Fica sentado em sua carteira, olhando para a frente, ouvindo os cochichos de Vinícius lá atrás.
– Malucas, ei, Malucas! Me mostra a sete!
Lucas abaixa o olhar novamente para a prova, para fingir que ainda está fazendo, que está concentrado e não escuta o colega. Já levantou discretamente a folha na questão dois, na questão três, e o moleque atrás continua pedindo cola, demorando para colar.
– Levanta de novo, não consegui ver! – cochicha. Vinícius deve estar precisando de óculos, ele tem mesmo aquele olhar, de quem está sempre forçando a vista, mas se assumir o problema vai perder sua aura de revoltz, né? Imagina só, Vinícius já usa aparelho, imagina com óculos na cara. – Ei, levanta mais! Não tô conseguindo ver!
– Lucas, Vinícius. – A professora lança olhares para eles. – Vão fazer a prova quietinhos ou vou ter de ir aí? – Droga. Ela não percebe QUEM é que está colando? Não sabe que Lucas não precisa disso? Ele está à frente de Vinícius, inclusive, não teria como se virar para trás e colar do colega. A culpa não é dele. Se ele tentar dar uma de migué e recusar dar cola, o moleque vai aloprar mais com ele na saída.
Vinícius sossega por um tempo. Lucas fica no tédio de esperar o sinal para poder levantar e entregar a prova. Droga, não podia entregar assim que terminar?, bem mais fácil, se a professora quer evitar cola. Lucas fica sentado, cabeça baixa, pensando em nada, tentando não pensar, tentando não deslizar o olhar para Nicolas, na fileira lá da frente. Hoje ele veio de bermuda. Lucas não pode deixar de reparar no tornozelo dele, na batata da perna, músculos definidos, uma penugem loirinha por cima... Ah, que ótimo, agora ele está secando a perna do colega. Lucas, quem você quer enganar?, ele pensa consigo mesmo. Você está secando a perna do seu colega!
Tá, mas não é desejo , ele se defende de si mesmo, é admiração . Ele não queria ter o menino, queria ser como ele. Forte, bonito, loiro. Bom, isso não é desejo da mesma forma?, Lucas argumenta consigo mesmo. Não, é inveja . Ah, como é difícil avaliar os próprios sentimentos. Ele é apenas ele mesmo, não pode entender o que se passa na cabeça dos outros, se é assim que se passa na cabeça dos outros, se é assim que se passa na cabeça de um gay!
– Malucas, o oito! – Vinícius cochicha alto demais e desperta Lucas de seus devaneios. A professora levanta novamente o olhar. O sinal toca. Ufa, salvo literalmente pelo gongo.
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Lucas e Nicolas
RomansaAparentemente, eles têm pouco em comum: Lucas não tem talento para o esporte, mas é um gênio na escola. Sua vida social é nula, mas nas redes sociais se vira bem; Nicolas é o fortão da turma, bonito, popular. Suas notas são vergonhosas, mas nos espo...