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Kiba pensou em falar, dizer alguma coisa para incentivar aqueles sentimentos, mas suas palavras morreram antes de fosse capaz de dizê-las, pois o marido de Naruto entrou na cozinha. Devia ter ido embora logo. O alfa rosnou para si marcando seu território, embora fosse óbvio qual dos dois era o mais forte ali, mas não havia como tomar qualquer atitude para salvar seu amigo que não condenasse a si e aos seus. Com exagerada força, o homem segurou firme a cabeça do ômega pelos cabelos e o jogou para longe da cozinha, encarando o rosto de Kiba.

-Não precisa disso, senhor, eu estava apenas orientando.

-Não precisa conversar com meu ômega para isso. Fale comigo. Eu sou o chefe e alfa desta casa. Se quiser dizer qualquer coisa, fale comigo. - falou de forma severa e territorialista. Kiba balançou a cabeça, assentindo, e se afastou.

Ainda pôde ouvir os insultos e as tapas desferidas contra Naruto. Seu amigo não emitiu um único ruído, uma única palavra, um único pedido de desculpas, apenas aceitou a culpa que não tinha e isso fez o coração de Kiba ficar muito apertado. Seu turno começaria em poucos minutos, mas sentia-se muito mal para trabalhar, era como se seu trabalho não fizesse nenhum sentido. Como podia proteger os inocentes, se o mais inocentes de todos estava…

-Kiba.

Ergueu a vista e parou de andar quando sentiu o cheiro de Sasuke vir para o seu nariz com força. Inclusive quase o esmagou contra o peito dele. Os dois se observaram por alguns segundos, os olhos negros cintilavam para si, porém não havia qualquer sentimento. Aquele brilho nos orbes escuros  era o sol surgindo por cima das montanhas e dos prédios modernos.

Nunca deixou de se impressionar com o fato de seu capitão ter certa resistência ao sol, às horas mais “frias” da manhã.

Suas orelhas abaixaram quando fitou discretamente a residência de seu amigo, percebendo que o castigo de gritos e de pancadas finalmente chegou ao fim. Sasuke percebeu aquele desvio e a expressão ferida do jovem lobisomem. Tocou o ombro dele com cuidado, puxando-o para perto de si, e afagou seus cabelos perto da nuca, como se assim pudesse animá-lo para o dia longo de trabalho.

-Eu só estava conversando com o meu amigo. - explicou entristecido como se assim pudesse reduzir sua culpa pelo que aconteceu. Ele assentiu e o guiou para até o começo do quarteirão, onde deve ser seu posto de vigilância. - Me sinto tão mal por não poder…

-Não se sinta. - Kiba não entendeu por que ele dissera aquilo. - Não fez nada de errado. Temos que focar no nosso trabalho.

-Mas Naruto é o meu melhor amigo, chefe, me sinto muito mal por saber que ele sofre nas mãos daquele verme maldito. Eu queria… - rosnou ao juntar as mãos com as garras postas, como o pescoço do alfa estivesse ali e ele pudesse esmagá-los. Sasuke negou e deu uma tapa em ambas para fazê-lo relaxar. - Desculpe. Naruto sempre foi como um irmão para mim. Sempre cuidamos um do outro e nada é mais importante para um lobo do que a sua família.

Era um conceito complexo de se entender, de fato, para um vampiro questões como aquela. Mas é um fato irrefutável que a força de um lobo está na sua matilha, no seu desejo ancestral de fazer parte de um grupo, de uma família, unir-se ao todo, e quanto mais um lobisomem precisa proteger, mais forte ele é, mais protegido ele está. Perde o medo, perde a dor, perde a insegurança e a incerteza, seu coração bate no ritmo dos seus e uma armadura se constrói ao seu redor.

Em todos os seus anos de vida, nunca entendeu tão sobrenatural vínculo. A Marca. A união sublime e eterna entre dois corpos, duas almas, tornando-as tão indissociáveis que uma mente conhece os pensamentos da outra, uma sente a dor da outra, uma morre quando a vida da outra se esvai. Quando a Marca acontece, segundo os antigos rituais daquela espécie, o lobisomem se converte num novo ser, pois um novo propósito lhe foi dado. Dizem que alguns alfas ganham poderes, que alguns ômegas também, mas o medo de ter sua vida controlada e limitada por outra - o medo da morte pelo elo mais fraco - reduziu a prática antiga das Marcas. Ainda dizem que o lobisomem abençoado, segundo a crença, pelo Lobo Ancestral nasce com um sinal na pele despertado pela família.

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