Eu sempre quis aquele Arthur, mas não me dei conta de que o que eu tenho, é a melhor versão do anterior.
Toco seu rosto com a costa de uma de minhas mãos, enquanto a outra segura uma das suas. Sua expressão calma, mais calma do que a minha, sua respiração também calma e o barulho dos aparelhos atrás da cabeceira da cama.
O médico havia nos falado que só é permitido visitas até um certo horário, eu discordei e falei que queria ficar com ele e que, caso fosse preciso, enfrentaria todo o exército para ficar ao seu lado. Estava tão nervosa que o médico teve que concordar.
-Serena... -meu nome soa baixo e fraco.
Desvio o olhar de nossas mãos para o rosto dele. Meu amor está sorrindo, seus olhos mirando os meus novamente.
-Arthur, meu amor, como se sente? -também sorrio tentando disfarçar a tristeza.
Ele dá uma leve gargalhada, algo que me enche de esperanças, traz rubor ao meu rosto e apazigua meu coração de garota.
-"Meu amor"?-repete minhas palavras.- O que aconteceu, índia? Eu levo um tiro e é você quem delira -novamente uma gargalhada.
Tenho vontade de gritar para todos ouvirem que o amo, que o perdoo e que não vejo a hora de nosso casamento. Mas o cartaz escrito com letras maiúsculas "SILÊNCIO", me faz sentir desconfortável para executar esse plano.
O moço fica sério de repente, fecha os olhos e engole em seco. Sua mão se move e ele a desliza para a lateral de seu abdômen, um tiro de raspão, não fatal.
Me inclino sobre si com cuidado de olhos cerrados e encosto meus lábios nos seus. Um beijo suave, com gostinho de amor, como o primeiro. Afasto-me notando a imprudência momentânea movida pelo impulso, coro um pouco e o observo abrir os olhos, os quais ascendem e refletem os meus.
-Eu aceito, Arthur! -me sento novamente na poltrona estofada ao seu lado.
Seus olhos se arregalam e o sorriso em seu rosto fica mais largo, assim como o meu.
-Como?! -faz um movimento como se fosse sentar-se.- Ai!... -dando uma leve reclamada mas, conseguindo realizar tal ato.
Dou um risinho com isso. Suas mãos esticam até meu rosto e ele o leva para perto do seu, me dando milhares de beijinhos estalados. Permaneço rindo.
A porta é aberta com certa violência nos fazendo virar para ela. O homem de meia idade nos olha perplexo, talvez pela imprudência de estarmos gargalhando em um hospital, e segura a prancheta com as duas mãos.
-Doutor, ela disse sim! Eu vou me casar!
Ao ouvir as palavras do loiro, o médico abre um sorrisinho discreto.
-Parabéns aos dois, mas façam silêncio... logo você terá alta e poderão festejar -o mesmo nos adverte e deixa o quarto branco, fechando a porta.
Nós dois rimos baixinho, eu me volto para a poltrona e me sento novamente. Arthur permanece com um sorriso, ele está realmente bem.
Enfim, leva uma das mãos ao meu rosto, o acariciando e me observando então, desce o olhar e me fala um tanto espantado:
-Esse sangue é meu?! -suas mãos vão em conjunto até o local do ferimento.
Concordo em silêncio, embora desejando que aquela cena se apague de minha memória. Meus olhos se entristecem ao pensar nela.
-Ei... -o loiro repara.- Ainda tenho sangue de sobra aqui, querida -gargalha assim como eu.
Puxo mais a poltrona para seu lado, me debruçando sobre ele e sentindo suas mãos acariciarem meus cabelos.
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Cartas para o Verão e para o Inverno.
Fiksi SejarahO amor pode florecer em qualquer estação, independente do ano ou dos acontecimentos que o acompanham. Para provar, em plena Segunda Guerra Mundial, um amor que todos pensavam ser esquecido, renasce, na verdade, ele nunca morreu, apenas se escondeu...