Confia em mim?

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A brisa fresca passava pela janela aberta, invadindo o cômodo, igualmente com o a luz solar, despertando um esvedeado de um sono nada leve. A prova disso eram as lágrimas já secas que haviam escorrido de sua bochecha. 

Sim, prometeu a si mesmo que não iria chorar, que iria ser forte para tirar tanto a si quanto a sua irmã daquela realidade cruel que os cercava, mas isso era muito mais fácil na teoria do que na prática. Principalmente quando a agressividade daquele que havia lhe destruído muita coisa, parecia ainda mais forte. A vasta coleção de hematomas presente na pele clara, eram a prova do quão perturbada havia sido sua noite.

A dor pelo corpo parecia se alastrar mais e mais a cada movimento, pois, além das dores no quadril, tinha de brinde os socos, tapas e tudo aquilo que a mente sádica de Nine conseguia produzir. Ele divertia-se com seu sofrimento, e isso não era nada novo.

Não obstante, suspirou pesado com a esperança de que soltar o ar preso em seus pulmões, também levasse a dor que estava sentido. Mas claro que não funcionou.

Mas... Se vermos pelo lado bom, todo aquele sofrimento que lhe foi proporcionado durante a noite, teve um resultado. O plano de tirar informações de Nine, com uma falsa submissão estava andando. Como estava no início, não era lá muita coisa, porém já era um início. Agradecia a qualquer divindade que fazia com que a confiança e orgulho daquele sádico, fossem muito maiores do que o senso para perceber que algo estava se formando sem ao menos perceber. 

Lembrava-se que no início, quando ele ainda estava enganando a si e a sua mãe, ele era cuidadoso, analisava as palavras, observava tudo. E o que mais irritava, era não ter percebido antes. Não ter se questionado antes do porquê de todas aquelas histórias mal contadas. Talvez estivessem tão iludidos pela imagem de "bom moço" que não tivessem percebido que ele estava cavando uma enorme cova ao redor deles. 

E quando perceberam, já era tarde demais.

Tudo já havia desmoronado sem nem  mesmo perceberem. Mas agora que tinha uma chance de finalmente sair dessa cova, sairia. Mesmo que escalar as paredes fosse difícil, faria isso. Por muito tempo não fez nada, tinha medo de que algo acontecesse com Eri. Não ligava o quão machucado fisicamente e até mesmo psicologicamente ficasse, se Eri estava bem, então Izuku também estava. Mas agora ele não estava sozinho. Não mais.

Determinado, pôs-se de pé. Praguejando baixo quando sentiu uma ponta de dor na região das costelas.

— Espero que os analgésicos não tenham acabado... — Sussurrou para si mesmo, visto que estava sozinho no quarto, pelos menos pensou.

— Tem uns na cozinha, eu pego pra você. — A voz da sua irmã mais nova soou. E embora parecesse calma, tinha certeza que ela estava mais do que preocupada.

Como prometido, ela voltou em menos de dois minutos com a cartela nas mãos e o copo de água, entregando ao esverdeado. Ela aproximou-se do irmão, sentando na cama ao lado do esverdeado. 

— Sabe tão bem quanto eu que esse plano é arriscado. Eu... — Ela começou com os olhos no chão, mas interrompeu a própria fala, levando os olhos aos de Midoriya. — Zu isso é muito perigoso! Se ele perceber? Eu não quero nem ao menos pensar nessa possibilidade. Você me prometeu que nós dois iríamos viver felizes, mas se continuar assim, isso não vai acontecer! — Ela elevou a voz, claramente afetada. — Eu... Eu estou com medo, Izuku.

— Eri... — Falou assim que terminou de tomar o remédio, encarando a irmã cabisbaixa. Levou as mãos ao rosto da menina, fazendo-a elevar os olhos para encarar o esverdeado com um sorriso leve nos lábios. Mas era verdadeiro. — Eu sei que é arriscado. Sei perfeitamente o quanto isso é perigoso. Sei mais do que ninguém que se eu errar, poderemos mesmo nunca ter a chance de viver felizes. — Começou, a voz estava doce e calma não parecia triste, mesmo que estivesse com dor, não parecia triste com isso. — Mas também sei, que se não arriscarmos, nunca teremos a chance de ser feliz. Viver com medo, viver nessas condições não está em cogitação. Então... Se arriscarmos, temos ao menos a chance de sermos felizes do que só aceitarmos isso, apenas por estar vivos.  

Sorriso FalsoOnde histórias criam vida. Descubra agora