capítulo 3

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[TW: Esse capítulo aborda consumo de drogas]


Um mês se passou tão tranquilamente que Anna começou até a acreditar que sua vida poderia ser fácil de ser vivida, uma vez que estava tão bem estabelecida em Seattle. As primeiras semanas foram as mais difíceis, não que alguém tivesse percebido, mas foram as responsáveis por acordá-la em pesadelos na madrugada. Pesadelos esses que quase sempre envolviam a aparição repentina de sua mãe arrastando-a pelos cabelos de volta para Phoenix e para o lugar de onde ela tinha fugido. Mas depois de dias seguidos sem um sinal sequer da progenitora e sem nenhuma outra ligação para saber do seu paradeiro, Anna começou a acreditar que finalmente poderia ter uma vida.

Seguindo a indicação de Eddie, ela passeou pela cidade em busca da tal livraria que estava aceitando ajudantes e ficou encantada com o lugar. Pessoas passavam por lá todos os dias para alugar livros ou sentar tranquilamente para ler nas mesas próximas as vidraças que davam visão para rua. O dono da livraria era um senhor meio ranzinza que foi conquistado quando Anna começou a divagar sobre Bukowski e a olhar sonhadora para os livros empoeirados pensando em como se divertiria limpando as prateleiras e conhecendo novos títulos.

Com o trabalho de meio período na livraria, Anna tinha as tardes livres para passear pela cidade, desbravando novas localidades e respirando o ar puro e salgado de Seattle como se estivesse vivendo um sonho. Vez ou outra sentava em algum banco de praça para escrever ou simplesmente frequentava a praia que Eddie a levara na festa pós show da Mookie Blaylock. Gostava de sentir os pés na areia e sorria ao visualizar a imensidão do mar azul mais do que ocasionalmente percebendo seu pensamento traiçoeiro levando-a diretamente para a lembrança da primeira vez que estivera naquele lugar.

*

- O que foi? - Eddie perguntou e Anna sorriu aproximando-se um pouco mais.

- Estou aqui me perguntando se eu faço mesmo o exato tipo do vocalista - Anna brincou usando as palavras que Eddie dissera na noite anterior. Ele soltou um riso nasalado.

- A pergunta na verdade deveria ser: o vocalista faz seu tipo? - Eddie retrucou e Anna sorriu colocando as mãos em volta do pescoço dele.

- Ele faz meu exato tipo - Ela respondeu antes de selar seus lábios aos dele sem cerimônias, estava ansiando por sentir a textura dos lábios deles aos seus desde a primeira vez que se viram e a julgar pela rapidez com a qual Eddie correspondeu ao beijo, essa era uma vontade recíproca.

Eddie foi gentil ao repousar as mãos sob o corpo de Anna, uma delas a abraçando pela cintura e a outra repousando em sua nuca, deixando o polegar acariciar zelosamente a bochecha da garota que suspirou entre o beijo, dando passagem para que suas línguas se encontrassem e se conhecessem em movimentos cautelosos a medida que progressivamente iam percebendo o quanto tudo aquilo encaixava, ainda que fosse a primeira vez.

Fazia muito tempo desde que Anna tinha beijado alguém, deveria ser por isso que suas mãos suavam e seus joelhos tremiam. Culpou a falta de prática e o possível excesso de cerveja no embrulho do estômago a medida que a boca de Eddie moldava-se tão bem a sua, não encontrando dificuldade em se imaginar tão rapidamente viciada naquele beijo que nem bem tinha acabado e ela só conseguia pensar em quando o repetiria novamente.

Um selinho foi aplicado em seus lábios quando o beijo perdeu a velocidade para que recobrassem respirações e ao abrir os olhos, Anna sorriu para os olhos azuis que a encaravam com atenção, camuflando um sorriso tímido que ela já estava se descobrindo gostar.

- Então o seu tipo é vocalista de banda de rock, entendi - Eddie brincou para afastar o característico constrangimento pós beijo.

- Vocalistas que cantam músicas profundas, dançam feito loucos no palco, mas são tímidos e fofinhos fora dele - Anna retificou e Eddie riu revirando os olhos.

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