07 | Nostalgia de Tempos Melhores

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A fumaça e o odor ocre envolveram seu rosto, nublando momentaneamente sua visão do pátio logo abaixo dele. Os dedos trêmulos seguravam o cigarro de maneira relutante. Seth imaginava que, a cada baforada, conseguia afastar a ansiedade acumulada em seu peito.

Desaparecido. A palavra ressoou em sua cabeça e sentiu seu peito martelar contra os ossos das costelas.

Ele não podia pensar que Nigel estava morto, que seu melhor amigo estava morto. Se eles fossem normais, se não fossem filhos de quem eram, quem sabe ele poderia estar morto. Mas eles eram da elite. Eram filhos de magnatas, prefeitos, governadores e novos renomados da moda e das relações públicas. Nigel Grobmann definitivamente não estava morto.

Seth tragou novamente, lento, profundo e sentiu a fumaça arder nas narinas. Era difícil manter seus pensamentos afastados da situação, da avalanche que pertubaria seus sonhos essa noite. Seth Noguchi não aceitava a perda. Não imaginava a ausência de alguém desde a infância.

Bateu com os dedos no filtro do cigarro e deixou as cinzas caírem no chão do corredor do terceiro prédio, normalmente abandonado essa hora. Assim que ouviu a notícia do desaparecimento, se levantou e saiu do ginásio o mais rápido que suas pernas conseguiam.

Talvez Seth tivesse um problema maior com o abandono, talvez a confiança seja uma falha dele que era tão bem entrelaçada que o causava um pânico absurdo. A lembrança da morte da mãe dele foi avassaladora em sua mente, recente e fresca como se tivesse voltado aos seis anos novamente.

Ele levantou a mão e tocou a cicatriz debaixo do queixo involuntariamente com a ponta dos dedos. Se ele tivesse desviado os olhos do videogame será que...

— Ah, te achei. — Uma mão apertou seu ombro e ouviu um sorriso na voz do amigo. Seth revirou os olhos ao se desvenciliar do toque.

— Não estava escondido. — Ele jogou o cigarro no chão e apagou com a sola do sapato, abrindo o maço e conferindo a quantidade de cigarros, evitando soltar um murmúrio irritado quando percebeu ter apenas dois restantes.

Vaughn riu e gesticulou com a mão para Seth acompanhá-lo pelo corredor.

— Não imaginava que você sairia daquele jeito, sabe? — O semblante brincalhão dele sumiu ao olhar para Seth e Seth desejou tirar o olhar que Vaughn redirecionava a ela; pena e receio.

— Não foi nada — Acelerou o passo, desviando os olhos para as janelas na parede. —, me cansei da voz de vedete eufórica da diretora.

Ele deu de ombros e olhou para o amigo que estava com os lábios franzidos, mas Vaughn balançou os olhos e deixou de olhar para Seth.

— Você sabe que assim... — Vaughn limpou a garganta e escondeu as mãos nos bolsos traseiros da calça. — Hm, eu te considero pra caralho, né? Amigos mesmo. Você pode conversar comigo se isso está te atrapalhando ou-

Seth ergueu a mão para calá-lo e parou no corredor.

— Sim, Vaughn, mas não quero a preocupação de ninguém sobre como eu me sinto. Isso cabe a mim e a mim somente.

Ele passou a língua pelos lábios, prendendo o que queria falar de verdade. Não quero sua preocupação, não quero me sentir bem com sua preocupação ao meu respeito e muito menos quero sua ajuda para fazer com que me abra para você.

— Nigel está bem e não preciso surtar com algo simples assim. — Seth mal percebeu quando pegou o penúltimo cigarro, a outra mão tirando o isqueiro azul metálico do bolso do blazer. — Deixe os surtos para Lily ou para Kayden e eu me preocupo em castigar quem sequestrou ele, ou algo do tipo.

O Caso GrobmannOnde histórias criam vida. Descubra agora