Mônica olhava indignada para as coisas que Bella perdeu com a chuva, a TV, geladeira, e outras coisas banais porém seria de um custo que talvez não valesse a pena concertar.
Moni ajudava a arrumar somente o necessário para levar no carro, como alguns troféus de dança que sua amiga conquistou ainda na adolescência fazendo sua mãe que ainda viva suspirar de orgulho pelo talento da filha, dança essa que foi motivo de um olho roxo, e dores no corpo por dias. Mãe de Bella enfrentava seu marido com unhas e dentes para que a menina permanecesse nas aulas, e como recompensa, talvez pela culpa, a jovem adolescente se sobressaía entre os mais qualificados de sua turma. Com a morte da mãe, desistiu de dançar por não suportar a carga emocional, quando foi embora de casa, saiu apenas com algumas roupas, os troféus e uma caixa com quadros autorais da mãe. Então coisas como essas que não caberia na mala de roupas.- O que pensa em fazer com o resto? - perguntou Mônica.
- Sinceramente não sei - disse frustrada - posso deixar por aqui por um mês ate ver um lugar, mas tenho quase nada para carregar também, essa chuva foi o estrago! - afirmou Bella terminando de fechar a mala.
- Sinto muito por isso!
- Tudo bem.
Quando as meninas estavam terminando de colocar a ultima caixa no porta mala do carro, por ironia do destino ou azar, Diogo chega no momento, Mônica ao notar a presença desagradável diga se de passagem, respirou fundo para se conter.
O rapaz curioso abordou Anabella sobre o que seria toda aquela agitação:
- Ana o que significa isso?
- Eu não te devo satisfação da minha vida Diogo, agora me dê licença estou ocupada. - Bella falou sem encara-lo estava muito magoada com seu ato agressivo no ultimo encontro.
- Mas eu quero saber, está se mudando? - perguntou entrando na sua frente, impedindo que a jovem entrasse na casa.
Mônica manteve certa distância, mas ainda sim era possível ver qualquer movimento do rapaz, e ouvi-lo.
- Quando foi que você se tornou esse cara dissimulado, intrometido, que ao invés de cuidar da própria vida, fica de olho na minha? Eu estou tentando ser muito paciente com suas atitudes infantis, mas não dá! Faça o favor de colocar na sua cabeça que não existe mais a gente, então só para. - Bella disse com todas as palavras, um tom que somente eles poderiam ouvir, porém firme e decidida.
Toda aquela obsessão estava a assustandoMônica trazia em seus lábios um sorriso orgulhoso pelas palavras da amiga.
Diogo muito contrariado e sem ligar para onde estavam agarrou Bella a força pelos braços.
- Voce nun...
- Larga ela agora - ordenou Mônica chegando perto de ambos.
- Olha só a comunidade, não estou falando com voce sua, sua p...
- Vamos! Continue, diga o nome da minha cor e vera se eu não te levo imediatamente preso para a delegacia. Por racismo, e por agressão! - Mônica já se encontrava alterada - e eu ja pedi para tirar suas mãos de Bella.
Mesmo depois de soltar a jovem, Diogo ainda estava nervoso, se perguntava como que uma mulher negra poderia ter tal poder sobre ele, achava que só por ter um distintivo ela se achava demais, e portar uma arma, e algemas, isso era o que de fato dava autoridade.
Para Mônica não se tratava mais da implicância que tinha pelo rapaz. Como muitas vezes ela disse, eu sou preta sim, mas só eu posso declarar essas palavras, só eu sei o preconceito que passei, e passo ate hoje por causa da cor da minha pele, só eu sei o quanto sou desprezada, e o quanto não sou nenhum pouco previlegiada, os olhares tortos que recebo, os falatórios que ouço, minha cor não define meu caráter, tenho orgulho de ser negra acima de tudo, porque só eu sei a mulher forte que me tornei, o quanto fui moldada para ser quem sou, e não vai ser uma sociedade preconceituosa, racista que me fara abaixar a guarda. Então não, não seria Diogo a intimida-la, e se ele ousasse proferir mais alguma palavra em relação a sua pessoa, não importaria se estivesse de folga do seu trabalho, iria cumprir o seu dever de coloca-lo em seu lugar para aprender que o peso da sua fala era sim, crime.- Isso não ficará assim, não mesmo! - bufou olhando diretamente para sua ex, mas indiretamente se referia a Mônica também.
