porque encontraram informantes.

Enquanto bebia sua ração diária e unitária de sangue doado, sua mente se recordava de cada detalhe do rosto encantado do lobisomem lhe fitando. Era como olhar para um jovem cuja beleza fora ofuscada pela sujeira de anos incrustada em sua pele, escondendo-o como uma armadura horrenda. O cheiro lembrava-lhe os vinhos inconfundíveis da Itália, verdadeiras obras de arte engarrafadas, o pelo pardo misturando-se ao cabelo loiro e a pele avermelhada era como a terra roxa do Brasil e os olhos… bem, os olhos eram verdadeiras joias dignas das águas cerúleas do Caribe. Sasuke observou o que restou da bebida em sua taça - não lembrou de ter pego uma para beber o sangue -, aquele vermelho lhe parecia tão artificial agora e vazio de vitalidade.

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