Capítulo 3

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DEI UMA OLHADA EM VOLTA do bar para ver se encontrava Simone. Sem achá-la, escolhi um lugar ao lado de um banco vazio. Chamei o bartender, um tantoansiosa demais por um drink gelado para lavar os problemas do dia.Enquanto eu esperava pela bebida, o noticiário das cinco passava em silêncionas telas acima do bar. Meu coração palpitou quando o rosto de Mark apareceu,seguido por uma imagem de Daniel, presumivelmente seguindo com suacampanha. Na parte de baixo da tela, a legenda das imagens dizia: "Morte deMacLeod ainda sob investigação." Uma sensação doentia se retorceu no meuestômago. Eu queria que aquele capítulo se encerrasse agora, talvez na mesmaintensidade que Daniel. E não conseguia imaginar o que ainda estava obscurodepois do suicídio aparente de Mark. Eu também não tinha certeza se queriasaber. Eu estava prestes a pedir para o bartender aumentar o volume quandoalguém apareceu do meu lado.— Oi.Dei um pulo e vi James ali me dando um sorriso hesitante. Ele estava usandouma de suas camisetas estampadas que pareciam cair perfeitamente nas formasdaquele homem tatuado.— Ah — falei. — Oi.Ele ergueu as sobrancelhas. Não tínhamos realmente estado sozinhos, nemmesmo cara a cara, por um bom tempo. O trabalho continuava como de costume,mas não tínhamos esclarecido as coisas da maneira que devíamos ter feito. Tudoque não tinha sido dito pesava em mim algumas vezes. Eu estava exausta demaisde todo drama da volta com Blake para separar um tempo para esclarecer ascoisas de fato com James. Ao invés disso, tudo ficou pairandoconstrangedoramente entre nós; no passado, mas nunca longe dos meuspensamentos quando ele estava por perto.— Eu não esperava ver você aqui, desculpe — disse, como desculpa para meuembaraço.— A Simone não disse que eu vinha?Meneei a cabeça, escondendo minha expressão de surpresa, tomando umgole lento da minha bebida. Fiquei pensando onde é que isso tudo iria dar comSimone.Me mexi desconfortavelmente, como se pudesse sentir o olhar dele em mim,estudando minha reação. Ele queria que eu ficasse com ciúme? Queria memostrar que partiu para outra? Se sim, tudo que eu queria transmitir era oquanto eu estava feliz com o fato de que alguém incrível como Simone captara ointeresse dele. Eu odiava pensar que dei corda para ele em qualquer sentido,encorajando sentimentos que eu não tinha o direito de encorajar com meu estadode espírito de semanas atrás, completamente fodido.— Como estão as coisas entre vocês dois? Ficando sérias?Evitei os olhos dele, como se isso pudesse esconder o fato de que eu estavaclaramente buscando uma confirmação.Ele riu baixinho e passou a mão pelos cabelos ondulados pretos, tirando-osdo rosto enquanto olhava fixamente para a cerveja que o bartender acabara detrazer.— Desculpe se não estou muito a fim de conversar sobre garotas com você,Erica. É que parece um pouco... estranho, acho, por causa de tudo.— Você tem razão, me desculpe.Céus, será que isso podia ficar pior?Ele sorriu, amenizando um pouquinho o momento.— Está tudo bem. De qualquer forma, Simone é sua amiga, né? Tenho certezade que ela vai lhe contar todos os detalhes sórdidos.Sorri de volta para ele, um pouco aliviada.— Não, eu não fico perguntando a ela sobre isso. Não é da minha conta.— Ela sabe sobre... nós?Ele fez um gesto indicando nós dois, um gesto pequeno, que significavasemanas de tensão e de contornar uma atração inesperada que tinha surgido.Meneei a cabeça.— Digo, mais ou menos, mas ela sabe que estou com Blake.— Certo.Ele expirou.O alívio dele me deu uma pequena esperança de que James estivesse maisque um pouco interessado em Simone. Talvez ele não quisesse que ela soubessedo que aconteceu entre nós tanto quanto eu não queria que Blake soubesse. Apossibilidade de Blake saber de tudo revirou meu estômago. Ele já tinha ciúme osuficiente de James.— Como você anda ultimamente? Você parecia bastante chateada hoje.James tinha um dom de perceber os meus ânimos, não importava o quantoeu tentasse escondê-los por trás da divisória frágil do meu escritório. Nãoadiantaria nada tentar esconder como eu realmente me sentia ou fingir queestava bem.— Estou chateada, não vou mentir — falei. — Para ser sincera, não seria nadaruim esmagar a cabeça de alguém agora. Não sei ao certo se estou mais chateadapela Risa ter me apunhalado pelas costas ou pelos efeitos que isso vai causar naempresa.— Posso imaginar. Você confiava nela. Cara, todos nós confiávamos.Fiquei olhando para meu drink.— Me sinto tão idiota. Eu deveria ter previsto isso.— Não tinha como você saber.Dei de ombros.— Talvez. Talvez se eu não estivesse tão perdida nos meus própriospensamentos nas últimas semanas...— Tudo o que você fazia era trabalhar. Não sei como você poderia ter estadomais presente na empresa. É sério, você estava dormindo no escritório namaioria das noites.Sacudi a cabeça, e meus pensamentos retornavam àquela época. Uma ondade fadiga me atingiu com a lembrança. Eu não conseguia me lembrar de terestado mais exausta, mais determinada a dar tudo de mim do que naquelassemanas. E, de alguma forma, Risa estava conspirando com Max o tempo todo,mesmo enquanto eu trabalhava incansavelmente para nos levar adiante. Toda asequência de acontecimentos girou em minha cabeça repetidamente. Cadarotação fazia menos sentido, me dava menos fé ainda de que eu conseguiriaimpedir os esforços deles. O que é que eu podia realmente fazer?Sistematicamente, empurrei o suor do meu copo para baixo, saturando opequeno guardanapo embaixo dele. James acariciou meu ombro delicadamente.