Eu acompanhei Kai quando ele saiu para o hangar principal. Pelo que vira no mapa, ele seria quase quatro vezes maior que o hangar onde pousara minha nave ao chegar, e sua entrada estava escondida por uma ilusão. Era lá que as grandes naves e as naves capitais ficavam, fora das vistas de qualquer um que entrasse no Reino.
Enquanto atravessávamos a cidade a passos rápidos, os olhares me acompanhavam. Podia reconhecer surpresa, admiração, e também um pouco de medo na expressão daqueles que percebiam o que eu representava. Mas, para minha surpresa, havia medo misturado ao respeito quando olhavam para Kai, também.
– O que dirá para aqueles que viram sua ilusão? – perguntei, me lembrando de como ele dissera que tinha me escoltado para fora do Reino.
– Não direi. – ele sorriu de leve. – Deixe que tirem suas próprias conclusões.
O que significava que aqueles que sabiam que os poderes de ilusão não estavam extintos imaginariam que eu tinha esta habilidade, enquanto os outros provavelmente pensariam que era algum truque dos Guardiões. Útil, de ambas as formas. Eu balancei a cabeça, contendo uma expressão divertida. Aquilo serviria para aumentar o efeito da minha presença ali... E eles ainda não sabiam que eu era tairi’alen.
Paramos na base do fosso, e Kai se virou para me encarar, estendendo a mão.
– Temos tempo, se preferir subir as escadas.
Segurei sua mão sem hesitar, mesmo que tenha precisado fazer um esforço para me manter impassível. Tanta coisa havia mudado desde que ele se oferecera para me levar a primeira vez, que era difícil pensar que mal havia se passado um dia. Apenas um dia.
Com um olhar intenso, Kai me puxou para um abraço, seus braços me prendendo firmemente antes de tudo ao nosso redor se tornar um borrão. Fechei os olhos, sabendo que teria uma reação forte, não importava o que fizesse. Ser uma passageira em um trajeto vertical era muito diferente – pior – do que em um caminho horizontal.
A parada veio de forma abrupta, como eu tinha imaginado. Ele não me soltou, e só por isso não caí, enquanto me forçava a engolir a bile que subira. Da próxima vez eu usaria as escadas. Alguns segundos depois, recuperada, eu me afastei dele. Nossos olhares se encontraram por um instante, antes de Kai se virar na direção da entrada do hangar. Pensei ter visto mágoa ali, mas não fazia sentido. Ele mesmo havia deixado claro que eu era apenas uma ferramenta, e que o que acontecera entre nós tinha sido apenas por suas funções práticas.
Mas não adiantava nada ficar pensando sobre isto, eu precisava me concentrar no resgate que faria. Jogando o assunto para o fundo da minha mente, segui o rei c’erit até o hangar principal.
A primeira impressão que tive foi de movimento. Por toda parte, eu podia ver as pequenas naves – muitos caças e algumas corvetas –, seus pilotos e equipe de suporte conferindo os sistemas e fazendo alguns últimos ajustes. Um ruído suave me fez olhar para cima, e quase parei, surpresa. Não conseguia ver o teto. Ao invés disto, podia ver vários modelos de cruzadores, e o que parecia ser um couraçado acima deles. Um olhar mais atento me mostrou suportes agora recolhidos dentro das paredes, alguns deles ainda recuando, as naves já estavam em pleno funcionamento. Na direção oposta à nossa, diversas grandes plataformas içavam suprimentos para dentro das naves, e alguns pilotos decolavam com seus caças para pousar no hangar de alguma das naves acima de nós.
Ninguém parou o que estava fazendo ao ver Kai, e isto era um ponto positivo tanto para eles quanto para o homem. Ainda assim, muitos olhares se demoraram em mim.
– Já reservaram espaço para sua nave no hangar do meu cruzador. – ele falou, vendo a direção do meu olhar. – Assim que terminar de dar as últimas instruções te mostrarei como trazê-la do hangar público para cá.
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Sentinela (Crônicas de Táiran #1) [Degustação]
Ciencia FicciónDesde sua criação, ninguém atravessara os portões do Reino C'erit. Ninguém sabia o que acontecia por trás dele, ou o que acontecera com as pessoas que, tempos atrás, haviam se instalado ali para construir um novo lar. Por isto, até mesmo os Guardiõe...