Novamente em frente a esse lago. Parece até que aquele dia voltou para nos torturar, para me torturar.
Me encontro sentada de frente para o loiro, ambos de pernas cruzadas e no meio de uma guerra de polegares.
-Então você leu as cartas? -pergunta no meio de toda essa tensão.
-Eu li a primeira de cada estação e... Ganhei! -me exalto e ele ri.- Mas antes que você pergunte, -o olho- eu não consegui ler as duas últimas porque, toda vez que eu vou ler, eu sinto uma pontada no peito, daí não consigo prosseguir -afasto minha mão da dele, por mais que não queira.
-Estranho -ele arruma o braço enfaixado.- E desde quando você está sentindo isso?
-Desde segunda -respondo inocentemente e começo a arrumar meu macacão.
-Na segunda eu levei esse tiro -aponta para o próprio braço.
Isso sim é estranho. Será que está tudo ligado e tem um significado? Tenho certeza que essas perguntas também passam na cabeça de Arthur e estão remoendo debaixo desse perfeito cabelinho loiro.
-E o quê você achou das duas que você leu? -não era essa a pergunta que eu esperava.
-Ah... Achei muito bonito o romance secreto do jovem Arthur que, apenas com dezessete anos, descobriu que estava gostando de uma mocinha sardenta -rio sem jeito enquanto ele penteia o bigode fino com os dedos.
-É, aquele ali sabia escrever muito bem -ele também ri.- Ainda mais se tratando da verdade -então, leva sua mão até meu rosto.
Poxa, ele é bom... NÃO MOCINHA, você não pode pensar assim! Agora vocês tem um trato. Resolvo deixar isso bem claro para ambos:
-Arthur, -retiro sua mão do meu rosto delicadamente- para a gente se dar bem, vamos ter que estipular algumas regras e...
-Não -fala firme, o olho intrigada.- Eu passei todos esses anos seguindo regras, não me torture nesse tempo livre, por favor.
-Está bem -como ele fica sério com facilidade... antes não era assim.- Então, gostaria de lhe fazer alguns pedidos -é, acho que essa é a palavra.
-Vá em frente -ele arranca uma pequena flor e a cheira.
-Primeiro, quando você estiver na minha frente ou, pelo menos na das crianças, não fume -ele prende a flor na minha orelha, dou um sorrisinho.- Você sabe que eu sempre odiei isso.
-Sim, eu sei -concorda com os olhos brilhando enquanto me olha.
-Evite ficar... -como posso dizer isso de um modo não tão agressivo?- bêbado. Não estamos acostumados com isso aqui -concorda com a cabeça.
-Eu também não vou ser estúpido com nenhum de vocês e nem impulsivo -como ele sabe que eu vou...ia dizer isso?
Ponho meus braços atrás do corpo e me apoio na grama.
-Certo, é isso mesmo -concluo um tanto espantada.
-Enfim... Eu também tenho alguns pedidos -se levanta e começa a me arrodear.- Não seja tão mandona assim, você fica mais bonita tranquila, -pisca e eu reviro os olhos- termine de ler as cartas e, todo dia, você vai tirar um tempo só pra você! -ele para em minha frente e me estende a mão.
Me levanto com a ajuda dele e, não sei porque, todas as vezes que estamos próximo, nós estamos próximos, olho no olho, corações conversando em segredo.
-Certo -respondo em tom mais baixo, por conta da proximidade.
Quando nós nos beijamos da primeira vez (o único beijo que eu estou considerando), foi exatamente neste lugar. Mas agora, tudo é diferente.
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Cartas para o Verão e para o Inverno.
Historische RomaneO amor pode florecer em qualquer estação, independente do ano ou dos acontecimentos que o acompanham. Para provar, em plena Segunda Guerra Mundial, um amor que todos pensavam ser esquecido, renasce, na verdade, ele nunca morreu, apenas se escondeu...