O som da arrancada que o carro deu reverberou nos ossos do corpo de Hannah Leminnier. O olhar fixo a paisagem a evitava que sentisse os enjôos que o automóvel, por vezes, lhe causava.
Dobraram à esquerda, na Rua Florença Rena. Daquele ponto, as batidas fortes e altas da música eram ouvidas.
O volante deslizou por debaixo dos dedos de Neil Leminnier enquanto ele passava para a segunda marcha e avançava com seu automóvel chamativo. Oh, céus, como ele amava tanto sua Lamborghini Diablo Preta; Neil a amava tanto que, sem pensar duas vezes, dispensaria até mesmo a melhor das modelos suíças apenas para conservar aquele estofado aveludado. Hannah, sentada no banco do passageiro, estava alheia ao olhar predatório que o primo lançava a algumas mulheres que andavam rumo a enorme mansão, poucos metros à frente.
Assim que estacionou o carro em uma das vagas reservadas a si, o rapaz colocou o carro em ponto morto, estalando os dedos das mãos finas ao recostar a coluna no banco do motorista.
— Se lembra do que não se deve fazer? — O timbre grave dele a trouxe de volta a realidade, saindo de seus pensamentos enevoados em dúvidas ao encarar o rosto do primo.
— Hm. O que disse? — Perguntou, franzindo as feições delicadas de seu rosto.
— Apenas perguntei se lembra das nossas regras de convivência em festas.
A mulher revirou os olhos. As regras de etiqueta da família Leminnier eram, num consenso geral, patéticas, machistas e retrógradas.
— Sim. — Respondeu vagamente. Levou a mão esquerda para abrir a porta do carro, porém ele a segurou fortemente pelo pulso.
Neil soltou um suspiro exasperado, uma prova de que ele reprimiu o temperamento agressivo.
— Preste atenção, eu falo sério quando digo que não quero ver você se agarrando com alguém nessa festa; já basta aquele papel ridículo que você fez nas férias. — O Leminnier mais velho a segurou pelo queixo, a puxando para si de uma forma bruta, roçando os lábios nos dela antes de retirar a chave de ignição do carro. — Pense no que seu pai iria achar em ver a protegida dele nos braços de algum garoto cheio de hormônios.
— Que tal pensar você no que sua falecida mãe acharia de você coagindo sua prima? As regras não se aplicam a você por quê? — Riu, resignada. — Você ter um pau por entre as pernas não te faz melhor que eu, Neil, e você sabe.
— A questão não é eu ser melhor que você, priminha. A questão é eu posso ser melhor que você, independente de ter um pau ou não no meio das minhas pernas. — Neil encarou os olhos acinzentados da prima. O rosto mudando em uma expressão de deboche escancarado. Ele roubou um último selinho dela antes de sair do carro sorrindo.
Ele deu a volta no carro e abriu a porta para a mulher, que aceitou de bom grado a mão que lhe foi estendida para ajudá-la a sair. Hannah abriu o melhor sorriso falso que pode e, vindo dela, pareceu apenas um sorriso gentil.
— Pois saiba que o que quer que você tenha aí no meio das suas pernas é tão insatisfatório quanto ouvir o som da sua voz. — Semicerrou os olhos para o primo antes de bater a porta do carro com força, rindo triunfantemente da cara furiosa dele.
Caminhou com passos rápidos e certeiros em direção a entrada da casa.
Ela era tão acostumada a sentir repulsa e antipatia ao primo que situações como essas eram incrivelmente banais, ao seu ver.
O cheiro forte de álcool que se desprendia dos adolescentes ali era surpreendente. Alguns deles já estavam debruçados sobre os joelhos, vomitando no gramado. Uma leve preocupação em relação a integridade de sua roupa de veludo lilás passou pela mente de Hannah. Quando finalmente conseguiu vencer a massa de corpos e adentrar a casa, se dirigiu para a pista de dança, torcendo que encontrasse algum rosto que lhe fosse familiar.
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O Caso Grobmann
Mistério / SuspenseDrama, dinheiro e luxúria são as coisas que regem Holloway a mais tempo do que qualquer morador local pode se lembrar. A rica e influenciadora Elite da cidade sempre teve seus favoritos - alguns mais do que outros. Dentre eles está Nigel Grobmann e...