05 | Descontrole Loiro

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Theodora Mortmain soube que o dia seria uma desgraça assim que acordou com a aranha de estimação da colega de quarto andando em sua perna, logo pela manhã. E, agora, estirada no meio da calçada com sua bicicleta prateada amassada e torta, o joelho e as mãos raladas, ela soube que estava certa.

          — Meu Deus, menina! Você passou tão rápido que meu velho olho não te enxergou! — O velho motorista se apressou em ajudar Theodora a se levantar. Ela cerrou o maxilar para ignorar a dor latente em seu joelho e abriu um sorriso estranho para o motorista, que deveria ser um chofer pelo carro e pelo o terno que ele usava.

          — Tudo bem, sério, acontece. O problema mesmo é minha bicicleta, eu não tenho outra e...

          —  O que aconteceu, Fred? — O timbre grave que ela reconhecia se pronunciou. Neil abriu a porta do carro e se levantou, a porta em sua mão. O sorriso se anunciou em sua face ao reconhecer a menina ao lado do chofer. — Ah, Theodora.

Puta que Pariu, Theo praticamente gritou em sua mente. Foda-se a bicicleta, ela iria andando para a escola e resolveria depois. Deu um passo para o lado e sentiu a ardência no joelho aumentar, mas ignorou. Era atleta, arranhões e machucados eram parte do dia a dia, mas quando ela deu outro passo teve que reprimir um grunhido de frustração. O joelho doía muito.

          — Tudo bem, menina? — Fred se aproximou dela com cuidado. — Deu um jeito no joelho, hein? Eu insisto que você entre no carro e eu posso te levar aonde você tem que ir depois de deixar o senhor Neil e sua prima na escola. — O chofer disse, dando um olhar de soslaio para Neil, aguardando uma aprovação ou reprovação dele.

          O rosto de Neil estava estampado com um divertimento sádico quando disse: — Não se preocupe, Fred. Theodora, entre aqui comigo.

Ele se afastou do carro e andou em direção a Theodora e afastou os longos cabelos do ombro, o oferecendo para ela se apoiar. O sorriso branco não saía de seu rosto.

 — Eu sei que isso te diverte, seu sádico. — Ela sussurrou apenas para ele ouvir ao mancar até o banco de trás da limusine.

              — Estou aproveitando o momento, eu diria. — Neil piscou para ela e a colocou dentro do carro, com um cuidado suspeito.

Assim que ela se acomodou, tomou um susto com a adolescente sentada na outra extremidade do banco. Ela olhou a menina da cabeça aos pés, desde a tiara rosa bebê que ela usava nos cabelos negros até as sapatilhas brancas adornadas por pedras brilhantes.

Neil fechava a porta e respirava profundamente, abrindo um sorriso convidativo para Theodora. Theo apontou com o olhar para a menina e Neil entendeu o que ela quis dizer.

          — Theo, essa é minha outra prima, Hailey. Hailey essa é a Theo, Theo Hailey.

          Theo acenou com a cabeça para Hailey mas a menina apenas ergueu os olhos do celular para ela.

              — Namoradinha nova, primo? — A mais nova estudou o rosto de Theodora. — Tirando as bochechas, até que é bonitinha. Não se preocupe, docinho, ele se cansará de você antes do segundo tempo.

          Hailey apertou a mão dela em uma demonstração de falso conforto. Quando ela sorriu, Theo contemplou o mesmo sorriso debochado de Neil em seus lábios. Maldito gene familiar.

            — Como é?

Hailey ergueu as sobrancelhas e virou a cabeça para Neil, falsa confusão em seu rosto.

          — Anda saindo com surdas agora?

Theo perdeu a fala, se perguntando que espécie de família era aquela. Neil gargalhou, a risada rouca reverberando pelo corpo de Theodora, aumentando sua raiva.

O Caso GrobmannOnde histórias criam vida. Descubra agora