— Erica — murmurou ele.Ergui os olhos, meu foco retornando ao presente enquanto eu transfixava osolhos azuis intensos de James.— Você tem a nós, e tem a mim. Você sabe que somos firmes e vamossuperar isso. Não dê a ela a satisfação de saber que conseguiu te abalar. Tire umtempo para descansar este fim de semana e vamos resolver tudo isso na semanaque vem. Eu sei como você fica, e se preocupar até ter um ataque de nervos nãovai ajudar ninguém. Precisamos de você, lembra?Ergui os lábios em um sorriso pequeno.— Obrigada, James.— Erica.A voz de um homem ressoou atrás de mim. Uma mão possessiva seguroumeu braço. Blake parou bem atrás de mim, os olhos fixos em James. O amargorem seus olhos parecia radiar e refletir de volta nele, já que James mal escondia acareta que fazia na direção dele. Eu queria me levantar e ficar entre os doishomens, para eliminar qualquer potencial impasse que pudesse surgir.— Blake.Eu tinha dúvidas quanto a se tinha dito o nome dele em voz alta ou não atéque Blake respondeu, com os olhos sempre fixos em James.— Melhor irmos. Vamos nos atrasar.O olhar de James desceu até a mão de Blake, que segurava meu braçopossessivamente. O maxilar de James se contraiu e os músculos de seu pescoçoficaram tensos. Aquela sensação doentia se espalhou por mim de novo. Ele aindaachava que Blake havia me batido. Eu queria poder refutar aquela suspeita, masnão conseguiria sem revelar mais do que era preciso.— Pensei que tivéssemos um tempo para um drink.Cobri a mão de Blake com a minha. Os olhos dele se voltaram rapidamentepara mim, como se aquele breve toque o tivesse despertado de um transe.— Mudança de planos — respondeu ele rapidamente.Assenti com a cabeça e peguei a bolsa, desesperada para dissipar a tensão.Me voltei para James, livrando-me de Blake.— Vejo você na semana que vem.James fez um aceno com a cabeça e se virou. Fiquei tensa, querendo poderdizer algo que fizesse tudo isso ir embora. Mas o ciúme de Blake e a necessidadede James de me proteger contra uma ameaça imaginária eram profundos. Blakecolocou a mão no bolso e jogou uma nota de vinte no bar, entrelaçou os dedos nosmeus e me guiou até a porta de entrada.— Qual foi a mudança de planos?Saímos na calçada, sob o sol de fim de tarde que desaparecia. Antes que elepudesse responder, Simone correu até nós.— Ei, aonde vocês vão?— Desculpe, Simone. Vamos ter que sair mais cedo do que esperávamos —respondeu Blake.— Mas James está esperando por você — acrescentei alegremente,apontando para o bar.O olhar dela se dividiu entre mim e Blake.— Certo. Bom, divirtam-se, pombinhos!Sorri timidamente e deixei que Blake me guiasse até o Escalade estacionadorente ao meio-fio. Um segundo depois, entrei no veículo guiado por Clay, oguarda-costas que Blake insistia em manter por perto ultimamente.Sentei-me no banco de couro frio ao lado de Blake. Antes que eu pudessedizer qualquer coisa, ele me colocou em seu colo e pressionou os lábios contra osmeus. O beijo era urgente, intenso como tinha sido na noite passada. Ele deslizoua língua pelos meus lábios, me incitando a abri-los para ele. Abri a boca para elee me deliciei na pressão aveludada da língua dele contra a minha. Com lambidassuaves, ele explorou minha boca. Arriando todos os pensamentos traiçoeiros queeu tinha, voltei minha atenção para a paixão no toque dele, o desejo quasepalatável entre nós.O cheiro dele preencheu meus pulmões enquanto compartilhávamos o ar.Passei os dedos pelos cabelos dele, deixando-o em um ângulo mais intenso,puxando-o mais para perto. A doçura da língua dele persistia enquantoprovocávamos e mordiscávamos um ao outro. Sufoquei um gemido, vagamenteciente de que não estávamos totalmente sozinhos.Nos separamos o suficiente para recuperar o fôlego. Se fôssemos mais longe,estaríamos nos devorando.— Oi — falei, percebendo que ainda não tínhamos dito nenhuma palavradesde que havíamos entrado no carro, o que tinha ocorrido há alguns minutos.— E aí? — murmurou ele.Seus olhos estavam sombrios e determinados. Ele deslizou a mão pela minhacoxa até minha bunda e apertou por debaixo do vestido. Mordi o lábio,perfeitamente ciente da ânsia entre minhas pernas e do desejo que ele conseguiadespertar em mim em questão de minutos. Eu não conseguia pensar em maisnada além da maneira mais rápida de tê-lo.— Não faço ideia de para onde estamos indo, mas vai ser uma viagem longanesse ritmo.Ele olhou pare frente.— Não vamos de carro. Clay está nos levando ao aeroporto. Tenho um aviãoesperando por nós lá.— Aonde estamos indo?— Pensei em ficarmos por perto, mas não queria passar metade da noite notrânsito. Vamos pegar um voo para o vinhedo e estaremos em casa dentro deuma hora. Eu não queria perder nem mais um minuto deste fim de semana comvocê.Sorri e levei os lábios aos dele para um beijo doce.— Mal posso esperar.

INTENSIDADE MÁXIMAOnde histórias criam vida. Descubra agora