04 | Desavenças e Inseguranças

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Abriu os olhos um segundo antes do despertador tocar. O final de semana de Lily passou tão rápido entre idas e vindas do quarto do hospital em que Gavin estava que demorou para raciocinar que hoje seria o primeiro dia de aula após os recessos.

Segundas-feiras eram os dias que Lily Ivy mais odiava porque significava recomeços e inícios de algo, por mais que domingo seja o dia inicial da semana, é apenas nas segundas que você realmente tem que fazer alguma coisa.

Afastou os lençóis de seda macia e andou até o banheiro acoplado de seu quarto. Fechou os olhos brevemente ao acender as luzes do banheiro, iluminando azulejos branco-gelo por todo o cômodo. Ligou a água quente da banheira e se encarou no espelho enquanto esperava a banheira se encher.

As bochechas estavam mais acentuadas que o normal, e isso deixou Lily feliz. Em contrapartida, a pele pálida demais a incomodou. Não gostava do jeito que sua pele contrastava com os olhos azuis dela.

Em sua cabeça, Lily Ivy Grace Yannack era adolescente demais, simples demais, sem graça demais. Relaxou os ombros e suspirou, passando as mãos nos longos cabelo loiros. Talvez Lily nunca conseguiria ser tão bonita quanto a mãe, afinal.

Entrou na banheira e deixou a água quente relaxar seus músculos, tentando afastar a mente com a preocupação sobre o estado de Gavin e depois, claro, afastar os pensamentos que envolvia Nigel, seu ex-namorado burro demais por ter terminado com ela.

Quando acabou o banho, abriu o ralo e saiu da banheira, enrolando-se numa toalha felpuda roxa e rumou ao quarto. Sentou em frente a penteadeira estilo camarim dos anos cinquenta e ligou as luzes. A luz amarela iluminou a pele alva e Lily fez uma careta.

Passou corretivo, pó, blush, rímel e bastante gloss rosa, nessa ordem. Ficou indecisa entre fazer as sobrancelhas ou não, mas se deixou levar pela preguiça e decidiu deixar a sobrancelha falhada, por uma cicatriz que adquiriu quando era criança, do jeito que estava.

Caminhou para o grande closet preto, arrastando a porta com um espelho grudado nela, que ocupava praticamente toda a extensão da porta. Tirou o uniforme preto e vermelho de dentro dele. Depois de colocar sua roupa íntima, deslizou a saia preta de lã plissada pelas longas pernas, em seguida abotoou toda a blusa branca e puxou a porta do closet para ver seu reflexo.

Os joelhos dela estavam russos e Lily anotou mentalmente para passar hidratante. Os olhos pairaram nos botões vermelhos de sua blusa e ela inclinou a cabeça para o lado, indecisa. Decidiu abrir os dois primeiros botões, pegou o blazer preto e vermelho e saiu do quarto.

A primeira voz que ouviu foi de seu irmão, alta e grave logo no fim da escada. Abriu um sorriso e desceu correndo as escadas. Lionel retribuiu o sorriso assim que a viu e abriu os braços, abraçando Lily assim que ela se jogou em seus braços. O cheiro de seu irmão, de frutas silvestres e canela, estava forte e Lily percebeu quanta falta sentia dele.

— Por que não me disse que vinha? — gritou de felicidade para ele ao se afastar. Lionel deu de ombros e gesticulou com a cabeça para a sala de jantar.

— Café da manhã já está na mesa. Vai que eu vou logo depois, só tenho que falar com a Sylvia primeiro. — Lily assentiu e foi para a sala de jantar com um sorriso nos lábios.

Sylvia era a governanta da família Grace fazia anos, antes mesmo de Lionel nascer, antes mesmo do pai deles pertencer, momentaneamente, aquela casa.

A mãe de Lionel e Lily estava sentada na cadeira do meio da longa mesa de vidro polido. Os cabelos loiros cortados na altura dos seios estavam jogados para o ombro esquerdo. Os olhos castanhos estavam concentrados no jornal em suas mãos, e, conhecendo a mãe que tem, Lily presumiu que estava lendo a coluna sobre moda.

O Caso GrobmannOnde histórias criam vida. Descubra agora