YOU PRICK

0.7

Taehyung

Não me lembro de chegar a casa, nem prestei atenção ao caminho que percorri para alcançar a moradia. A verdade é que meus pensamentos estavam a mil, não conseguia perceber qual o problema do moreno e sua implicação comigo. Por mais que tentasse esquecer, suas palavras faziam questão de perfurar meu coração de forma cortante, o fazendo sangrar e doer contra minhas costelas — sentimento que eu não conseguia descrever em uma palavra apenas, mas que sabia que não era bom.

Me questionava do porquê de Jeongguk querer sempre saber de minha relação com Bogum ou o porquê de ele se meter em minha vida amorosa — como aconteceu com Changkyun. Provavelmente, ele apenas gostava de dificultar as coisas de quem ele não gostava, mas ele não necessitava de se dar ao trabalho de defender tanto o amigo, afinal, o outro era crescidinho o suficiente para saber tomar conta de si. Eu não estava traindo ninguém, apenas estava explorando as hipóteses que tinha, qual o mal disso?

Talvez eu estivesse realmente irritado, visto que minha mãe, a qual eu não sabia que estava em casa, se assustou quando eu, finalmente, cheguei a casa. Bati a porta com força, ouvindo o grito agudo e alarmado que saiu de seus lábios, enquanto eu suspirava e tentava melhorar minhas feições, de forma a que a mesma não notasse que algo me perturbava — o que escuso de dizer que foi em vão. As mães parecem ter uma espécie de máquina dentro delas que as permitia perceber os sentimentos dos filhos sem nem mesmo precisar de se esforçar.

— Meu bolinho de açúcar, você chegou! — o seu corpo esguio e repleto de roupas caras saiu da cozinha, o barulho de seus saltos altos batendo contra o piso encerado provocavam um som que, nesse particular momento, me irritava. No entanto, nada disse, colocando um falso sorriso em meu rosto. Quando seus olhos caíram sob minha figura, sua felicidade foi, gradativamente, desaparecendo. — O que se passa, Tae?

— Nada, mãe, porque pensa isso? — eu continuava tentando disfarçar, enquanto a mesma seguia sua inspeção perante mim. Passados poucos segundos, a mesma cruzou os braços, suas jóias no pulso tilintaram ao se chocarem, me olhando, brava, como se pedisse para eu dizer a verdade. Eu suspirei, porém, permaneci firme, sem ceder. — Omma, não ac...

— Não venha com mentiras para cima de mim, Kim Taehyung! Você saiu de mim, menino, eu te conheço há dezasseis anos, já deveria saber que esse sorrisinho falso não funciona comigo. — concluí que era impossível enganar a mulher, então, desmanchei minha pose feliz, fitando o chão com os ombros caídos. Mais uma vez, o ruído de seus sapatos foram ouvidos e rapidamente senti os seus membros superiores me embrulharem em um abraço apertado, o calor que ela transmitia levava paz até meu coração. — Meu bebê, vem, se senta aqui com a mamãe, sim?

A mais velha me levou até ao sofá comprido — apesar do espaço disponível, seu corpo permaneceu colado ao meu — e acariciou minha cabeleira escura, de um jeito carinhoso e maternal, ficando assim por alguns minutos. No entanto, eu sabia que sua curiosidade estava para além de gigante, eu a sentia hesitar quando tentava sibilar algo e, após tempos sem nada falar, a mesma resolveu me questionar o porquê de eu estar tão sem ânimo.

— Tae, você sabe que pode confiar em mim para tudo certo? — eu assenti, ainda com minha cabeça em seu peito, ouvindo seus batimentos cardíacos baixos e calmos. — Não me quer contar o que se passa e porque chegou parecendo um furacão em casa?

Dessa vez, eu neguei, soltando uma risadinha baixa acompanhada de um sorriso por sua frase. — São só alguns problemas lá na escola, nada de grave, não precisa se preocupar, mãe. Eu consigo resolver sozinho, eu sempre consigo, você sabe.

— É... hum, algum rapaz? — ela balbuciou, sua voz parecia vacilante e eu sabia que ela tinha apenas chutado um palpite, afinal, desde que chegara a Daegu, eu nunca me havia queixado de nada nem de ninguém de minha nova escola. Suspirei, derrotado por ela sempre parecer saber de tudo sem eu nem dizer nada.