Capítulo 1

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MEU TELEFONE TOCOU.


B: Saio do trabalho em vinte minutos.


Coloquei o celular no silencioso, ignorei a mensagem de Blake e voltei meufoco para Alli. Ela colocou uma mecha dos seus longos cabelos castanhos atrás daorelha e continuou atualizando a equipe quanto às estatísticas semanais da nossastartup virtual, o Clozpin. Ouvi atentamente, feliz por tê-la de volta no time.Alli havia voltado a Boston há poucas semanas, mas estava finalmentedividindo uma cidade e um apartamento com Heath de novo. Heath estava feliz,ela estava feliz, e eu estava animadíssima por tê-la retomando o cargo dediretora de marketing depois do fiasco com Risa. Convidei Alli para voltar antesmesmo de demitir Risa pelo vazamento das informações confidenciais sobre aempresa.Eu me encolhi só de pensar naquilo. Alli era uma fonte de otimismo, mas atraição de Risa ainda me machucava. Eu não tive notícias dela desde nossoúltimo encontro e, de alguma forma, o silêncio entre nós me enchia mais demedo do que de qualquer outra coisa. Eu queria duvidar da capacidade dela decomeçar um site concorrente com Max, nosso quase-investidor e inimigodeclarado de Blake, mas o desconhecido me preocupava. E se eles conseguissemroubar nossos anunciantes? E se eles conseguissem construir algo que fosserealmente melhor e satisfizesse uma necessidade que o Clozpin não satisfazia?Com o dinheiro que Max estava injetando, aliado às informações internasque Risa coletara diretamente de tudo que eu aprendi em minha breve aventuracomo CEO da empresa, tudo era possível. E a maneira como ela havia nosdeixado, com tanta raiva e ressentimento, ratificava todas as inseguranças queeu tinha em relação a administrar um negócio. Eu ainda estava dando meusprimeiros passos, sem sombra de dúvidas. Queria acreditar que conseguiria mevirar sozinha, e em muitos sentidos eu conseguia, mas ainda tinha muito aaprender.Outra mensagem chegou no meu celular, me distraindo tanto quanto a outra,ao vibrar sobre o tampo de vidro da mesa de reuniões.


B: Erica?Revirei os olhos e digitei uma resposta rapidamente. Eu sabia que ele iria meencher o saco até que eu lhe desse atenção.E: Estou em uma reunião. Ligo mais tarde.B: Quero você nua na minha cama quando chegar em casa. Melhor você irembora logo.E: Preciso de mais tempo.B: Vou estar dentro de você em uma hora. Seu escritório, nossa cama, aescolha é sua. Resolva aí.


O ar da sala ficou, repentinamente, frio demais contra minha pele quente.Tremi e meus mamilos enrijeceram, raspando desconfortavelmente na blusa.Como ele fazia isso? Algumas palavras bem colocadas, mesmo que enviadas pormensagem de texto, me fizeram ficar de olho no relógio.— Erica, tem mais alguma coisa que você queira repassar?Meus olhos se fixaram nos de Alli. Ela arqueou a sobrancelha comodesconfiasse que eu não estivesse prestando atenção. Tudo em que eu conseguiapensar eram as consequências de deixar Blake esperando, e a resposta física aessa expectativa já estava se tornando difícil de ignorar. Afastei meuspensamentos das promessas de Blake e voltei ao presente.— Não, acho que por hoje é só. Obrigada a todos.Peguei minhas coisas rapidamente, ansiosa para entrar em movimento.Gesticulei para dispersar o restante da equipe, e eles voltaram às suas estaçõesde trabalho. Alli me seguiu até passarmos pelas divisórias de meu escritório.— O que está rolando com Perry? Não quis tocar no assunto durante areunião, já que a situação é um tanto esquisita.— Nada demais. Ele me mandou outro e-mail, mas eu ainda não respondi.Eu não teria tempo de entrar nos pormenores daquela situação agora sequisesse cumprir o prazo de Blake.— Você está pensando em aceitá-lo como anunciante?— Ainda não sei.Eu ainda estava em conflito quanto a isso.Os grandes olhos castanhos de Alli se arregalaram.— Blake sabe que ele entrou em contato com você?— Não.Encarei Alli com severidade, deixando claro, sem palavras, que eu nãoqueria que ele soubesse. Na última vez em que eu vi Isaac Perry, Blake oprensara contra a parede pelo pescoço, ameaçando castrá-lo se ele ousasse tocarem mim algum dia de novo. Eu não queria arranjar desculpas para o péssimocomportamento de Isaac aquela noite e não queria perdoá-lo, assim como Blakenão queria. Mas negócios eram negócios.— Ele não vai ficar feliz se você acabar trabalhando com ele.Enfiei o laptop na bolsa.— Você acha que eu não sei disso?As associações mentais de Blake atrapalhavam mais decisões corporativasestratégicas do que eu queria admitir.Alli se apoiou na mesa.— Então o que você vai fazer? Perry pode oferecer algo impressionante sevocê ainda não o dispensou de vez.— O Grupo Perry Media representa uma dúzia de publicações multimídiapor todo o globo. Não estou dizendo que confio nele, mas ao menos posso ouvir oque ele tem a dizer.Ela deu de ombros.— O que você achar melhor para a empresa, seja lá o que for, eu vou apoiar.Também não me importo em lidar diretamente com ele, se você se sentir maisconfortável assim.— Obrigada, Alli. Mas prefiro chegar à raiz disso eu mesma. Podemosconversar mais sobre isso depois? Preciso ir. Blake está me esperando.— Ah, vocês vão sair?Ela ficou animada imediatamente, e sua persona corporativa desapareceu,substituída pela melhor amiga energética que tornava todos os dias um poucomais alegres.— Hum, temos planos. Vejo você mais tarde — respondi, sem querer parecerenigmática, antes de sair do escritório e dar uns "tchaus".Um minuto depois, saí no calor do início de agosto. O tráfego da hora do rushse arrastava e meu telefone começou a tocar antes que eu pudesse dar osprimeiros passos para casa. Resmunguei e peguei o celular na bolsa. Blake podiaser enlouquecedoramente persistente. Quando olhei, um número de Chicagoapareceu na tela.— Alô? — atendi, hesitante.— Erica?— Sim, quem é?— Sou eu, Elliot.Coloquei a mão na boca, abafando a surpresa que tive ao ouvir a voz de meupadrasto.— Elliot?— Você tem um minuto? É uma hora ruim?— Não, está tudo bem. — Empurrei a porta do Mocha, o café no térreo, parasair do calor. — Como você está? Não falo com você há uma eternidade.Ele deu uma risada.— Tenho estado ocupado.Sorri comigo mesma. Fazia muito tempo que eu não ouvia aquele som.— É claro. Como estão as crianças?— Estão muito bem. Crescendo rápido demais.— Aposto que sim. Como está Beth?— Está bem. Ela voltou a trabalhar, agora que as crianças estão na escola,então está bastante ocupada. Nós dois estamos. — Ele pigarreou e deu umrespiro audível. — Escute, sei que não tenho sido muito bom em manter contato.Sinceramente, me sinto péssimo quanto a isso. Eu realmente queria ter ido àformatura. As coisas estavam simplesmente frenéticas por aqui...— Não tem problema, Elliot. Eu entendo. Tem muitas coisas acontecendo poraí.— Obrigado. — Ele suspirou silenciosamente. — Você sempre foi muitosensata. Mesmo quando era mais nova. Às vezes, eu acho que você tinha maiscontrole do que eu. Sei que sua mãe teria orgulho da mulher que você se tornou.— Obrigada. Espero que sim.Fechei os olhos, permitindo que uma lembrança de minha mãe tomasseconta da minha mente. Apesar da fachada de força que eu sustentava, meucoração doía com a memória — tempos em que nós três éramos felizes. Aqueletempo tinha sido interrompido repentinamente quando minha mãe foidiagnosticada com câncer, uma doença que se alastrou com uma velocidadealarmante e a tirou de nós cedo demais.Apesar de nossas vidas terem seguido rumos diferentes depois da mortedela, eu torcia para que Elliot tivesse encontrado a felicidade com a nova esposae seus filhos. Mesmo que isso tenha custado qualquer chance de uma infâncianormal para mim. O colégio interno e, depois, a faculdade, haviam me criado.Mesmo assim, eu não conseguia imaginar outra coisa. Essa era minha vida, e ajornada me levara até Blake, até uma vida que estava finalmente começando aganhar forma, agora que eu concluíra os estudos.— Tenho pensado muito na Patricia esses dias. Não consigo acreditar que jáfaz quase dez anos. A vida escapa da gente, às vezes. Isso me fez perceber háquanto tempo não nos falávamos.— É verdade. Esses últimos anos passaram voando. Especialmente nosúltimos tempos. Eu era louca em achar que estava ocupada antes.Entre a empresa e meu relacionamento com Blake, minha vida havia viradode cabeça para baixo algumas vezes. Bem quando as coisas começavam a seacalmar, ela parecia arremessar algo novo.— Bom, vou ver se conseguimos ir até Boston em breve. Não consigo suportara ideia de deixar dez anos se passarem sem... você sabe, algum tipo deconsideração. Nós devemos ao menos isso a ela.Minha boca se curvou em um sorriso triste.— Seria legal. Eu adoraria.— Ótimo. Vou ver o que posso fazer.— Me avise quando escolher a data, que eu me organizo aqui.— Perfeito. Vou conversar com Beth em breve e aviso o que decidirmos.— Vou aguardar ansiosa. Eu adoraria ver você de novo e, é claro, conhecersua família.Sua família. As palavras soaram estranhas quando saíram de mim.— Cuide-se, Erica. Eu entro em contato.Me despedi, mas no segundo em que desliguei, outra ligação apareceu. Meucoração acelerou quando vi o número de Blake.Merda.

INTENSIDADE MÁXIMAOnde histórias criam vida. Descubra agora