𝟮. 𝙅𝙤𝙨𝙝𝙪𝙖 𝙙𝙚𝙢𝙤𝙣𝙨𝙩𝙧𝙖 𝙨𝙚𝙪𝙨 𝙥𝙤𝙙𝙚𝙧𝙚𝙨 𝙚 𝙤𝙨 𝙐𝙡𝙚𝙮 𝙫𝙖̃𝙤 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙉𝙤𝙫𝙖 𝙊𝙧𝙡𝙚𝙖𝙣𝙨

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 Era um fim de tarde, estava frio e nublado, abracei meu corpo, esfregando as mãos nos braços tentando me aquecer, enquanto via meu pai adentrar a floresta perto de onde nosso trailer estava alocado. Curioso, fui atrás dele. Caminhamos por alguns minutos até uma área um pouco mais afastada, as árvores eram grandes e centenárias, espaçadas entre si, seus ramos eram extensos e suas folhas eram tantas que mal dava para ver o céu.

— Tá, e agora? — perguntei impaciente.

— Agora, apenas espere e veja. — disse.

Meu pai sentou-se no pé de uma árvore, cruzou as pernas e recostou-se sobre o tronco. Papai era um sujeito alto com seus 1,90 de altura, tinha cabelo longo e liso, os lábios grossos e a pele acobreada. Eu não entendi o que ele estava fazendo, mas lembrei-me da história que ele contou antes de sairmos. Será que ele estava... não, mas e se?

— Pai? — chamei. — Pai! — Fui até ele e o sacudi esperando uma resposta, a qual eu não obtive, com isso eu comecei a me desesperar.

Porém, algo veio à minha cabeça, se o meu raciocínio estivesse correto, o espírito do meu pai teria deixado o corpo, portanto estaria me observando agora. Me afastei do corpo recostado na árvore e olhei em volta em busca de algum tipo de sinal de que meu pai estivesse do lado de fora me observando.

— Pai, se você está aí, me dá um sinal. — Pedi. — Um vento gritante, uma legião de morcegos, qualquer coisa.

Esperei por alguns momentos sem receber resposta, quando um vento fortíssimo me atingiu e junto dele um grito urrante e tenebroso que arrepiou todos os pelos do meu corpo, em seguida uma legião de corvos passou por mim. Eu me encolhi e coloquei os braços na frente do rosto tentando me proteger, eles voavam em diversos sentidos até formarem um círculo em volta de mim que foi subindo e subindo até as aves se dispersarem.

— Uou. — expressei admirado.

Virei para onde o corpo de meu pai repousava, mas ele não estava mais lá.

— Pai! Pai! Cadê você? Isso não tem graça! Aparece logo! — Eu olhava para todos os lados, desesperado. Eu não percebi que algo se arrastava atrás de mim, apenas senti quando agarraram meus tornozelos e me puxaram para trás e depois para cima, me deixando pendurado de cabeça para baixo. — Isso com certeza não estava nas lendas. — comentei.

— Nem tudo o que nós podemos fazer está nos contos, filho. — esclareceu, aparecendo na minha frente.

— Legal! — falei. — Agora, será que pode me soltar?

— Ah, sim, claro. — Ele estalou os dedos duas vezes. — Meninos, obrigado. — agradeceu ele, assim que os cipós me soltaram, caí no chão da floresta.

— Ai. — murmurei, enquanto me levantava e espanava minhas roupas. — Espera aí, você acabou de agradecer aos cipós por me soltarem?

— Sim, nós temos que ser gentis com a natureza se quisermos que ela seja gentil conosco. — esclareceu. — Agora que eu já mostrei a você o que eu tinha para mostrar, vamos voltar para o trailer.

Eu não contestei, apenas o segui de volta para o trailer, demonstrando toda a minha animação, enchendo-o de perguntas sobre o que éramos capazes de fazer. Meu pai apenas sorriu e disse que iríamos falar sobre isso depois.

Para falar a verdade, ele não se deu o trabalho de conversar ou de me explicar as coisas. Naquela noite, eu recebi notícias boas e ruins, com uma herança que se tornou o pior inimigo da minha rinite.

— Nate, estamos deixando esse lugar. — anunciou meu pai, durante o jantar.

— Trabalho? — perguntei, arqueando uma sobrancelha enquanto cutucava meus vegetais com o garfo. Eu não estava surpreso com aquilo, afinal, nós mudávamos muito de lugar por conta das caçadas, novos lugares sempre vinham acompanhados de pessoas novas, costumes novos, problemas novos e escolas novas.

ℕ𝕒𝕥𝕖 - 𝕆 ℙ𝕖𝕢𝕦𝕖𝕟𝕠 𝔼𝕤𝕡𝕚́𝕣𝕚𝕥𝕠 𝔾𝕦𝕖𝕣𝕣𝕖𝕚𝕣𝕠Onde histórias criam vida. Descubra agora