03 | Mustang Escarlate

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Depois que ajudou a garota que caiu por acidente na piscina e abriu as portas para que os socorristas pudessem levar Gavin na ambulância, Nigel se permitiu respirar. Ele estava confuso e com uma garrafa de licor de maracujá nas mãos.

Nigel Grobmann parou e analisou o hall de entrada da sua casa, olhando para o restante de adolescentes bêbados que ali ficaram após o acidente de Gavin e de Theresa. Não, Theresa não. Theodora. Os grandes portões da sua mansão eram brancos com pilares lustrosos sustentando o teto de vidro da entrada.

Era lindo. Sua casa, sua família, seus amigos, suas festas. Ele era lindo. Mas, de uns tempos para cá, algo não estava certo com ele. Ele tinha tudo o que os rapazes do colégio querem. Nigel tinha tudo que a porra de um universitário quer. Amizades, riquezas, influência, um talvez novo namoro a frente? Ele não sabia dizer.

Nigel apertou a ponte do nariz depois de dar um longo gole no licor. Assim que abaixou a garrafa e olhou para os céus, sentiu a vista embaçar ao tentar focar nas estrelas no céu noturno.

As estrelas em Holloway City eram mais brilhantes que qualquer um das centenas de milhares de cidades que Nigel já visitou com sua família. Ele amava o céu, os astros, as estrelas. Mas, por causa dos olhos dela, contemplar o brilho das estrelas doía sua vista. Doía seu coração.

Andou sem rumo para os portões de saída da mansão, as lágrimas ameaçavam escorregar pela face quente pela bebida. Nigel se sentou na calçada e apoiou os braços no joelho, as mãos segurando a cabeça. Porra, Hannah.

Inferno de mulher, o demônio com a graça angelical mais lindo que os olhos azuis já puderam contemplar.

A festa era dele - tudo aquilo era dele e ele merecia tudo ali depois do ano horrível que ele teve -, então por que ele se sentiu tão angustiado, com o coração em pedaços e bêbado demais para conseguir se impedir de fazer algo que ele se arrependeria?

Deu um longo gole, o líquido doce mal ardia na garganta. Abaixou a cabeça e se permitiu chorar ali, sentado na calçada, suado e destroçado por uma mulher que ele mal sabe se o quer. Nigel Grobmann era uma decepção.

- Dia difícil, camarada? -Alguém se sentou ao seu lado na calçada. O cheiro forte de perfume pinicou o nariz de Nigel.

A voz dele era familiar, o lembrava a alguém... Sim, com certeza era ele.

- Como me encontrou aqui, Seth? - A voz esgarniçada de Nigel incomodou o ouvido do rapaz. - Eu... - soltou uma risada meio grogue - Eu não enxergo seu rosto bonito agora, Seth. Eu não consigo enxergar esses seus olhinhos de noite serena, Estrelinha.

Nigel riu ao dizer o apelido que irritava Seth, esperando para receber um estalar de língua no céu da boca costumeiro do amigo. Nada veio. Nigel deu de ombros e deixou a tristeza o agarrar novamente.

- Não sou o Seth, mas você me conhece. Não presta muita atenção em mim, não deve me achar uma ameaça em potencial para você, não é? Não sou assustador o suficiente, não é? - Nigel semicerrou os olhos para o rapaz, forçando o cérebro a acompanhar e assimilar as palavras que ele dizia.

- Cara, eu não to entendendo porra nenhuma desse papo seu. Assustador? Alguém andou te assustando, Seth? - Ele mudou a posição na calçada, derrubando a garrafa de licor em sua mão.

- Você realmente está mal, né? - O rapaz riu, achando graça da ingenuidade e vulnerabilidade de um Grobmann a sua frente. Fácil. Fácil demais.

- Eu- Sim, idiota. Eu estou completamente mal. Ela me deixou, tipo, como ela faz isso comigo, Seth! -Nigel começou a gritar, o que apenas incomodou ainda mais o rapaz. A voz dele estava confusa e dificil de compreender, mas o rapaz não dava a mínima.

O rapaz misterioso revirou os olhos ao se por de pé e esticar a mão para Nigel.

- Anda, vamos. Te levarei para um lugar legal e você me conta sobre seus problemas amorosos.

- Lugar legal? Seth, eu não quero ir num bordel agora, cara...

- Deixa de ser idiota, levanta logo! Não vou te levar para bordel algum.

Nigel segurou a mão dele e se ergueu com dificuldade. As pernas bambas e, devido ao estado de embriaguez dele, Nigel achou engraçado o tamanho de suas pernas.

- Hmm, suponho que vamos a lanchonete tailândesa! - Ele abriu um dos sorrisos espontâneos, cheio de dentes e brilhante demais. O rapaz apenas se sentiu mais enraivecido.

- Sim. - O rapaz disse entredentes

O rapaz tirou a chave do carro do bolso e apertou o botão para desativar o alarme. Assim que ouviu o barulho da porta do carro se abrindo, Nigel gelou. Seth Noguchi odiava carros, principalmente se fosse um Mustang vermelho, a favorita de seu pai. Como um cãozinho confuso, Nigel olhou para o rapaz e forçou o olhar para o rosto para ele.

Ele sentiu a base dos joelhos tremerem ao perceber que aquele não era seu melhor amigo. Não, aquele era o...

O rapaz lhe acertou um golpe ao lado da têmpora e ele quase caindo no chão. O conhecido pegou Nigel e o empurrou de qualquer jeito dentro do banco traseiro dele, se garantindo com o soco que deu no menino.

Deu a volta no carro e se sentou no banco do motorista, a porta batendo ao mesmo tempo que um dos diversos cliques da câmera fotográfica soou atrás dos arbustos. O fotógrafo se escorou atrás das plantas quando carro vermelho acelerou pela rua, sumindo na longa avenida a frente. Tirou a foto recém revelada da polaroid, agitando o negativo para que a foto aparecesse mais rapidamente, um antigo hábito. Ele estudou as fotos, uma por uma, esquadrinhando o corpo masculino. Seja lá quem seja o fotógrafo, ele é a única pessoa que tem os registros do sequestro do famoso Nigel Grobmann.

O Caso GrobmannOnde histórias criam vida. Descubra agora