Shrike

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Eu fugi para a cidade com tanto desânimo
Ah, mas eu estou voando como um pássaro para você agora. 
Eu fui acolhido pelo seu calor
Assim transformado pelo seu desprezo aterrador, doador e sombrio
Lembre-se de mim, amor, 
Quando eu renascer
Como um picanço 
Para o seu espinho afiado e glorioso.
(Shrike - Hozier)


Quando saiu do estabelecimento sem direção e bastante triste, Izuna não sabia de onde tirava energia para continuar sustentando facetas de personalidade que não tinha. Não conseguia aceitar ser visto chorando, triste ou decepcionado. Suas defesas sempre eram ativadas ao menor sinal de fraqueza. 

A vontade de correr para o mar e mergulhar que havia perturbado seus sentidos antes parecia mais forte agora, revirando suas entranhas e quando deu por si, estava caminhando cegamente pelo calçadão observando o arrebentar das ondas na orla. 

Os turistas estavam por toda parte, jovens com suas pranchas correndo de um lado para o outro, vendedores ambulantes passando por ali e oferecendo seus produtos por um preço razoável, protetor solar, chapéus e mais um monte de coisas que não queria. 

Tudo aquilo não passava de sombras, sombras dançando em um aquário, girando e girando, esperando pela luz. 

Foi quando ouviu o chamado, Izuna, e como uma resposta involuntária, suas pernas pararam. Deveria ser coisa da sua cabeça, foi o que disse a si mesmo, ou quem sabe outro Izuna por ali, alguém com o mesmo nome; mas aquela voz era única e terrivelmente familiar.

O segundo chamado foi para confirmar o que já imaginava e ao olhar para trás, Tobirama já estava perto, muito perto, e esmagado nos braços dele, Izuna sentia que iria desaparecer. Sua bolha de insignificância e inutilidade nunca parecera tão rígida e firme quanto naquele momento. Foi apenas um abraço, nada além de um abraço que não trazia previsão alguma sobre o futuro, que poderia ser tão indiferente quanto aquele beijo em sua testa uns dias atrás; mas teve o poder de o arrebatar por um momento.

Nunca sabia o que Tobirama tinha na cabeça, sempre foi emotivo e emocionado, agindo por impulso a maior parte do tempo, por isso era difícil saber como interpretar um homem prático como ele. Tinha medo do que viria agora e do que viria depois, principalmente que fosse apenas mais um: fique bem.

Não queria ficar bem, não sem ele.

  — Olha pra mim, Izuna — disse segurando seu rosto, a voz tão próxima e o cheiro de sua pele tão perto, que suas pernas amoleceram em reconhecimento ao seu lugar, seu verdadeiro lugar no mundo.  

 Preferia não olhar para ele, não tinha presença de espírito para olhar nos olhos dele. Estava horrível e quebrado.

  — Izuna, olha pra mim… — Tobirama repetiu, a boca colada ao seu ouvido, ainda tentando forçá-lo a olhar para cima, ao passo que Izuna se agarrava ainda mais ao tecido da camisa, pressionando a testa contra seu peito.

  Sentiu quando ele beijou o topo de sua cabeça, os braços envolvendo sua cintura enquanto cheirava seus cabelos. Depois uma das mãos segurou seu rabo de cavalo baixo, puxando sem muita força e não teve opção além de se deixar ser visto, imaginando que deveria estar fazendo uma careta horrível. 

Tobirama não era aquele Tobirama distante dos últimos dias, parecia até que seus olhos vermelhos estavam sorrindo, mesmo que os lábios estivessem unidos em uma linha séria. Ele parecia querer dizer alguma coisa, mas só encarava, e encarava, aproximando cada vez mais seu rosto, unindo as testas até que o nariz de um encostasse no do outro, que as batidas de seu coração crescessem em seus ouvidos, esperando ansioso e cada vez mais impaciente pela ação dele. 

Don't Go Away (TobiIzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora