Poluído

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- Zu... - Eri chamou seu irmão calmamente. O dela coração sempre se apertava ao ver aquela cena, mesmo que estivesse acostumada. - Você não devia ir pra escola hoje, você... você mal consegue andar! - Ela disse com as sombrancelhas franzidas em preocupação. Estava com os braços cruzados e os olhos um tanto marejados ao ver seu irmão caminhando até com o banheiro com dificuldade.

Embora seu corpo todo doesse, ele fez a força para se virar para traz e encarar os olhos vermelhos suaves, banhados em preocupação. Deu um sorrindo de lado, um sorriso gentil.

- Não se preocupe Eri, eu estou bem. - Disse levemente, caminhando em direção a ela e se agachando para ficar na altura. - E eu não posso faltar hoje, tenho uma prova importante. - Eri revirou os olhos para aquela desculpa.

A verdade era que sim, não estava nada bem, sabia disso. Sempre que isso acontecia, sua vontade de viver voltava a zero. Mas ele sempre agia como forte, por Eri. A mesma tinha apenas 11 anos, mas tinha uma maturidade e uma compreensão inigualável. As vezes se perguntava se ele era mesmo o mais velho.

As vezes se sentia mal por isso, ela teve que crescer tão rápido... Rápido até demais. Por isso não mostrava que estava com vontade de se encolher no chão e chorar até não poder mais. Queria botar tudo pra fora, mas tinha que ser forte, por ela. Eri não tinha mais ninguém depois dele, e se ele desistisse, quem iria ficar com ela? Não gostava nem da possibilidade dela ficar naquela casa sozinha com... ele.

- Mas Zu, eu-

- Nananinanão, eu já falei que estou bem. Agora vá se arrumar, você também tem escola hoje, não? - Ele disse sorrindo alegre para ela, que emburrou a cara.

- Odeio quando você faz esses sorrisos falsos. - Ela franziu mais as sombrancelhas, porém saiu mesmo assim.

O esverdeado a viu sair com um aperto no peito. "Sorriso falso". Ela não era a única pessoa que falava isso. Suspirou cansado e derrotado, voltando a caminhar para o banheiro.

Assim que chegou lá e se viu no espelho, não aguentou. Trancou a porta e se pôs a desabar. Sua pela estava inteiramente manchada de roxo e vermelho; seus lábios cheios estavam tão maltratados que era possível per uns machucados ali; e seus olhos estavam... Seus olhos estavam mais apagados que a do próprio homem que o deixou naquele estado. Estava sujo! Imundo, podre até a alma!

Está poluído, sim. Sabia disso, sabia que não podia deixar as pessoas se aproximarem por causa disso. E se as sujace? E se levasse para elas as mesmas coisas que aconteram consigo? Não, não podia! Eri não merecia isso. Uraraka não merecia isso. Katsuki não merecia isso...

A imagem do leito veio a sua mente. As lembranças do dia anterior. O toque em dia cintura foi tão... leve. Foi tão confortante que ele sentiu que tudo havia acabado. Por um momento, sentiu que de fato estava limpo.

- Merda! - Sussurrou pra si mesmo, enquanto se encarava no espelho. As lágrimas ainda caiam com abundância. - Você sabe que não deve fazer isso, Izuku. Você sabe! Você sabe! Você sabe! - A voz em um sussurro ia aumentando o tom aos poucos. Levando as mãos aos próprios cabelos, apertando e puxando bruscamente, chegando a arrancar alguns fios. - Você sabe disso. - Encostou as costas na porta, deslizando até o chão, abraçando os próprios joelhos. - Você sabe... - Sussurrou pra si mesmo. As lágrimas continuavam a cair, porém silenciosas.

* * *

Assim que Katsuki chegou em frente a escola, deu um suspiro pesado. Colocaria a dica que Kirishima lhe deu em prática. Mostraria para Midoriya que ele, de fato, se importava, e que faria de tudo para ajudá-lo independente da situação.

Nunca foi bom com as palavras, na verdade era péssimo. Mas faria o possível para pelo menos demonstrar oque sentia. No dia anterior, quando segurou Izuku em seus braços, sentiu como se estivesse segurando uma criança. Uma criança pura e inocente. E quando viu Midoriya chorando, sentiu a obrigação de proteger aquele ser puro e gentil. Queria ele em seus braços novamente. Queria-o apenas para si...

Sorriso FalsoOnde histórias criam vida. Descubra agora