727 48 4
                                    

Isadora, como Dulce preveu, não ligou muito para a cor pálida de Blanca, muito menos para todos os aparelhos ligados à avó ou a traqueostomia em seu pescoço.
A menina estava sentada de pernas de índio nos pés da cama de Blanca. Dulce as observava da poltrona ao lado da cabeceira.

- Você é linda. - Blanca disse segurando as mãos da neta.
- Obrigada. - Isa sorriu docemente. - Você também é linda.
- Oh querida. - A mulher, mesmo fraca, sorriu com lágrimas nos olhos. - Estou tão feia.
- Não está não. - Levantou o pequeno indicador. - Podemos comprar um cabelo rosa pra você. Vai ficar ótimo.

Dulce e Blanca sorriram da doçura de Isadora e se olharam.

- Você fez um excelente trabalho. Sua filha é um anjo. - Blanca disse olhando Dulce.
- Ela é. Não imagino como seria minha vida sem ela. - falou e logo se arrependeu ao ver a mãe fechar os olhos. Sabia que Blanca se culpava, agora mais do que nunca, por ter pedido que a filha realizasse um aborto.

- Vovó, você gosta de batata frita? É minha comida favorita. - Isa perguntou, quebrando o clima pesado.
- Eu amo batatas fritas. - a mulher sorriu, voltando a observar a menina.
- Quando você sair do hospital, podemos comer muitas batatinhas juntas.
- Claro que podemos! Desde que eu esteja com a peruca rosa que você me prometeu.
- Combinado. - Isa tocou a mão frágil de Blanca como acordo.

Blanca e Dulce sabiam que o "sair do hospital" talvez não ocorresse, e sabiam também que Blanca odiava batatas fritas, Dulce nunca esquecia de quando sua mãe a encontrou no shopping com Christopher comendo batatas fritas e a fez ficar uma semana em dieta restritiva para compensar as calorias ganhas.

- Bom... eu duvido que a nutricionista do hospital deixe sua avó comer batatinhas fritas hoje, Isa. Mas acho que posso conseguir uns moranguinhos pra vocês lancharem. O que acha? - Dulce perguntou.
- Acho... - olhou Blanca que sorria positivamente. - Que simm! - respondeu animada.

Dulce então pediu a nutricionista que mandasse alguns morangos picados, para que a mãe pudesse comer, e pudesse ter o momento de lanchar com a neta pela primeira vez.
As duas se divertiram lanchando juntas, e Dulce apenas observava. E mais uma vez não podia deixar de pensar como tudo teria sido se sua mãe tivesse a apoiado desde o início.

- Obrigada Dulce, por me proporcionar esse momento com minha neta. - Blanca sorriu ao se despedir.
- Não precisa agradecer. Ela também gostou muito. Nós vamos voltar mais vezes.
- Obrigada. Espero que um dia vocês me perdoem pelo que fiz.
- Mãe... está tudo bem. Fica bem.

Logo se despediram, pois a enfermeira estava na porta informando que o horário de visitas havia acabado.

Nossa menina - VONDY (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora