Duas mulheres com traumas, ambas por terem perdido pessoas que amavam.
Anabella Vieira e Camille Barcelar são pessoas marcadas pelo passado. De personalidades fortes as duas têm dificuldades de confiar nas pessoas e manter vínculos.
Depois de várias...
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Diferente das outras vezes o silêncio no carro é incômodo, o som encontra-se desligado e Camille quieta. Notei sua postura mudar quando saímos da família Castro, não perguntei o que houve, mas pelo tempo de convivência sei que tem algo incomodando-a talvez eu já saiba o que é.
Volto a fechar meus olhos e pensar no dia de hoje, ver os olhos da minha esposa brilhar ao saber que seria mamãe também não tem explicação, mesmo diante a atitude impensada que cometi.
Sinto o carro parar, ouço as portas serem destravadas, continuo do mesmo jeito e percebo Camille soltar uma lufada de ar preso para então tocar em meu braço me chamando. Abro meus olhos visualizando a garagem de nossa casa, a primeira coisa que fizemos depois de casar foi sair do apartamento.
— Precisamos conversar? — Olho seu semblante sério.
— Sim, mas não sei se quero fazer isso agora ou hoje. — respondeu olhando pra frente.
— Ok. — Digo e saio do carro puxando o portão de correr para que guardasse o veículo.
Se ela está chateada pelo o que fiz, não tem mais jeito. O engraçado é que conversamos quase todos os dias em Nova York e parecia que já estávamos bem.
Entro em casa indo direto para a cozinha tomar o remédio que o médico passou, ele disse que ajuda no desenvolvimento do bebê e que era bom pra mim também. Ouço a porta de entrada bater e Camille entrar na cozinha indo direto na adega de vinho.
— Por que a gente não conversa agora? — Questionei e o silêncio continuou. — Camille eu estou falando com você.
— Porque agora eu estou chateada com você e não quero falar coisas em que me arrependerei depois, então eu vou sair daqui tomar um banho e voltar para beber meu vinho em silêncio. — respondeu com a voz alterada, veio até mim. — E quando eu estiver melhor conversamos. — disse me dando um beijo na testa e outro na minha barriga saindo em seguida para o banheiro.
Respiro fundo tentando respeitar seu pedido. Engana-se quem pensa que relacionamentos são contos de fadas e tudo é perfeito, só em livros que me deparo com isso, dependendo até na literatura é capaz de estar pior que na vida real. Vou para o quarto e ouço o chuveiro ligado, por um momento passou na minha cabeça de entrar e fazer companhia, mas se tem uma coisa que Camille odeia é a falta de privacidade quando ela pede e se a situação já não está boa, não irei complicar mais.
Sento na cama e pego meu celular no bolso, tento me distrair conversando com a Mônica, contei o que se passa nesse momento, em resposta ela jogou na minha cara que eu fui avisada. E de fato não deixa de ser verdade, Mônica disse que era melhor ter feito as pazes primeiro e depois viajar, entretanto, eu fiquei ansiosa e com raiva que só pensei em ir.
Sinto um cheiro de hidratante invadir o quarto, levanto o rosto e vejo minha esposa de robe e cuidando da pele passando creme. Sua feição é séria, fechada, quando quer ela sabe intimidar me deixando com a consciência pesada.
