As Lições

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A luz fria da manhã se esgueirava para dentro da casinha pelas frestas ao redor da porta e do teto, formando linhas no ar esfumaçado pelo lume que esquentava o ambiente para que pudessem dormir, já que as primeiras folhas começavam a amarelar e murchar nos galhos das árvores e logo o calor de dias ensolarados seria uma vaga lembrança durante as geadas da madrugada que avançariam pelo dia afora. Beza estava de olhos abertos há alguns minutos, observando os feixes de luz e a fumaça que rodopiava ao redor deles, tentando se convencer da realidade de tudo que vivera no dia anterior. Recapitulava seus últimos passos, o aconchego nos seios da sua mãe, o calor entre as peles da cama, o cheiro do seu pai em suas mãos, seios, coxas e ventre, e agora sentia as dores físicas por ter se entregado aos prazeres carnais, por ser usada por tamanha besta, faminta e impossível. Suas mãos diminutas estavam frias enquanto percorriam seu corpo por baixo das cobertas e ela se tateava como se quisesse descobrir se faltava algum pedaço ou se não cresceram asas ou chifres. Arriscou por as pernas para fora da cama de palha, enquanto procurava pelos rastros de Eralógon no cômodo. O braseiro do fogão, única fonte de calor do aposento, morria vermelho, sem sinal de ter sido alimentado e o pequeno caldeirão negro de ferro acima dele, um luxo sustentado pelas artes da sua mãe, estava fechado com sua tampa e a água na tina de madeira betumada estava plácida, sem respingos pelas bordas ou chão de pedra e a trave grossa de madeira da figueira que trancava a porta estava repousando encostada na parede de pedra. Vestiu-se para o trabalho, enfiando pela cabeça um poncho de lã crua e trançada, amarrando os cabelos negros com um lenço tingido de amarelo, nos pés amarrou as alças das sandálias de couro de mula até o meio das pernas, testando se estavam firmes o suficiente. Abriu a porta com o rosto voltado para o interior da casa, sentindo o corpo estremecer pela brisa externa e encarou a tina, visualizando seu corpo dentro dela, a água reconfortante limpando sua pele e aquecendo seu corpo, porém esse asseio não poderia sobrepujar suas obrigações. Encarou a luz da avançada manhã e inspirou profundamente, sentindo os pulmões inflados e frios, impulsionando-a para fora.

As colinas estavam silenciosas naquela manhã, e nada além do bosque próximo era visto à quilômetros de distância. Sentiu sua barriga protestar, já que sua última refeição havia sido na clareira, junto ao seu pai, e não era apenas o sabor daquele homem que ela desejava, agora. Correu até o poço, jogou o balde amarrado com cânhamo e puxou apressada, bebendo bons goles quando ele voltou para suas mãos. Tratou de reabastecer a tina com água limpa, reacendeu o braseiro e tirou a tampa do caldeirão, para descobrir que ele estava cheio com água e algum tipo de infusão. Aproximou seu nariz empertigado e farejou orégano, hortelã e outras ervas que não conseguia distinguir e tornou a tapá-lo, respeitando o trabalho da mãe, antes de sair para catar lenha e ovos que as faisoas botavam nas touceiras atrás do cocho das cabras, que há muito não era usado, já que Eralógon deu fim à criação antes de começar a se ausentar por vários dias em busca de ervas, levando encantos para vizinhos distantes, enfeitiçando homens ou, agora ela sabia, encontrando seu pai na clareira encantada. "Vivamos de forma modesta que não seja cobiçada", a menina se lembrava, "as cabras atraem lobos de muitos tipos" foram as últimas palavras antes de entregar o fato para Harodo, o único homem que se aproximava da cabana de tempos em tempos, para trazer mantimentos em troca das artes de Eralógon. Beza sabia que alguns tipos de lobos que sua mãe se referia temiam-na, e por isso não entendia porque se livrar das cabras. O queijo fazia falta no desjejum, mesmo tendo todo o trabalho de ordenhar, pastorar e guardar os animais, um fardo pesado para uma menina tão pequena, mas Beza se sentia menos sozinha com as cabritas lhe dando cabeçadas nas caminhadas matinais. Tinha jeito para o pastoreio, Eralógon ria ao dizer, "tão pouco não é o que te aguarda, menina". Tão pouco, pensou olhando para as colinas, procurando o bosque e além, vendo de olhos fechados onde gostaria de estar. Não eram cabras que desejava como companhia, afinal, pois agora só ele povoava a sua vontade de mulher, algo tão novo para ela.

Em devaneios, abaixou para recolher os ovos que se espalhavam pelo capim e quando se levantou erguendo a cesta pesada, deu de cara com Eralógon, que estava de pé, olhando os ovos coletados, vestida com sua túnica branca enlameada. - As faisoas andaram ocupadas na nossa ausência - ela riu, sem dar atenção a careta que Beza fez ao dar com ela, silenciosa como o espírito de algum antepassado - encontrei algumas ervas para ajudar nas suas dores, vou prepará-las e quero que observe. Por sorte dei com uma touceira de espinheiro-preto, veio a calhar para tirar do seu rosto essa expressão de quem deu uma espiadela no Tártaro. - Beza não se importou com a troça, era a primeira vez que Eralógon a intimava para conhecer suas artes. Até então, aprendera a usar o hortelã, o endro, o alho selvagem e muitas outras ervas observando sua mãe enquanto alimentava o fogo, varria o chão de pedra ou batia as peles para retirar a poeira, mas nunca recebera um convite formal para aprender sobre ervas ou qualquer outra coisa relacionada à magia. Foram juntas para dentro do casebre, a menina cantarolando a canção sobre seguir em frente que aprendera na manhã passada, sem se dar conta, observada pela mulher mais velha pelos cantos dos olhos, aprovando sua afinação com um sorriso discreto. - Coma algo enquanto aqueço a tina para que se lave, -ordenou a mãe enquanto guardava as ervas numa cesta ao lado do fogão. Tomou uma faca enferrujada com o cabo de madeira roído pelos anos de uso e cortou um naco da manta de carne que Harodo pendurou na parede oposta ao fogão, juntando-o com pão de trigo e um bocado de mel num prato de cerâmica queimada, levando à boca pedaços grandes que eram mastigados com avidez pois ela tinha fome, a fome da descoberta e da ousadia. Eralógon tirou a tampa do caldeirão e, com a ajuda de uma vara de ébano, puxou para o interior do ferro uma pedra do tamanho de um punho que estava entre as brasas, jogando-a rápido dentro da tina, que chiou e borbulhou em protesto, mas isso não impediu a mulher de repetir o processo e jogar mais algumas pedras, fazendo subir no interior do casebre uma umidade quente. Beza engoliu o último bocado de carne, pão e mel, tirou as roupas de trabalho e correu para dentro da tina, quente e confortável, começando a se esfregar sobre o olhar atento da mãe.

O calor acendera nela os sentidos, o corpo amoleceu e escorreu pela borda da tina, as mãos percorrendo sua pele, sem muita força, tocando nos hematomas e nas manchas de sujeira, formadas pelo suor, o sêmen e a poeira. Seus dedos se demoravam nas manchas, enxaguando e sumindo com os sinais que ela, agora, queria que fossem eternos, tatuagens para lembrar do seu pai. Seus seios estavam com os bicos intumescidos, em contraste com o relaxamento que sentia, e ela os apertou com as mãos, observando seu volume acima da água, como se oferecesse suas mamas para um homem-cavalo de sonho, ao mesmo tempo que Eralógon jogava na água pistilos de sílfio frescos, amarelos como a gema de ovos e de cheiro pungente e cítrico, colocando uma das mãos na água da tina e mexendo com vigor, - Esta é uma lição, - disse a mulher - o sílfio ajuda nas dores em decorrência da luta amorosa. - sorriu com um dos cantos da boca, os olhos negros saltando dos seios para os da filha, sabendo muito bem o que queria ver. - E esta é outra, - disse enquanto afundava a mão na tina e encontrava a boceta pequena, que acariciou com a ponta dos dedos sob a água, tomando cuidado para não adentrar a vulva, que estava dilacerada pelo mastro enorme do seu homem - não se exiba desse jeito se não estiver disposta a lutar. Continuou a massagear o clitóris da outra até que ela começasse a gemer, e nesse ponto ela própria abriu as pernas e começou a se masturbar com a outra mão, enquanto Beza fechava os olhos e visualizava seu dono, ereto como um garanhão, pronto para esporrar dentro dela. O desejo que ela imaginava nele era o dela próprio, fazendo-a gemer alto para o deleite de Eralógon, que enfiava três dedos dentro da sua vulva enquanto brincava saliente com os lábios inferiores da menina, até que as duas chegaram no clímax de olhos abertos, uma querendo estar dentro da outra, tão exaustas quanto saudosas. - O desejo não diminui, - disse a bruxa - mas você entenderá a hora e o momento com mais clareza, com o tempo. A filha sorriu segurando e beijando a mão molhada da mãe e assentiu - Obrigada pela sua sabedoria, minha senhora.

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