Sentinela (Crônicas de Táiran #1) [Degustação]

Nove

Mesmo tendo me separado da frota c’erit horas antes de chegarem ao ponto de encontro, eu teria pouco tempo de vantagem quando chegasse ao retiro. Tinha precisado fazer um desvio para não correr o risco de ser percebida pelos sensores que os airenis certamente teriam instalado ao redor da velha base, e isto havia me custado algumas horas preciosas. Através da nossa ligação, eu podia sentir a ansiedade de Kai. Eles já estavam à caminho, mas isto era tudo que eu conseguia entender.

– Nave, identifique-se. – uma voz masculina soou, através do comunicador da nave, com a brusquidão característica dos Guardiões.

– Arqui-Guardiã Aíla respondendo ao pedido de reforços. – respondi, enquanto enviava meu código de identificação.

Houve um instante de silêncio, enquanto eu continuava a me aproximar do retiro. Aquele lugar tinha sido uma das bases de apoio dos Guardiões, antes de todas elas serem desativadas. A grande estrutura pairava à minha frente, a entrada para o hangar ainda fechada.

– Arqui-Guardiã, agradecemos sua resposta, mas sua presença não estava registrada nessa região. – o mesmo homem voltou a falar, e pude perceber a suspeita em sua voz.

– Estava em uma viagem pessoal, após terminar uma missão, quando recebi o chamado. – menti, sem hesitar.

Desta vez eu ouvi alguns ruídos diferentes assim que terminei de falar, antes do sinal ser cortado. Parecia que havia mais pessoas na sala de controle, mas suas vozes não tinham soado como as dos Guardiões. Respirei fundo, uma possibilidade tomando forma em minha mente. Mais complicações.

– Arqui-Guardiã, recebemos informações de que está trabalhando em conjunto com os c’erit. – a voz tornou a soar. – Peço que se retire do perímetro da base, ou será detida.

Era a segunda vez em menos de três dias que eu ouvia isso. Mas as palavras do Guardião confirmavam o que eu tinha pensado. Os airenis fariam de tudo para que eu não pousasse ali, e não tinha tempo para provar aos Guardiões o que estava acontecendo.

Sem hesitar, alterei minha percepção, lançando meu poder na direção da base. A distância não existia naquele momento, e toquei de leve as mentes dos Guardiões. Pelo menos uma pessoa ali teria os códigos de acesso de nível superior, e eu precisava deles para abrir o hangar sem permissão da base. Ali. Meus dedos se moveram, enviando o código que eu via na mente de um Guardião. Fácil demais.

O hangar começou a se abrir, e me posicionei, pronta para entrar assim que tivesse um espaço mínimo. Aquela parte da minha percepção que ainda estava atenta às pessoas no retiro podia perceber a agitação e o alarme de todos, enquanto tentavam cancelar a abertura. Tarde demais. Entrei no hangar, dando o comando para fechar os portões antes mesmo de pousar.

Foram precisos alguns segundos para os lacres tornarem a se fechar e o gerador de atmosfera ser ativado. As luzes de segurança ainda brilhavam no hangar, mas eu sabia que vários Guardiões já estavam à minha espera, assim como os dois airenis.

Saí da minha nave em um salto, a porta se fechando atrás de mim. Dois Guardiões avançaram, tão depressa que seus movimentos eram apenas um borrão. Mas eu podia ver em suas mentes, sabia o que fariam. Sem dificuldade, me desviei deles, indo em direção às escadas que levavam para a saída do hangar. Lá em cima, o Arqui-Guardião responsável pelo retiro, o mesmo de quem eu roubara o código, esperava, os airenis atrás dele.

– Arqui-Guardião, você está protegendo dois guerrilheiros airenis! – eu gritei.

Não esperei para ver sua reação, me virando para os dois Guardiões que voltavam a atacar. Me desviei de um deles, enquanto acertava um golpe no pescoço do outro, rápido demais para que ele se defendesse. O homem caiu, sua respiração ruidosa e hesitante, e ficou onde estava. Sabia muito bem que se eu tivesse colocado um pouco mais de força no golpe ele estaria morrendo agora.