Capítulo 9

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— ERICA... ACORDE.Acordei em um pulo. Os olhos arregalados, enquanto o quarto, agorailuminado, entrava em foco. Meu coração estava batendo rápido demais, como sealgum pânico latente ainda sobrevivesse em mim. Blake estava em pé ao meulado, bebericando café. Ele estava totalmente vestido, de calça e uma camisarecém-passada. Relaxei um pouco, grata pelo simples fato dele estar ali.— Vamos encontrar Alex para almoçar. Ele me mandou uma mensagemavisando que estava atrasado, mas é melhor você se arrumar.Me sentei lentamente e puxei as cobertas para esconder minha nudez.Esfreguei os olhos, esperando a sonolência passar. Dei uma olhada no relógio. Eutinha dormido por quase 12 horas, mas meu corpo parecia drogado, exausto atéos ossos. Lentamente, comecei a me lembrar da noite anterior. Eu não tinhatomado uma gota de álcool, mas, de alguma forma, me sentia de ressaca. Comoprometido, Blake tinha dado à minha bunda a surra de uma vida inteira. Procureia raiva, mas meu coração só doía de tristeza e arrependimento.Quando busquei o olhar dele, ele se afastou e voltou sua atenção para ocelular.— Melhor você se limpar.Me recostei novamente nos travesseiros. Minha mão tocou a bagunça dosmeus cabelos, e meus pensamentos foram parar no fim de nossa noite. Sozinhos.Tão distantes. Me encolhendo, encontrei força para me levantar. Meusmovimentos estavam longe de serem ágeis, enquanto eu ia até o banheiro. Meusmúsculos estavam rígidos, e uma dor de cabeça chata pulsava atrás dos meusolhos.Me demorei no chuveiro, escapando debaixo do jato quente como se, dealguma forma, a água pudesse levar embora a mágoa insistente que mepreenchia. Pensamentos sobre James e o erro que eu tinha cometido e pelo qualnós dois estávamos pagando dispararam no meu cérebro cansado. Blake estavaferozmente enciumado, mas eu pude ver a dor que causara a ele na noitepassada.Ele se afastou de mim, me deixando sozinha com tudo o que tínhamos feito,sem dizer uma única palavra. Tínhamos tido noites intensas antes. Ele havia meforçado até o limite, e tínhamos nos acabado juntos. Bem ou mal, semprepassávamos o final da noite juntos. Mas não na noite passada, e quando ele medeixou sozinha, ultrapassamos um limite. Ele violou um novo limite invisível queeu nunca soube que estava ali. Talvez eu também tivesse passado do ponto com oque tinha feito para deixá-lo daquele jeito. Mas a sensação de vazio que eledeixou em mim não era nada parecida com qualquer coisa que eu havia sentidocom ele antes. Aquele vazio lançou uma sombra em toda dor e punição que eletinha provocado, tornando tudo muito mais sombrio.O calor do chuveiro estava me deixando fraca e cansada de novo. Desliguei esaí para me secar, perfeitamente ciente de que Blake estava do outro ladodaquela porta com meu coração em suas mãos. Precisaríamos conversar sobre oque tinha acontecido em algum momento, mas não ia ser uma conversa fácil. Eutambém não estava com a cabeça no lugar certo para conversar com Alex agora,mas, de alguma forma, isso não importava tanto quanto deveria.Blake ficou trabalhando em seu laptop enquanto eu me vestia para a reunião.Não nos falamos. Como se estivesse sendo puxado por alguma força magnética,meu olhar era atraído para ele. Se ele sentiu, não demonstrou, seu foco estavaaparentemente inabalado.E se ele tivesse decidido conversar, o que é que eu teria dito? Em vez disso,apenas fui atrás dele enquanto entrávamos no restaurante no andar de baixo enos sentávamos à mesa. Tentei mascarar um tremor quando me sentei. Eu nãoconseguia ignorar o desconforto na minha bunda, bastante judiada, mas nãoqueria dar a Blake a satisfação de saber que aquilo estava me incomodando.Quando Alex chegou, ele me cumprimentou. Sorri fracamente e mantive asaparências. Falei algo sobre ter ido embora cedo da festa por não estar mesentindo bem. E era verdade. Ele queria saber mais detalhes, trabalhar nalogística com o Clozpin. Concordei com a cabeça, mas o fogo que talvez tivessetomado conta e me motivado durante a conversa não estava lá. Fiqueisimplesmente olhando para meu almoço, sem fome alguma. Meus pensamentosgiravam em torno do que acontecera entre mim e Blake. O que mais importavaquando as coisas não estavam bem entre nós?Um silêncio constrangedor se instalou, mas a parte de mim que talveztivesse se importado não se importou. A mão de Blake foi até meu joelho debaixoda mesa e deu um apertão leve. Ergui os olhos. Meu coração palpitou no peitocom o contato, como se só tivesse começado a bater de novo naquele momento.Ele franziu a testa de leve, me questionando, mas quando fui falar, meus olhos seencheram de lágrimas.— Alex, já voltamos — disse ele rapidamente.Rapidamente, saímos da mesa e encontramos um pouco de privacidade dooutro lado do restaurante. A escuridão nos envolveu. O corpo dele se aproximou,parecendo forçar o ar para fora dos meus pulmões. Esperei que ele me tocasse.Eu precisava que ele me tocasse, ou ia desmoronar.Delicadamente, ele ergueu as mãos e segurou meu rosto. Suspirei, e amesma fadiga de antes se apossou novamente de mim. Ele ergueu minha cabeça,me fazendo olhar nos olhos dele. Aqueles olhos que me desmontavam, que eramuma tempestade de escuridão e paixão — tudo que eu tinha passado a amarnaquele homem —, estavam olhando fixamente para mim.Eu te amo. Eu queria dizer a ele. Queria deixar as palavras saírem de novo ede novo até que ele as dissesse de volta.— Blake...— Você está bem?Ele passou o polegar na minha bochecha. Mais contato, cada toque meassolava. Meus olhos se encheram de lágrimas, que começaram a cair. Minhasmãos foram até o peito dele, querendo sentir o calor dele, sua força.— Não consigo fazer isso, Blake. Não agora. Me desculpe... Simplesmentenão consigo.Ele me silenciou e secou as lágrimas.— Posso cuidar disso, está bem?— Não posso estragar isso. Preciso estar lá.— Você não está estragando nada. Está tudo bem. Vou conversar com Alex.Suba e descanse.Ele segurou meus ombros e desceu as mãos pelos meus braços, ficando ali sómais um instante antes de sair. Antes que eu pudesse chamá-lo de volta, eleestava fora do alcance da minha vista e eu estava sozinha de novo.Andei rapidamente até os elevadores, com minha cabeça abaixada paraesconder a bagunça do meu rosto. Sequei as lágrimas, mas elas continuavamvindo. Que diabos havia de errado comigo?De volta lá em cima, dei uma olhada em torno do quarto vazio. Vazio comomeu coração oco e dolorido. Eu queria Blake ali. Odiava o fato dele não estarcomigo, mas não estava em condições de encarar Alex e uma conversa denegócios agora. Irônico, visto que esse era o único propósito da viagem.Sem tirar a roupa, caí de volta na cama desarrumada. Eu tinha acordado semo toque dele e ali estava, mal sobrevivendo a isso. Comecei a pegar no sono,pronta para ir para casa, rezando para que, de alguma forma, eu pudesseacordar e começar tudo de novo.

INTENSIDADE MÁXIMAOnde histórias criam vida. Descubra agora