Sorriso Falso

Amigos

Bakugou chegou na sala de aula irritado, colocando para fora seu vasto vocabulário de palavrões. Dava graças a Deus que o professor ainda não havia chegado. Andou a passos largos até sua cadeira ao lado de Kirishima, esse que o olhava tentando entender o rebuliço causado pelo amigo. Bakugou praticamente se jogou na cadeira e colocou sua mochila de qualquer jeito no chão.

— Tão olhando oque bando de arrombados? — Lançou um olhar mortal a todos que estavam lhe encarando na sala, obviamente todos se recolheram por causa do medo.

— Ou ou ou, calma ae biribinha. Por que está tão estressado? Digo, mais que o normal. — Kirishima perguntou, com seu tom descontraído de sempre.

— Você tinha razão pepperoni, era isso que queria ouvir? Pronto, já ouviu, porra. — Disse encarando o ruivo com um olhar mortal, esse que não recuou um momento sequer.

Kirishima demorou um pouco para entender sobre oque o loiro estava falando. Quando finalmente entendeu soltou um estalado com os dedos.

— Ah! Agora eu entendi! — Bakugou revirou os olhos e resmungou um "lerdo", ato que Kirishima ignorou sem nem se importar. — Mas e aí, conseguiu descobrir de fato oque está acontecendo com ele?

— Essa é a merda da questão, esta mais que claro que algo está acontecendo, mas ele se recusa a conversar comigo. Fato esse que só me deixa mais puto! 

— Então está bravo com ele? — Fez uma cara de confusão.

— Não imbecil, estou puto com oque está acontecendo com ele, e por não saber como ajudar! Não sei como me aproximar o suficiente. — Disse por fim, irritado e sem paciência. 

Bakugou estava com uma postura relaxada, os braços cruzados enquanto repousava o pé numa cadeira vazia. Estava irritado, não com Izuku, mas por não saber como ajudar o mesmo. Suspirou pesadamente enquanto passava a mão nos cabelos rebeldes.

Kirishima por outro lado estava atento a tudo isso, sabia que algo sério estava acontecendo, por isso queria ajudar o máximo que conseguia. No momento estava pensando em uma forma ajudar Bakugou a se aproximar de Midoriya.

Os dois estavam pensativos. Até que...

— Já sei! — Falou o ruivo, alto, chamando atenção de algumas pessoas. — Desculpe. — Se desculpou rapidamente coçando a nuca. Assim que os olhos saíram de cima de si, Kirishima virou sua atenção ao loiro impaciente ao seu lado. — Tenta falar com a Uraraka, ela parece ser muito próxima do Midoriya.

— Uraraka? — Bakugou colocou o indicador e o polegar no queixo, fazendo uma cara pensativa. Tentava lembrar se conhecia essa tal de Uraraka. — Ah sim! A cara de bolacha, ela é da mesma turma de inglês que eu.

— Cara de bolacha? — Kirishima riu com o apelido. — Não sabia que eram próximos.

— Mas a gente não é, só fazemos trabalho em dupla algumas vezes. — Falou revirando os olhos pro sorrisinho de lado que o ruivo dava pra si. — Mas você tem razão, eu já a vi conversando com ele várias vezes, vou tentar falar com ela hoje. Tenho duas aulas de inglês depois dessa.

— E mais uma vez, Kirishima-Sama salva o dia. — Disse fazendo uma pose ridícula e engrossando mais a voz, como se fosse um super-herói. Bakugou revirou os olhos impaciênte, mas não pode deixar de soltar um riso pela palhaçada do amigo quase irmão.

— Cala a porra dessa boca! — Disse irritado mas sem tirar o sorriso do rosto.

Foram interrompidos pelo professor que logo entrou em aula.

— Certo turma, vamos começar a aula e...

* * *

Ochaco andava apressada pelos corredores da escola. Estava procurando um certo esverdeado que até agora não apareceu na sala de aula, visto que o mesmo raramente se atrasava. Estava muito preocupada com ele, para falar a verdade. Izuku se tornou seu melhor amigo desde o primeiro dia de aula do primeiro ano. Ela sabia que Midoriya era um amor de pessoa, e de fato era, mas tinha algo errado. Muitas vezes ele chegada assustado e não gostava muito que encostassem nele, quem mais conseguia se aproximar era a de cabelo castanho, mas mesmo assim, tinha certeza que tinha algo a mais. 

