Capítulo 19

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 Chego em casa e, ao passar pela varanda, sinto um cheiro diferente, algo novo, algo que me faz lembrar de que temos visita, o Samuel.

 Entro e logo vejo na mesa pratos com tacos e nachos, os preferidos de Lis e seu irmão. Todos já estão postos, aparentemente só me esperando, não me importo mais com nada, com nenhum julgamento de Ohana e pensamentos dos outros à respeito do assunto.

 Ocupo meu lugar na frente dela e não a olho. Nós fazemos uma breve oração e começamos a comer. Para não dar uma de gulosa, pego um de cada. É incrível como alguém consegue fazer coisas tão gostosas. Minha nova culinária preferida é a Espanhola, sem dúvidas.

 Em meio aos meus delírios saboreando essas delícias, noto que Ohana me olha. Eu não gosto de brigas, mas depois de tudo... Levanto a cabeça sem nada a esconder e a encaro, o meu olhar é firme e preciso.

 A moça estremece, percebo isso, por fim respira profundamente e baixa a cabeça, cedendo. Eu, ao contrário, permaneço a encarando, eu larguei tudo por causa dessa menina para ela me aprontar uma coisa dessas. Sou mesmo uma estúpida!

 Sinto uma mãozinha cobrindo a minha e me fazendo perder a postura. Olho ao lado e, como eu suspeitava, é Lis que me tranquiliza de todas as formas possíveis.

 Acabo de comer juntamente com ela e seu irmão, certificando de que estão realmente satisfeitos, peço licença e retiro os pratos.

 Da cozinha onde estou, posso ouvir toda a conversa e a voz de Jade é ouvida, soando gentil.

 -Samuel, se você quiser, Serena e Lis podem te apresentar a fazenda.

 -Claro! Me gustaría mucho -o moreno responde com sotaque.

 Largo os pratos na pia, eu preciso mesmo espairecer, retorno para a mesa e permaneço de pé ao lado da mais velha com meu melhor sorriso. Agora, Ohana não me olha mais e parece não participar da conversa, não mostrando interesse pelo assunto.

 Observo o moço se levantar assim como a irmã, ambos têm o mesmo jeitinho, embora não sejam tão semelhantes na aparência.

 -Vamos? -o moreno arruma o braço para que eu passe o meu por ele.

 Faço isso com um sorriso sentindo o dia melhorar aos poucos. Ele repete o gesto para que a irmã faça o mesmo. Se organizando, nós saímos. Passamos pela porta e pela varanda pisando diretamente na grama bem cortada.

 Vou andando sem rumo, sendo guiada pelos irmãos. Lis vai apresentando tudo, falando um pouco de cada lugar e, um detalhe, falando bem o português. Tento me mostrar interessada e bem, feliz por um lado e que segui em frente. Mas eu realmente não consigo, tudo me lembra ele.

 -Serena... -a espanhola me chama.

 Com certeza notou minha expressão, só espero não ter estragado o passeio.

 Paramos sobre a estrada e os dois começam a me olhar, um olhar triste, assim como o meu. Poderia dizer que é até um olhar de dó, mas prefiro que não.

 -Não fique así, chica -o moreno ao meu lado me sorri.- Arthur te ama mucho -a mocinha concorda com um aceno de cabeça.

 -Eu não tenho mais certeza de nada, Samuel -minha voz começa a ficar chorosa, disfarço- Ele me deixou uma carta explicando e... -respiro profundamente.- Eu fui muito injusta em não o deixá-lo explicar para mim.

 Lis passa pelo irmão e me abraça, algo que retribuo.

 O moreno olha ao redor e avista uma árvore próxima, ele anda até a mesma e se senta de pernas cruzadas. Imagino que, com uniforme, seja muito mais calor, e por isso se sentou bem debaixo da sombra fresca.

Cartas para o Verão e para o Inverno.Onde histórias criam vida. Descubra agora