Capítulo 1

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Hidden Note

MIRANDA ON


Mais uma sexta-feira infernal. A semana pós-Paris é uma das mais estressantes do ano. Minhas filhas se preparam para mais um final de semana com a avó e eu estou ansiosa para  finalizar o meu dia, para que eu possa mergulhar na minha banheira ao som de algum jazz, bebericando um copo de martini.

Miranda- Andrea.

Minha assistente, com o mínimo de potencial para sobreviver nesse mundo, se apressa e para diante de mim com o bloco azul de notas. Usando um terno feminino Valentino na cor preta e por dentro uma camisa social semitransparente. Desde o meu "momento" de franqueza em Paris tenho enxergado Andrea um pouco mais Interessante.

Andrea olha para o bloco de notas aguardando as minhas ordens.

Miranda- Vá até o departamento de artes e peça que Nigel venha até aqui. Traga dois cafés, um para mim e outro para ele. Isso é tudo.

Andrea- Sim, Miranda.

Minutos depois, Andrea vem acompanhando Nigel e eles param o que quer que vinham conversando quando surgem no corredor de frente a minha sala.

Nigel- Pois não, Miranda?

Miranda- Retire-se e feche a porta quando sair, Andrea.

Ela me entrega o café e Nigel já beberica o seu.

Andrea fecha a porta e eu encaro o homem a minha frente.

Miranda- O que isso significa?

Lhe entrego a folha assinada por ele.

Nigel- É exatamente o que está escrito, Miranda. É a minha carta de demissão.

Miranda- Tudo isso por causa do que aconteceu em Paris?

Ele bebe mais um pouco do seu café.

Miranda- Nigel...

Nigel- Miranda, essa carta de demissão é sim por causa do que NÃO aconteceu em Paris. Mas não é só por essa razão.

Miranda- E qual mais seria?

Nigel- Eu sou um profissional altamente competente. Trabalho ao seu lado por muitos e muitos anos. Tenho demonstrado a minha fidelidade em seus assuntos pessoais e profissionais. Tenho estado nos corredores da Runway mais do que dentro do meu apartamento. Por todos esses anos eu vivi aqui dentro, acreditando que um dia o sacrifício da minha vida pessoal valeria algo.

Ele me encara e antes que eu possa sequer formular uma frase ele continua.

Nigel- Estive diante de uma grande oportunidade profissional. Antes que qualquer possibilidade surgisse, vim aqui na sua sala e diante de você expus o meu desejo de aceitar tal proposta. Você, com toda a sua elegância, respondeu-me positiva. Disse que eu sou um profissional invejável e que qualquer um estaria honrado por me ter na equipe. Uma semana exatamente após a nossa conversa, o seu egoísmo e sua prepotência, agregados ao prazer de estar intocável a fez passar por cima de mim. E eu entendo. Infelizmente eu entendo o seu lado. O seu cargo estava correndo perigo e você deu um passo à frente, resolveu a situação. Mas não tente me convencer que devo ficar feliz por você, pois isso jamais acontecerá.

Miranda- Eu fiz o que precisava ser feito, Nigel. Sabe muito bem disso. Se Jackeline tivesse ascendido na Runway, você seria o primeiro a ser posto para fora. Havia um complô. Não era só o meu cargo que estava em jogo, mas o de todos. A revista sofreria um golpe irrecuperável.

Nigel- Você é implacável quando quer ser, ou seja, sempre. Tenho plena consciência de que eu não sou importante o suficiente para que você sacrificasse o seu cargo por mim. Não tenho essa ilusão. Mas você me devia um pouco de dignidade, Miranda. Você já havia movido todas as peças do seu jogo e me deixou à deriva. E eu, acreditando que eu estava navegando em um mar azul, quando na verdade eu já estava fora da embarcação. Deveria ter tido o mínimo de consideração por mim ou pela nossa "amizade" e ter me dito o que estava acontecendo. Eu fiquei ali sentado, diante de toda a situação, sorrindo e aplaudindo pateticamente Jackeline Foullet ser aclamada no meu lugar. Ainda me pergunta o que é isso?

Hidden NoteOnde histórias criam vida. Descubra agora