💙 CAPÍTULO 62💙

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💙Alicia:

  Ignorei a décima ligação da minha mãe e me deitei na cama, puxando o cobertor até o meu pescoço e encarando o teto branco. Eu odiava aquele lugar, tudo era muito branco e limpo, devia ter trago latas de tintas azuis para pintar pelo menos o teto, assim eu não ficaria tão incomodada. Ou ficaria, não sei dizer. Meus pais já me haviam mandado dezenas de mensagens perguntando do namoro com o Dylan, o que eu não fazia ideia de como eles haviam descoberto e com certeza, responder as perguntas deles - ainda mais sobre aquele assunto que nem existia mais - não seria um bom jeito de terminar meu dia.

  Se bem que pelo visto ele já estava acabado.

  - Como você está? - Abigail perguntou, saindo do banheiro e colocando seu pijama.

  - Ótima. - continuei encarando teto, deixando minha mente vagar pelos detalhes do final de semana, que naquele momento parecia ser apenas uma linda alucinação.

  - Se você diz. - ouvi sua voz se aproximando - Sabe onde Letícia e Alessandra estão? - apenas neguei com a cabeça - Elas devem ter ido para algum outro quarto passear como sempre fazem. - me assustei quando senti que Abigail estava deitando ao meu lado, na minha cama.

  - O que...

  - "Amor é fogo que arde sem se ver;" - me interrompeu, também olhando para o teto - "É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer... É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder... É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade... Mas como causar pode seu favor... Nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

  - Eu não entendi o que você quis dizer com isso. - murmurei, tentando entender porque mesmo sem entender o que ela havia dito, ainda assim aquilo me dava vontade chorar.

  - É um poema de Luiz de Camões. - respirou fundo - O Daniel me deu um bilhete com esse poema escrito quando estávamos saindo do refeitório.

  - Ah, pelo menos ele acertou em alguma coisa. - respondi, brincando com o meu pincerg - O que você achou disso?

  - Lindo. - a ouvi suspirar - Você acha que ele realmente está afim de mim?

  - Não acho, tenho certeza. - fechei os olhos tentando parar de pensar em Dylan, mas aquilo parecia impossível.

  - Está preparada para começar falar agora? - senti sua mão segurar a minha por debaixo do cobertor - Estou ouvindo.

  - Não tenho o que falar. - soltei sua mão e me sentei, arregalando os olhos ao me dar conta de algo - Vocês ouviram.

  - Sim. - também se sentou, se apoiando na cabeceira.

  - Que ótimo. - ironizei e abri um sorriso falso, secando a lágrima que estava ameaçando cair do meu olho.

  - Vou perguntar mais uma vez. - respirou fundo - Como você está?

  - Decepcionada. - comprimi os lábios, sentindo meu lábio inferior tremer - Você acha que eu estou sendo muito idiota por ficar decepcionada com algo que aconteceu há tanto tempo?

  - Acho que só você sabe o que sente, independente de quanto tempo passou. - respondeu, parecendo tão calma que de alguma forma transmitia aquilo para mim - Ele nunca quis te magoar, ele nem deve ter pensado para falar algo daquilo, Ali.

  - Eu sei. - engoli em seco e deitei a cabeça em seu ombro - Eu sei que ele não teve a intenção. - meus olhos se encheram d'água - Mas isso não muda o fato do meu aniversário de 15 anos ser o pior dia da minha vida... porque foi a pior  coisa que já aconteceu comigo, Abigail. - as lágrimas começaram escorrer pelo meu rosto, a medida que minha voz ficava ainda mais embargada - Não faço ideia de quantas pessoas me viram transando, eu estava completamente nua, tinha um pênis dentro da minha boca, depois esse pênis entrava e saia de mim e doía... doía muito, mas isso não importou, o que importa foi a quantidade de pessoas que viu isso acontecendo e - solucei - Foi de um ótimo ângulo, sabe? O Fred foi tão filho da puta que encontrou um ângulo perfeito ou nos posicionou para ficarmos naquele ângulo. - sequei as lágrimas  e respirei fundo - Isso aconteceu e nem tem como eu apagar, nem esquecer... e eu sei que o Dylan nunca quis me magoar, mas agora eu não paro de pensar que se ele não tivesse aberto a boca e dito nada sobre filmar aquilo... não teria acontecido.

Nem tudo é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora