O Despertar

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A tarde terminava fria naquele dia de inverno. A menina acabara de chegar em casa com um amarrado de lenha para acender o fogo e aquecer a casa, além de preparar o jantar.

-Beza? - a menina ouviu o chamado e se virou para o bosque. Caminhando entre os arbustos, viu a silhueta familiar, enfiada numa túnica branca mas suja de lama, com grandes quadris modelados por uma fina cordoalha de prata e os seios voluptuosos expostos na noite fria, como era costume das mulheres de Aeolus. Ela a encarava com olhos negros e vivos, sua boca aberta num sorriso e as maçãs do rosto vermelhas. Nas mãos, trazia um ramo de folhas, flores, ervas e raízes mirradas.

-Eralógon! - a menina exclamou, abaixando rapidamente o rosto e voltando a olhar para a mulher. - Mãe? A senhora demorou.

A mulher caminhou com pressa para o muro baixo de pedras cobertas de limo, sempre sorrindo para a menina. Chegou bem perto e a observou por alguns instantes, as narinas dilatando-se enquanto ela inspirava o ar puro da região.

-Demorei o tempo que era necessário, Beza. - Eralógon riu e colocou o ramo de folhas em cima do amarrado de lenha que a menina trazia, correu até a porta da pequena casa de pedras brancas e a abriu, fazendo um gesto amplo para seu interior.

-Você sempre demora o necessário... - a menina suspirou enquanto entrava na casa. - E é sempre tempo demais. Foram oito dias...

-Sete! - a mulher a interrompeu enquanto fechava a porta atrás de si. A casinha era modesta e consistia de um cômodo com uma cama de feno forrada com peles, um fogão de pedras com um caldeirão pendurado sobre o espaço do braseiro e uma tina grande com água, que Beza trocava todas as manhãs. - Sete dias desde que suas primeiras regras terminaram. - ela pegou o ramo de folhas de cima da lenha enquanto Beza descarregava a lenha perto do fogão. Separou algumas ervas e jogou no caldeirão, dispondo o restante das folhas num canto do cômodo. - Imagino que estejas bem. A casa está arrumada e limpa, conforme ditam suas tarefas.

-Sim... - a menina separou alguns galhos finos e alimentou o braseiro do fogão que parecia morto. - Sem o sangue voltei a me sentir bem, mãe. Harodo esteve aqui, três dias atrás. - com sopros curtos, cinzas e faíscas voaram e as brasas voltaram a irradiar sua luz avermelhada pelo cômodo, tomado pela penumbra - Ele deixou uma manta de carne e não se demorou. Ele é... Estranho.

-Ah, ele tem medo! - sua mãe ria, divertindo-se. - O povo da aldeia tem medo de mim. Dizem que assombro os sonhos dos homens e que faço chover!

O fogo crepitou com galhos maiores atirados ao braseiro e uma luz amarela iluminou o interior da casa. Beza remexeu a madeira e virou seu olhar para a mãe, a luz súbita conferindo-lhe feições assustadoras.

-E você não faz? - Beza percebeu que a pergunta soara mais irônica do que gostaria.

-As vezes... - o sorriso desapareceu por alguns instantes, enquanto ela posicionava o caldeirão em cima das brasas e continuou, gargalhando - Só quando é necessário!

Dando de ombros, Beza se voltou para seus afazeres. Enquanto Eralógon servia um chá feito com as folhas que trouxera de sua caminhada, a menina enchia uma panela na tina e adicionava alguns legumes e nacos de carne seca. Comeram e dormiram, sem muita conversa. Ela sabia que sua mãe não daria nenhuma resposta objetiva sobre sua ausência, ela só precisava ir. E ia.

Acordou sobressaltada pelo toque abrupto da mãe em seu braço. Ainda estava escuro e silencioso, mas Eralógon estava de pé e vestida numa túnica lilás de um tecido muito fino, semitransparente, que apertava sua cintura e modelavam seus seios, redondos e pesados, com bicos grandes e escuros, desnudos na escuridão. Os cabelos estavam presos no alto com fitas da mesma cor da túnica e os braços adornados com tiras de ouro, enroladas como serpentes. Ela sorria para a filha, olhando-a com ternura.

-Acorde, minha criança. - ela disse, com a mão sacudindo suavemente o braço da menina, mesmo com ela já de olhos abertos -Vamos dar um passeio no bosque antes do sol levantar. - levantou-se e apontou para a tina - Hoje é um dia especial! Lave-se na tina e vista sua túnica mais branca! Não se demore!

Confusa, ela se levantou da cama, ainda enrolada nas peles. Dormia nua, como de costume, e o frio não a deixou pular de uma só vez, como fazia toda manhã. Esticou um pé alvo e fino, experimentou o chão de madeira para se levantar, libertando-se do calor do seu leito. Caminhou nua até a tina e lavou o rosto, sentindo na água o cheiro de ervas aromáticas que Eralógon trouxera. Enquanto se lavava, percebia o olhar atento da mãe. Estendia um braço e via com o canto dos olhos como ela sorria, trazia água na mão até os olhos e parecia que ela assentia com a cabeça, como se afirmasse algo pra si. A água respingou pelos cabelos de Beza, pretos como a escuridão da madrugada, e escorreu por seus seios, menores que da sua mãe mas já grandes e redondos, com mamilos pronunciados e escuros, quase uma cópia mais jovem da mulher que a encarava. Usou um pano limpo para secar a pele, sentindo os olhares ainda sobre ela, como uma umidade que não desaparecia. Passou o pano com rispidez no ventre, descendo até o púbis e os pelos finos que cresciam sem cerimônia, lembrando-a que não era mais tão criança assim. Seu corpo se arrepiou, de frio ou vergonha de olhares tão insistentes, e correu para procurar a túnica "mais branca". Sabia que sua mãe não diria que dia tão especial é esse, mas gostava de agradar Eralógon nos poucos momentos que passavam juntas. Se era um passeio, ao menos seria uma oportunidade para a filha estar perto da mãe. Seus pensamentos encontraram a túnica mais alva que tinha, era de um tecido fino, gasta e curta para o seu tamanho, uma vez que crescera um tanto desde o último uso. Porém, era a mais clara e limpa que podia supor, e sabia que as instruções de Eralógon eram importantes. Passou a túnica pelo pescoço e vestiu suas sandálias. -Como você cresceu, Beza! - sua mãe permanecia imóvel, observando a menina vestida. A túnica mal chegava nos seus joelhos, e deixava o antebraço quase todo exposto. Os cabelos negros desciam em cachos pelos ombros, emoldurando o colo, protegido pelo tecido. - Venha cá, use isso. - Eralógon passou um fino cinto de prata pela cintura da menina e apertou, modelando sua cintura e evidenciando suas formas. Seu quadril não era largo como o da mãe, mas estreito e ossudo, e sua cintura era fina. - Já é uma mulher, pode mostrar suas formas.

Sem que pudesse falar alguma coisa, Eralógon abriu a porta da casa e uma lufada de ar frio entrou apressada. A madrugada já começava a se pintar de azul quando sua mãe saiu da casa e esperou que ela a seguisse. Fecharam a porta de madeira e foram de mãos dadas pelo bosque. As brumas da manhã dominavam a paisagem, escorrendo pelos arbustos e se espalhando pelo chão. Já caminhavam por alguns minutos quando resolveu arriscar.

-Por que hoje é um dia tão especial, Eralógon? - sua mãe ia na frente, puxando sua mão e ditando o ritmo.

-Porque hoje você vai conhecer o seu pai.

Brumas de AeolusOnde histórias criam vida. Descubra agora