As Brumas

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Foi como se a manhã tivesse regredido em noite. A resposta de Eralógon era totalmente inesperada. Beza desistira de perguntar sobre seu pai havia alguns anos, pois sua mãe sempre respondia com outra pergunta ou desconversava. Sentiu um tremor percorrer o seu corpo e o frio da manhã fez seu queixo bater. O coração batia rápido, vindo até a garganta, enquanto o estômago vazio parecia dobrar em si por várias vezes. Tentou perguntar algo mas não encontrou palavras. As brumas aumentaram enquanto elas avançavam pelo bosque e percebeu que não consegui mais ver o chão, encoberto pela névoa. Eralógon ria e entoava uma canção sobre a paixão impossível entre uma donzela e um deus, enquanto caminhava resoluta pela névoa, como se soubesse onde pisar. Beza, entretanto, enfiou um dos pés por baixo de algumas raízes e tropeçou, soltando a mão da mãe e quase caindo no chão. Soltou o pé de correu para alcançar Eralógon, que tomara uma boa dianteira. As brumas ficaram mais densas e altas, se derramando das copas das árvores e rodopiando a sua volta. Esforçou-se a correr para alcançá-la, mas o chão era traiçoeiro e ela não sabia onde pisar.

-Eralógon? - sua mãe era um vulto entre a névoa, vários metros a frente. - Mãe? Espere por mim! - a resposta veio na canção, que continuava. - Siga em frente! - dizia a letra, cantada por Eralógon. Seus risos se perdiam na névoa, a canção foi ficando mais baixa, até que Beza só ouvia um murmúrio. As névoas tomaram sua volta e ela não enxergava mais as árvores ou arbustos, caminhando sem saber para qual direção. Tentou apertar o passo, chamava pela mãe mas a canção desaparecera por completo alguns minutos depois. Estava só, na escuridão da névoa e o frio da manhã.

Caminhou por bastante tempo até que a névoa começou a se iluminar com a luz do sol que finalmente resolveu acordar. Ela começou a discernir as árvores e percebeu que entrara na floresta depois do bosque. A mata era mais fechada e várias árvores a cercavam, enquanto a névoa se dispersava e o chão ressurgia. Foi quando ela ouviu o som de água corrente mais à frente. Ela não lembrava de um rio naquela região, não tão próximo de casa, mas talvez sua mãe tenha ido para lá. Correu por galhos e árvores até que chegou numa clareira.

As árvores delimitavam a clareira, formando um espaço circular coberto por grama, pedras e um riacho que corria do norte ao sul. Ao norte, a água descia por entre pedras, formando uma pequena cachoeira que terminava numa piscina natural, alimentando o riacho. O sol inundava toda a clareira, refletindo nas gotículas de água e formando um arco-íris contra a luz. Não se lembrava de um lugar assim tão perto de casa, e que ficava ainda mais fantástico pela cornucópia. Do outro lado do riacho, na margem oeste da piscina natural, havia uma espécie de mesa grande, forrada com peles e tecidos. Em cima da mesa, almofadas empilhadas deixavam o cenário ainda mais absurdo. E, numa das quinas da mesa, uma cornucópia grande, recheada de frutas.

De longe, sentiu seu estômago roncar e a garganta seca. Saíra de casa sem tomar seu desjejum e agora parecia ter tudo que precisava diante dela. Saiu das árvores para a clareira e sentiu o sol esquentar sua pele, como numa manhã de verão. Cautelosa, chegou bem perto da queda d'água e recolheu um pouco com as mãos em concha, trazendo o líquido até os lábios. A água era fria e limpa, sem cheiro ou gosto. Repetiu a concha com as mãos até saciar sua sede. A água aspergida pela queda molhou sua túnica, refrescando seu corpo e revelando seus seios pela transparência do tecido úmido, os bicos intumescidos roçando o pano e molhado. Sua pele estava aquecida pelo sol, ela sentia o frescor da água e o roçar do tecido molhado em seu corpo, causando uma sensação de prazer desconhecida. Suas mãos correram para levantar o tecido, mas o toque foi bom e ela se demorou sentindo os dedos roçarem os mamilos duros.

Desceu as mãos pelo ventre e balançou o tecido, tentando secá-lo. Foi caminhando assim, desconfiada, até a mesa. A cesta de palha em formato de chifre era finamente decorada e as frutas pareciam maduras e saborosas. Sem ver sinal do seu proprietário, ela decidiu arriscar e matar um pouco da sua fome, esticando uma das mãos e pegando um cacho de uvas vermelhas e grandes como um rubi. Retirou um bago do cacho e fê-lo explodir em sua boca, que foi dominada pelo gosto doce do fruto. Era um sabor maravilhoso, que a incentivou a comer os demais bagos até que sua mão estivesse vazia. O alimento preencheu e esquentou seu estômago, e ela se sentiu bem. Começou a perceber sua pele eriçada, e o toque do tecido era bom de sentir. Mais uma vez ela levou as mãos até os seios e, dessa vez, apertou seus mamilos, provocando um gemido que nunca havia emitido, denunciando seu prazer. Quase como um eco, outro gemido, mais alto, inundou a clareira.

Levantou o rosto para procurar a origem do gemido e viu Eralógon, na borda leste da clareira, sentada numa pedra grande. Ela gemia alto e estava com a cabeça jogada para trás, uma das mãos manipulando seus seios e a outra por baixo da túnica, entre suas pernas. Beza não entendeu o que se passava, se aproximou e observou os dedos da mulher apertando seus seios e o braço roçando entre suas pernas. - Mãe?! - ela falou baixo, mas Eralógon percebeu pois ergueu a cabeça e olhou diretamente nos seus olhos.

Sua expressão era de ternura, que não parecia combinar com o prazer que estava experimentando. Ela continuava esfregando os seios e a mão por entre as pernas, e Beza deixou que uma das mãos caísse pelo seu ventre, sem se dar conta, até que seus dedos pressionaram o tecido contra seus lábios inferiores. Sua mãe gemeu alto novamente, e ela acompanhou, sentindo o toque e o prazer até então desconhecido. Entreabriu os olhos e percebeu que sua mãe não olhava mais nos seus olhos. Ela parecia olhar além dela, e tinha uma expressão de desejo.

Ouviu, então, o som de algo raspando o chão, atrás de si.

Brumas de AeolusOnde histórias criam vida. Descubra agora