Primeiro Capítulo
Arrisquei morrer no elevador
Huma
Cheguei, início da noite ao hotel, cansada de um dia cheio de reuniões. Mas feliz por ter conseguido ir a hora do almoço comprar um agrado para a minha afilhada, filha dos meus amigos. Um estojo de lápis de cor, canetinhas e livros de colorir. Essa garotinha, com seus olhos grandes de jabuticabas, conseguia de mim tudo que outras pessoas jamais conseguiam: minha atenção exclusiva.
— Renato, você trouxe minha boneca hoje? — perguntei, assim que cheguei ao bar, parte integrante do hotel.
— Boa noite, senhorita Humália, deseja uma bebida? — Fiz que sim com a cabeça. Ele abaixou o tom de voz e completou: — ela veio sim, mas está um pouco escondida, a senhorita não conhece como o senhor Medeiros é rigoroso quanto a presença de criança ou qualquer membro da família no horário de expediente.
— Ele dever ser um chato! Isso sim! Não conhece a estratégia de funcionário feliz, funcionário eficiente — falei, sentei na banqueta do bar. — Trouxe um presente que prometi para ela.
— Ai, ai, ai, Huma! Assim você deixa essa menina mal acostumada. Ela vai achar que pode ter coisas que...
— Deixa de besteira! — o interrompi — Não é nada demais. Ela adora desenhar e colorir. E essas coisas precisam ser incentivadas. — Aceitei a bebida que ele me ofereceu. — Depois, ela não pediu nada, eu que adoro enchê-la de mimos! Tenho que aproveitar enquanto posso e estou por perto.
— E os que chegam pelo correio? — perguntou, com um olhar inquisitivo.
— Senhor Renato, existem datas que infelizmente não posso ser presença e ela tem que ganhar o seu presente como toda criança. Sei que não me substitui, mas é uma forma dela saber que me lembrei dela e me preocupo. E para de ser um ranzinza e me deixe mimar minha afilhada!
Olhei ao redor e percebi a movimentação de pessoas, mais que o normal.
— Por que tanta gente por aqui hoje?
— Terá uma coletiva de empresa, daquele cantor coreano famosinho, toda equipe está hospedada aqui. Pelo que escutei vão ficar uns dias no hotel. Parece que vai gravar seu primeiro DVD ao vivo.
— Ah é? Não sabia.
— Não!? Está espalhado outdoor pela cidade e em tudo que é lugar só se fala disto... Só um minuto, me dê licença — Saiu apressado para atender uma mesa onde alguém o chamava com insistência.
Notei que, este rapaz, não tirava os olhos de mim desde o instante que sentei no bar. Meu celular tocou. Abri a bolsa e a tela mostrou o advogado da empresa em que eu assessorava. Por um segundo, hesitei em atender.
— Alô.
— Oi querida Huma, como é prazeroso escutar sua voz, — Revirei os olhos. — poderia dar-me mais prazer ainda em aceitar jantar comigo?
Pensei: — deveria ter seguido meus instintos e não atendido a ligação.
— Desculpe-me, Doutor Raul, mas estou no hotel e não tenho mais intenção de sair.
— Por favor, Raul, apenas para você, já não precisamos de formalidade... — Sabia que sorria torto para evidenciar o furo que tinha nas bochechas. — Aceito jantar no hotel, dizem que o chef é magnífico.
A Chef, corrigi mentalmente, porque a conhecia e sabia de sua competência.
— Não foi um convite. — Respirei cansada. — Vou fazer minha refeição no quarto hoje.
— Aceito de novo. — Deu outra risadinha, audível agora, para meu desprazer. — Será mais interessante...
— Então vou ser mais clara. Eu não quero jantar com você, nem aqui e nem lugar nenhum. Boa noite. — Desliguei o celular.
Uma coisa que eu não tinha era paciência com esse tipo de pessoa. Convencido por ser bonito, pegajoso e inconveniente.
Assim que joguei o celular dentro da bolsa ele começou a tocar novamente. Olhei e enxerguei a cara de pau dele na tela, o que me fez ignorar por completo o aparelho.
Voltei atenção para minha bebida e com o olhar varri o espaço à procura de Renato. Queria levar a sua filha comigo para meu quarto.
— Huma... Quero dizer, senhorita Humália, eu tenho um recado. — Estendeu um cartão.
— Pare de formalidade, por favor.
— Aqui dentro é melhor mantermos o padrão, você é uma hóspede. — Apontou o cartão.
— O que é isto?
— Um cartão e lhe trouxe um recado. Aquele rapaz — Apontou com a cabeça e eu olhei na direção. —, pediu para lhe convidar para um jantar mais tarde e que você ligasse neste número circulado.
— Essa é boa... Diga não! Obrigada. — Peguei o cartão, nem olhei o nome, voltei-o para o balcão e deixe-o de lado. — Quero levar a princesa comigo para o quarto, posso?
— O que digo para o rapaz... Ele espera uma resposta.
— Diga que eu disse não, ora essa.
— Mas é o senhor Kim Kwan.
— Quem?
— O Kim Kwan Koon.
— Nunca ouvi falar e nem estou interessada. — Acabei minha bebida e levantei. — Não me enrola Renato. Vai deixar-me levar a Bruna ou não?
Ele olhou para os lados e abaixou o tom em uma oitava.
— Josi a levará daqui a pouco.
Sorri para ele e virei para a saída.
— E o seu cartão?
— Jogue no lixo.
Meu olhar direcionou ao fundo do bar, neste instante encontrou um par de olhos pequenos e puxados, sorriso na boca e uma segurança de quem não está acostumado fiar sem respostas. Ele levantou sua bebida, eu não correspondi, apenas peguei minha bolsa e segui meu caminho. Era só o que me faltava, um advogado pegajoso e agora um hóspede abusado.
Ao atravessar o saguão de entrada, escutei alguém gritar algo indefinio, não meu nome, mas mesmo assim olhei de lado e vi o tal caminhar apressado em direção a saída do bar. E para não ter mais incômodo, dei uma corridinha e consegui entrar no elevador que quase fechava.
Apertei o botão para fechar a porta, mesmo vendo-o pedir para segurá-la aberta. Em câmera lenta, ela foi se fechando e ele quase alcançando o hall de entrada dos elevadores. Um grito ecoou atrás de mim, mas não fiz questão de olhar. Por alguns segundos, pensei em dar um tchauzinho,
Assim que o elevador se pós em movimento eu sorri. Então percebi as duas jovens que gritaram "nnnãããããooo" quando apertei o botão de fechar a porta. Elas disseram em uníssono, isso ao perceberem quem tinham pedido para segurar a porta. Suspiraram tristes ao dizer o nome do tal, para em seguida me fuzilar com o olhar e crucificar com reclamações, como se eu fosse uma bruxa horrível, ou algo pior. Por um milésimo de segundo, pensei ter visto duas caras de assassinas em minha direção. Tratei de desaparecer com meu sorriso de vitória e encarar os botões luminosos que pareciam, lerdos por sinal, ao trocar de números. Até que ele parou no meu andar e eu poderia sair.
E elas?
Em questão de um milésimo de segundo eu fiz uma oração, elas precisavam permanecerem lá dentro. Senão, eu nem sairia. A porta abriu e eu vacilei. Sair ou não?
Saí.
*****
E aí ficaram interessados?
Coloquem em sua biblioteca para ser avisado das postagens. Ele já está em reta final. Já tem 40 capítulos postado.
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Beijos .
Lena Rossi
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