Porém, sempre que conversava com Izuku por causa disso, ele rapidamente mudava de assunto, ou respondia com aquele rápido "estou bem" e lhe lançava aquele sorriso que pelas barbas de Dumbledore, era óbvio que não era verdadeiro. As vezes sentia que o verdinho de fato sorria de verdade quando estava perto dela, realmente eram muito amigos. Mas também sentia que Izuku não confiava nela como ela confiava nele, mas isso não a fazia se afastar, pelo contrário, só a fazia querer ajudar mais. Era óbvio que tinha algo de errado, e muito errado, por isso fazia o possível para ajudar. 

— Já sei onde você está! — Disse em tom audível para si mesma, visto que estava sozinha.

Foi andando a passos apressados até o terraço, sabia que era um lugar onde o esverdeado gostava de ficar, pois além da brisa fresca, tinha uma boa paisagem. Mesmo assim não podia deixar de sentir o coração apertado, pois as palavras "Sorriso", "falso" e "terraço" não ficavam muito bem juntas, pelo menos não pra ela.

Logo os passos se tornaram uma corrida. O caminho parecia mais longo do que se lembrava, e o aperto em sua coração só aumentava. Sabia que o amigo tinha muitos problemas a lidar, e isso só piorava.

— Izuku! — Praticamente gritou na mesma hora que abriu a porta para o terraço, estava ofegante pela corrida, mas mesmo assim andou até o amigo.

Midoriya de fato, estava lá. Ele estava sentado na enorme caixa de água que havia ali. Parecia distraído com algo. 

Ochaco foi andando até Izuku, embora andava calmamente, seu coração estava a mil. E só piorou mais quando o esverdeado a olhou e ela pôde ver os olhos inchados e avermelhados, oque indicava que ele estava chorando, por isso rapidamente virou o rosto.

— Zuzu... — Disse de forma terna e carinhosa, se aproximando mais e logo sentando ao lado dele. — Você está bem? — Perguntou apenas para iniciar uma conversa, pois era óbvio que ele não estava bem.

— Eu me atrasei, não é? Me desculpa por te fazer vir aqui e... — A voz saia trêmula, mas logo Uraraka o interrompeu.

— Claro que não, Zuzu. Sabe que nunca vai me incomodar, não é? Agora me diga, por que está chorando? — Ela continuava usando aquele tom calmo e sereno, que, embora Izuku não falasse, lhe acalmava profundamente. Amava Uraraka como uma irmã, as vezes ela até lembrava sua mãe, mas não tinha coragem o suficiente para colocar tudo que tinha pra fora. Ainda sentia medo. 

Izuku suspirou, cansado. Mas logo colocou um sorriso no rosto, mesmo sendo falso.

— Eu estou bem, não se preocupe, Chaco. Eu apenas... apenas precisava de ar. — Desviou seus olhos do céu e foi para Ochaco, está que se encontrava com uma testa franzida.

Ela suspirou também, logo fazendo uma expressão preocupada.

— Izuku, fala comigo! Eu sei que não está tudo bem, não é normal as pessoas ficarem desse jeito. — Ela o repreendeu, mas a voz nunca elevada, sempre calma e  com paciência.

— Quem disse que eu estava chorando?

— Atá, porque agora eu sou cega e não vejo seus olhos vermelhos e inchados.

— Eles estavam coçando e eu apenas... é, coçei? — Disse fazendo uma leve careta, oque apenas resultado em outra suspiro e uma leve risadinha vindo dos dois. — Tá, eu estava chorando.

— Oh meu Deus, jura? — Disse fingindo surpresa. 

— Você é terrível! — Falou fingindo irritação.

— E você é um péssimo mentiroso. — Ambos riram mais um pouco, até que a de cabelo castanho voltou a lhe encarar, com o semblante preocupado. — Zuzu, por favor me fala. 

Ah aquele tom de voz... Izuku quase cedia quando ela o usava. O tom de preocupação, mostrando que ela realmente se importava. Mas novamente, se recusava a contar, tudo por medo. Tinha mais medo de ferir aos outros do que a si mesmo.

— É bobeira, não é nada demais, eu juro. — Disse com um sorrisinho de lado meio xoxo.

— Izuku, não faz isso. Me conta por-

— Temos aula agora, não? Vamos, tempos que ir se não vamos nos atrasar! 

— Mas a gente ainda não... — Izuku foi mais rápido e logo saiu correndo do terraço em direção a sala. — Conversou... — Suspirou cansada, porém não derrotada. Ainda iria conversar com ele, querendo ou não. Logo foi em direção do mesmo.