10°

747 56 2
                                    

Cristian conseguiu raciocinar rapidamente e convidou Isadora para ir até a pracinha do condomínio, falando que achava que estavam doando filhotes lá. A menina foi, mesmo que relutante, pois queria ficar e conversar com o novo amigo.
Dulce permanecia em silêncio, falou apenas para se despedir da filha e pedir que a mesma tivesse cuidado com as brincadeiras na pracinha.

Assim que os dois estavam sozinhos, Christopher quebrou o silêncio.

- Eu vi você no hospital. Eu trabalho lá... - falou baixo.
- Ah, é a minha mãe... ela está lá. Tem câncer. Está em estado terminal. - respondeu e pela primeira vez olhou aquele par de olhos que até o nascimento da filha era o seu favorito no mundo.
- Sinto muito. Se tiver algo que eu possa fazer por ela, por favor me avise.
- Obrigada. - sorriu levemente e desviou o olhar.
- Dulce... a Isadora...
-  É minha filha. - respondeu seca. Sabia onde ele queria chegar.
- Porque ela se parece comigo? - perguntou no mesmo tom que ela.
- Você tá falando sério, Christopher? Por favor! - vira as costas e ele a segura pelo braço.
- Porque a sua filha se parece comigo? - rosna segurando o braço de Dulce.
- Me solta. Você tá apertando o meu braço. - ele a solta rapidamente.
- Ela é minha filha?
Dulce fica em silêncio e os olhos cheios respondem o que Ucker perguntou.
- Caralho, Dulce, ela é minha filha. - afirma.
- Não. - os olhares se reencontraram. - Sim. - confessa e olha pra baixo ainda próxima o suficiente para sentir a irritada respiração dele.
- Porra! - se afasta dela e se encosta na parede para não cair. - Eu tenho uma filha. Você... porque você...
- Você foi embora pra Boston. Eu vim contar. - ela responde sem controlar as lágrimas.
- Mentira! Eu levei duas semanas esperando você. Igual um idiota.
- Minha mãe me levou pra Milão, sem celular, sem internet, voltei um mês depois. Você já tinha ido. Sem ao menos deixar um número de telefone.
- Porque? - Ele tinha um misto de mágoa e raiva no olhar. Não queria ouvir as desculpas de Dulce.
- Ela queria que eu tivesse abortado... me levou pra longe de você. Eu precisei proteger a minha filha.
- Porque você não me contou que eu sou pai? - gritou se aproximando novamente dela.
- Porque você não estava mais aqui! - o encarou e gritou.
- Foda-se! Você tinha que ir atrás de mim. Eu tinha o direito. Ela tem o direito de saber que tem pai... porra!
- Eu tentei ligar, eu vim atrás de você, eu mandei e-mails diariamente por dois anos! - gritou chorando e ele a observava em silêncio. - Dois anos Christopher. E você vem me falar em direitos?

Ele fica em silêncio e a encara ao notar que ela tremia.

- Eu vou embora. Eu preciso... preciso ficar sozinho. - ele a olha uma última vez e avisa. - Eu vou querer ver ela.

Nossa menina - VONDY (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora