Dez

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Nunca desejei tanto estar errada quanto naquele momento. Podia sentir os airenis desembarcando e avançando em formação, um número grande demais para que tivesse alguma chance de vencer e sobreviver. Rapidamente, espalhei meu poder, analisando os caminhos que eles poderiam tomar para ir até o cofre. Sim, a única rota direta para lá passava pelo salão onde eu estava. Os outros caminhos já tinham sido lacrados, e seria mais fácil passar por uma única Arqui-Guardiã do que abrir caminho a força.

Eu esperava que pensassem assim.

Me afastei da porta da sala segura, apenas o suficiente para ter espaço para me mover confortavelmente. Um instante depois, eu balançava a cabeça, me xingando mentalmente, antes de parar diante da porta fechada que levaria para o cofre. Eles precisavam acreditar que estava defendendo apenas a saída. Ninguém podia sequer suspeitar que Edel estivesse ali. Especialmente se tínhamos traidores entre os Guardiões.

Os minutos se estenderam. Mantive minha percepção alterada, pronta para usar meu poder da melhor forma possível quando os primeiros airenis chegassem até ali, mesmo que já soubesse como aquela luta terminaria. Eram guerreiros demais para eu enfrentar sozinha, e não podia arriscar os outros Guardiões. Não, eu precisava ganhar tempo, e garantir que matasse qualquer ilusionista. Era a única chance.

O primeiro grupo de guerrilheiros se aproximou em silêncio, vindo diretamente do hangar. Podia sentir seu cuidado ao se aproximarem da porta do salão e a sensação de antecipação e medo da maioria deles. Eram doze. Alvos fáceis. Percebi quando o que vinha à frente sinalizou para os demais que só havia uma pessoa no salão, e o alívio que sentiram.

Vestindo uniformes que pareciam ser quase idênticos aos que os airenis que tinham abusado do meu povo usavam, eles entraram no salão, se espalhando em um semicírculo e vindo em minha direção. Fácil demais.

Meu poder se fixou nos guerrilheiros, os envolvendo por um instante. Com um impulso de vontade, eu arrebentei os fios que os prendiam à vida, seus corpos caindo com o ruído metálico de armas. Fechando os olhos, respirei fundo, tentando afastar a vertigem. Era a primeira vez que matava tantos de uma só vez usando meu poder, e não estava preparada para aquela sensação de desorientação.

E aquela voz dentro de mim, que deveria ser minha consciência, já tinha sido silenciada há muito tempo, antes mesmo de eu me tornar uma Guardiã. Matar não me incomodava, não mais. Eles tinham feito sua escolha, da mesma forma que eu fizera a minha. E todos nós teríamos que lidar com as consequências.

Mais guerrilheiros se aproximavam, sua apreensão facilmente perceptível. Esperavam estar ouvindo gritos e ruídos de luta a essa altura, mas só havia o silêncio e os passos. Sorri de forma amarga, pensando em como aquilo era injusto. Eles não tinham nenhuma chance.

Mas lutas justas não existem na vida real.

Estendi meu poder mais uma vez, começando a envolvê-los antes mesmo de chegarem até a porta. Eram apenas dez, e eu queria garantir que não tivessem a chance de me atacar. Até mesmo uma Arqui-Guardiã teria problemas para enfrentar tantos adversários ao mesmo tempo.

Um instante de surpresa, e então todos eles estavam mortos, seus corpos caindo logo antes da entrada do salão.

Desta vez pude ouvir passos apressados, e senti o choque de um dos airenis ao entrar no corredor e ver os corpos caídos. O medo veio logo em seguida, e ele recuou ainda mais apressado. Não contive meu sorriso. Agora todos saberiam quem estava esperando no salão.

O próximo grupo a se aproximar não se preocupou em fazer silêncio. Já sabiam que seria inútil. Eles estavam em maior número, e não conseguia contá-los com certeza, minhas forças começando a ser afetadas pelo que tinha feito. Respirei fundo uma vez, enquanto esperava que chegassem ao salão.

Sentinela (Crônicas de Táiran #1) [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora