8 - Irmandade

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Desde que entramos no carro de Hoseok, o clima de tensão já estava no ar. Seokjin e Jimin competiam quem estava com a pior cara. Já previa a hora em que um voaria no pescoço do outro e tiraria sangue a dentadas.

— Irresponsáveis. — Murmurou o mais velho quase que escarrando a palavra.

Eu sabia que aquilo poderia ser o gatilho de uma briga, por isso torci em silêncio para Jimin não reagir.

— Eu estou cansado, Park Jimin. — Enquanto resmungava, os olhos de Seokjin permaneciam direcionados à janela, mas a única coisa visível àquela hora da noite eram os reflexos das placas de trânsito à beira da estrada, iluminadas pelo farol do carro.

Hoseok vigiava o banco de trás pelo retrovisor. Sua posição era a mesma que a minha: mero espectador da intriga prestes a acontecer. Diferente do que eu esperava, Jimin permanecia assustadoramente quieto no banco do passageiro.

— Vocês só podem estar me achando com cara de idiota. — Resmungou o mais velho pela terceira vez, em um murmúrio baixo, após uma pausa um pouco mais demorada desde a segunda provocação.

Jimin virou-se para trás e o encarou com uma fisionomia assustadora, entretanto, um toque pacifista de Hoseok no braço do mais novo o fez virar-se para frente novamente. Eu sabia que a confusão estava prestes a acontecer. Hobi também sabia.

— Eu vou ter que parar o carro? — questionou o castanho diretamente ao mais velho que não o respondeu.

Park Jimin tinha o pavio curto e um temperamento extremamente explosivo. Seokjin estava testando sua paciência de um jeito arriscado.

Quando o mais velho abriu a boca pela quarta vez, cheguei a trancar os olhos, certo de que naquela hora Jimin iria revidar — mas não revidou. Meu músculo cardíaco sinalizou perigo. Situações de tensão sempre me causavam cólicas abdominais.

Por favor, hyung, para de falar, ele está quieto... A súplica veio em pensamento.

— Eu não quero mais ver vocês dois juntos.

Pronto.

— Você-não-tem-que-querer-nada. — Rosnou Jimin separando as palavras como sílabas. Notei a cara de preocupação de Hobi ao volante. A minha não era diferente.

Parecia que Jin desejava, desde o princípio, que Jimin reagisse a suas provocações.

— Eu não queria, Park Jimin. Não queria ter que me preocupar. — O moreno colocou a mão acima do encosto da poltrona à sua frente, onde Jimin estava assentado, e inclinou-se para incitá-lo ainda mais perto do ouvido. — Eu não queria ter um irmão estúpido que não pensa além do seu próprio umbigo. Me explica, Jimin, como é pensar com a cabeça do pau ao invés de usar a cabeça de cima?

Foi apenas um click da fivela do cinto sendo destravada e um leão furioso saiu do banco da frente e partiu para cima do moreno, enchendo-o de socos, joelhadas, ou qualquer outra parte do corpo que tivesse potencial para atingi-lo, mesmo com o carro em alta velocidade na pista. Eu nunca havia presenciado uma cena daquelas na vida. Eles realmente queriam se machucar.

Hobi jogou o carro bruscamente no acostamento, ligando a luz interna do veículo. Ele gritou para os dois irmãos pararem, mas foi o mesmo que dizer para duas paredes. Me encolhi no canto, sentindo o carro tremer a cada pancada que um tentava acertar no outro a centímetros de distância de mim.

Eu não gostava de ver Jimin irritado. Ele se transformava em outra pessoa. Não era o Jimin que eu queria.

Hoseok não conseguiu separá-los apenas projetando seu corpo entre os dois bancos da frente. Foi preciso que ele descesse do carro, abrisse a porta de trás e, além disso, pedisse minha ajuda. Hesitei em ajudar, é claro. Não queria me meter na briga dos irmãos, como Hani havia sugerido. Eu não sou e nunca fui um cara de brigas, principalmente quando envolve agressão física.

O Acampamento do Tio Park || JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora