Ellena
Eu e o Júnior estávamos radiantes. Decidimos não contar para ninguém, nem para nossa família, a respeito do bebê até que eu estivesse próxima de completar 3 meses de gestação.
Naquela semana adiantei tudo que podia no escritório para sair mais cedo na sexta-feira. Comemoraríamos a gravidez com uma noite de filmes, guloseimas e conchinha no sofá. Nosso programa de casal predileto. Até o tempo colaborou enviando uma chuva fininha e frio.
Quando finalizei minhas tarefas do dia e levantei da cadeira para ir embora senti uma pontada estranha no pé da barriga. Tentei não me desesperar, afinal, gravidez deve ser assim mesmo. Iria me policiar para não fazer tantos movimentos bruscos.
Ao pegar minha bolsa, outra pontada. Dessa vez bem mais forte. Uma onda elétrica de medo passou pelo meu corpo e eu comecei a tremer. Não sabia se era o nervoso ou a dor que aumentava a cada segundo.
Decidi sentar novamente para esperar passar. Foi quando vi o sangue ensopar minha calça de alfaiataria. Naquele momento eu sabia tudo o que estava acontecendo. A dor me inundou por completo. Tanto a dor física quanto a emocional.
Liguei para o Júnior me encontrar no hospital. No fundo, por mais que ele tentasse me acalmar, ele também sabia que nosso bebê estava partindo.
Saímos do hospital horas mais tarde com a confirmação do aborto espontâneo e uma lista de remédios que eu deveria tomar. Meu marido segurava minha mão e dizia que tudo ficaria bem. Eu também confiava nisso, mas só conseguia me sentir completamente vazia por dentro.
Seguimos com nossa programação de filmes e sofá como previsto. Passei a noite em silêncio e sem prestar atenção em nada. Não chorei em nenhum momento. Só fiquei estática, tentando absorver tudo. Meu marido respeitou meu silêncio e também não falou nada.
Perto da meia noite, Júnior anunciou que iria dormir. Eu só disse que ficaria mais um tempo ali e ele concordou. Deu um beijo cuidadoso na minha cabeça e foi para o quarto.
Fiquei olhando as gotas de chuva escorrendo pela janela até mais de 1h30 da manhã. Num impulso peguei o celular e liguei para o único nome da minha agenda que me faria colocar tudo que eu estava sentindo para fora.
- Elle?! Aconteceu alguma coisa? - Thiago atendeu no primeiro toque. A voz dele estava sonolenta, apesar de saber que provavelmente ele não estivesse dormindo ainda.
- Eu perdi o bebê. - disse rapidamente e logo em seguida o choro veio.
- Ah, Elle! - ele disse surpreso tentando assimilar, afinal, eu não havia contado que estava grávida - Você foi ao médico? Está se sentindo como?Eu não conseguia responder, só chorava. Talvez por me conhecer muito bem ele tenha entendido que eu só precisava chorar. Eu quase não chorava para ninguém e só ele me deixava suficientemente à vontade pra isso.
- Põe pra fora, Ell! Eu tô aqui... - disse ele.
Eu devo ter ficado uma meia hora só chorando e ouvindo ele respirar do outro lado da linha. Vez ou outra ele falava algo como "vai ficar tudo bem" ou "logo você terá outro bebê". E talvez eu acreditasse só pelo fato de ser ele me dizendo.
Quando me acalmei, agradeci por ter me atendido e ficado lá. Pedi desculpas pela hora e ele só disse que não se importava.
- Eu tô aqui pra tudo Ell... - ele disse - Eu te amo.Fiquei mais um tempo na linha, absorvendo a presença dele. Desliguei a ligação sem dizer mais nada, não consegui falar que o amava de volta. Mas eu sei que ele entenderia.
Os sinais de cansaço começaram a invadir meu corpo. Antes de ir dormir, passei na cozinha para beber água e uma mensagem apitou no celular na minha mão. Era Thiago me enviando um emoji de anjinho e um coração.
Pela primeira vez naquele dia eu consegui sorrir.
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Smile
RomanceEllena (Elle) é uma empresária artística dona de uma empresa que agencia blogueiros, pequenos atores e comediantes. Seu melhor amigo e affair, Thiago, é a principal estrela da sua agência. Eles se conhecem desde a escola, são melhores amigos com ben...