capítulo 16

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Um dos motivos pelos quais Eddie Vedder nunca tinha se interessado com muito afinco pelas drogas era porque a sensação que todas as pessoas buscavam com as substâncias, ele encontrava através da música e principalmente quando era ele quem cantava. Todo o "barato" que seus amigos relatavam, toda a adrenalina, toda energia, tudo isso ele conseguia sentir quando estava em cima de um palco performando e vendo pessoas cantando suas canções. Se sentia quase que super poderoso, como se não houvesse nada no mundo capaz de abatê-lo e a autoconfiança o fazia acreditar que era invencível. Por vezes a adrenalina era tão grande que não conseguia conter a vontade de pular, de subir as estruturas de iluminação ou até mesmo de se jogar nas pessoas para sentir aquela energia mais de perto.

Eddie costumava brincar ao dizer que a música era sua heroína, portanto, não era tão difícil de visualizar o quão fodido ele estava se nem mesmo a música parecia ser capaz de animá-lo. Os dias que se seguiram ao término com Anna foram de sentimentos conturbados que oscilavam entre a raiva, a mágoa, arrependimento, tristeza e saudade. Variava entre essas sensações as vezes com uma velocidade que seus amigos não conseguiam acompanhar.

Raiva de Theo, raiva de Anna, raiva de si mesmo... As vezes até mesmo raiva de Beth, mesmo sabendo que não era culpa dela. Mágoa por Anna estar sendo irredutível terminando um relacionamento tão bonito com base em algo tão bobo e facilmente superado, mágoa por ela não parecer arrependida, por não ligar, por não dar o braço a torcer. Arrependimento por não ter insistido mais, por não ter impedido que ela fosse embora de sua casa, por não ter contado a Beth que estava namorando, por ter usado ecstasy na frente da namorada. Tristeza porque não conseguia projetar como seria sua vida se aquela briga continuasse, tristeza por pensar que estavam desperdiçando o tempo que tinham juntos antes das turnês começarem, tristeza por não conseguir mais tocar... E saudade, porque embora todos esses sentimentos fossem intensos em seu coração, nenhum deles superava a vontade que ele tinha de estar com Anna novamente, inebriado em seu cheiro e embalado em seu abraço.

Foi quando a saudade começou a se tornar insuportável que, uma semana depois, Eddie resolveu desistir de tudo e levantar a bandeira branca.

- Chega, que se foda essa merda toda, eu vou atrás dela - Eddie disse largando o microfone no meio da música.

Os outros rapazes da banda pararam de tocar seus respectivos instrumentos e encararam o amigo como se não acreditassem.

- Cara, não sei se alguém te falou, mas a gente tá no meio de uma gravação - Stone pareceu exasperado, mas Eddie não deu a mínima. Apenas pegou sua jaqueta e rumou para fora do estúdio.

Se nem mesmo a música, se nem mesmo a perspectiva de tocar estava conseguindo distraí-lo, então Eddie sabia que estava com um problema sério. Estava sendo consumido pela ansiedade e dia após dia sentia que iria definhar se continuasse daquela forma, ainda mais por um motivo que considerava reversível. Eddie não tinha o menor problema de dar o braço a torcer para pedir desculpas, mas ainda estava magoado e envenenado por ter presenciado a cena de Anna aos beijos com Theo Donnovan, então por mais arrependido que estivesse se sentindo, ainda queria que ela fosse a primeira a ceder porque ela não tinha feito nenhum esforço para se justificar e beirava a hipocrisia reclamar tanto por ele ter omitido coisas, se ela também tinha feito isso, se ela não tinha inclusive evitado o beijo do professor.

Mas nada disso era maior do que a saudade que sentia dela.

Há uma semana a Pearl Jam passava quase que dez horas por dia dentro do estúdio de gravação e por isso não precisavam mais fazer ensaios na garagem de Stone, o que acabou por ser uma coisa boa porque se tivesse que frequentar a rua de Anna teria cedido muito mais cedo. Não tinha tempo de ir até a livraria e se controlava o máximo para nem passar próximo do ateliê para não correr o risco de quebrar a cara de Theo, por isso uma semana havia se passado sem o mínimo sinal de Anna. Ela até tinha ido a sua casa buscar o resto das coisas e na ocasião ele estava tão miserável que nem quis vê-la, mas não acreditava que ela realmente estivesse fazendo isso... Aquela briga já tinha ido longe demais.

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