- Cuidado com as palavras, estou de olho em você - concluiu a jovem. Vendo na sua frente todo o comportamento do rapaz, só ficou mais preocupada com Bella caso ele a abordasse sozinha.
Diogo saiu batendo pé.
Os vizinhos de Bella olhavam curiosos ao que acontecia, uns estavam nos muros, outros no portão vendo e ouvindo o que acontecia, já que a discussão foi na calçada, perto do carro que estava na rua.- O que foi? Perderam os olhos da cara aqui? - perguntou Mônica estressada.
- Amiga vem, entra! - pediu Bella puxando a jovem. Ela conhecia cada palavra que sua amiga disse a Diogo, na maioria das vezes estava de consolo para Mônica quando sofria algum ataque na rua, ou até mesmo na faculdade pois a maioria de sua turma eram brancos, ricos, e sem nenhuma empatia moral.
- Toma essa água - entregou sua amiga um copo cheio. Mesmo depois de alguns minutos Mônica ainda estava nervosa, sentia vontade de ir atrás de Diogo.
- Ei - Bella parou em sua frente fazendo sua amiga lhe encarar - Você é linda, esse seu sorriso é lindo, sua pele é linda, é a negra mais linda que ja tive o prazer de conhecer, e ainda compartilhar da vida, e eu amo o ser humano iluminado que você é, mesmo sendo pavio curto - sorriram - Então não se abale, esta bem?
Mônica sabia o quanto era difícil Bella expressar seus sentimentos, aquela menina em sua frente era a versão que só ela conhecia, pois não permitia ninguém tomar ciencia do quanto ela poderia ser carinhosa, e absorvendo as palavras ditas assentiu abraçando a amiga em seguida de um obrigado.
Chegando no apartamento o que mais queriam era descansar, o sábado passou voando para ambas que ficaram ocupadas.
- E o quarto de hóspedes? - perguntou Bella.
- Não é o quarto de hóspedes
- Não? - perguntou surpresa.
- Não amiga, é o seu quarto! - afirmou Mônica.
- Que susto - sorriram.
Por volta de nove e meia pediram pizza, já que estavam cansadas para cozinhar.
- Pede de frango - falou Bella
- Ah não, só de queijo - rebateu Mônica
- Par ou impar?
- Nenhum, vamos pedir logo duas, to varada de fome - disse Mônica com o celular em mãos fazendo o pedido.
- coca cola
- Não, quero refri de uva
Mônica semicerrou os olhos em Bella, fazendo a mesma repetir o gesto, ficaram se olhando sérias por dois minutos e meio até que Mônica riu e perdeu o jogo, fazendo assim o refrigerante de uva a acompanhar a pizza.
- Não vale você sempre ganha - Moni estava indignada
- Tá doendo é? - ironizou Bella.
- To fazendo suas vontades mesmo, porque amanhã é dia sabe do que?
Com as maos apoiando o rosto encarou Moni esperando que a mesma concluisse.
- Almoço na casa dos Castro
- NÃO! Você estava me usando? - disse levantando a sobrancelhas contrariada.
- Ei, voce que é lerda. Não viu que eu estava boazinha demais não? - Mônica sorria vitoriosa.
- Nunca mais te peço nada.
- Mas sério amiga a família esta com saudades de você - disse Mônica - e como falei que você estava voltando, eles pediram para você ir, e não como resposta já sabe né?
- É inadmissível - barra Carlos, barra Sônia. - Eu não sou doida - falou Bella sorrindo imitando a voz dos pais adotivos de Mônica. Sentiu uma saudade apertar o peito, queria rever a família que tanto lhe apoiou quando ela chegou sem nada no Rio de Janeiro.
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Aos Seus Pés - Romance Lésbico - Concluída(Sem Revisão)
RomanceDuas mulheres com traumas, ambas por terem perdido pessoas que amavam. Anabella Vieira e Camille Barcelar são pessoas marcadas pelo passado. De personalidades fortes as duas têm dificuldades de confiar nas pessoas e manter vínculos. Depois de várias...