Dores

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Por Ana

Senti minha cabeça latejar mais uma vez, fechei os olhos com força em uma tentativa falha de acabar com a dor. Minha respiração estava descompassada, e cada vez que o ar inundava meus pulmões sentia como se meu corpo tivesse sido revirado e meus órgãos pressionados. Quando abri meus olhos novamente me arrependi de imediato, a luz do sol me cegou por alguns segundos e a dor veio com mais força, trazendo com a ela um enjoou estranho.

A cada passo parecia que minhas pernas cederiam, e a estrada de terra a frente aparentava não ter fim. Levei a mão até a testa sentindo um ardor no local, e os meus dedos ficaram manchas de vermelho, o logo cheiro de sangue e terra tomaram conta do meu nariz e me perguntei como não tinha percebido antes. Envolvi os braços no meu corpo e continuei andando, essa parecia ser a única coisa certa.

Olhei para o chão enquanto andava e minha mente parecia dar voltas, tentando fazer a conexão com algo, ou com alguém. Tudo o que queria era que meus pés soubessem o caminho de volta para casa, pelo menos lá no fundo eu esperava ter alguma. Meus olhos se encheram de lágrimas após mais uma tentativa de vasculhar minha mente atrás de alguma informação, mas tudo não passava de um completo vazio. Senti o ar escapar dos meus pulmões e parei de repente apoiando as mãos nos meus joelhos enquanto tentava voltar a respirar. A dor pareceu se multiplicar, e a confusão em minha mente aumentar. Eu só tentava achar um sentido, ou qualquer coisa, uma saída, saber para onde ir ou como vim parar aqui.

Me ergui novamente sentido todo o meu corpo tremer, então veio o frio e logo registrei um barulho que identifiquei como os meus dentes batendo. Forcei meus pés a darem mais um passo. Como um vago instinto de sobrevivência eu sabia que precisava chegar a algum lugar, qualquer um. O frio me consumia, apesar de estar de dia. Voltei a envolver o meu corpo com os braços dessa vez tentando me aquecer. A todo segundo obrigava meu corpo a andar, mas cada movimento tornava-se lento e às vezes me fazia soltar um gemido de dor.

Não sei por quanto tempo andei, só sei que a exaustão, somada a todas as outras coisas, me fizeram querer parar e ficar por ali mesmo. Eu ainda andava, mas minha visão escurecia, eu me recusava a parar ali, então fechava meus olhos rapidamente tentando expulsar essa escuridão, e logo os reabria. Depois de fazer isso várias vezes ela acabou se tornando convidativa, e me perguntei o que aconteceria se eu parasse, será que a dor diminuiria? Eu só queria que isso acabasse, que a dor passasse e a confusão fosse embora. Eu não sabia o que estava acontecendo, ou porque eu tinha uma vaga sensação de que algo muito importante estava sendo esquecido, mas naquele momento eu só queria que tudo parasse. A escuridão nublou minha visão novamente, e dessa vez pareceu demorar alguns segundos a mais para que eu recuperasse a consciência novamente. As lágrimas decidam pelo meu rosto, não sabia ao certo porque estavam ali, se era pelas dores, pelo medo ou desespero.

Foi então que vi algo um pouco distante, forcei meus olhos a focar a imagem ao longe. Era uma casa, e então uma breve chama de esperança me atingiu, eu precisava chegar ali. Estava tão perto, não podia parar agora. Tentei esquecer as dores e aumentei o ritmo da minha caminhada, eu não estava muito longe, mas meu corpo se opunha a continuar. Senti mais uma pontada forte e então meus joelhos cederam indo de encontro ao chão, apoiei minhas mãos na areia sentindo as pequenas pedrinhas furarem minha pele, mas essa dor era insignificante comparada a todas as outras.

Olhei para cima novamente vendo a casa mais perto, faltava tão pouco. Tentei levantar novamente, mas meu corpo tremia compulsivamente me fazendo perder o equilibro. Em uma das vezes tentei apoiar o peso do meu corpo em uma das pernas para levantar, mas então a escuridão veio mais uma vez, mas diferente das outras essa eu não consegui expulsar. Senti meu corpo pender para o lado e ir de encontro ao chão, trazendo a sensação da terra no meu rosto. Tentei lutar para manter minha consciência desperta, mas ela já estava exausta assim como todas as outras partes de mim. E aos poucos senti a escuridão ir tomando conta de todo o meu corpo, e as dores foram sumindo e as confusões da minha mente se tornaram o menos importante. As lágrimas ainda estavam presentes, e naquele momento eu sabia que elas estavam ali devido ao medo que a escuridão trazia.

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