Eu, você e Deus

251 31 1
                                    

Depois que ela fechou a porta, Thiago tinha certeza que não conseguiria mais pregar o olho. Levantou da cama e esperou para vê-la indo embora. Viu quando ela colocou a mala no uber e ficou acompanhando o carro se perder na linha do horizonte.

Só quando não podia mais vê-la, foi abrir seu presente. Ele tinha esquecido de comprar o dela, como sempre. Talvez ela nem esperasse receber nada mais mesmo, mas tentou anotar mentalmente para comprar alguma joia.

A caixinha cinza e quadrada estava encostada na parede, coberta por um papel branco de fundo floral. A letra em caneta lilás era a mesma letra redonda que ele conhecia e amava. Ellena tinha o dom de escrever bonito, tanto em verso quanto em forma.

"Thi,
Não sei o que o futuro reservará para nós dois, mas queria que você sempre lembrasse que o nosso elo sempre vai existir de alguma forma. Fica a lembrança para te levar comigo em seu peito... nem que seja literalmente.
Obrigada por mais esse ano. Te amo infinito, cabeçudo. Se cuida!
Eu, você e Deus. Sempre🔺️"

Quando abriu a caixinha ele viu um cordão de prata longo com um pingente de triângulo equilátero vazado. Em cada ponta do triângulo uma pequena pedrinha brilhante: eu, ela e Deus. Como sempre foi a vida.

Flashback
Naquele dia, depois de chorar tudo que tinha dentro dela, Ellena sentou na cama e olhou para o seu melhor amigo que também derramava algumas lágrimas.
- Você sabe que eu odeio te ver assim, né? - disse ele triste - Mas hoje eu não vou fazer piada para tentar te animar não. Eu não sei a dor de perder um pai, principalmente o tio Zé, que te amava tanto, Ell...
Ela não conseguia falar nada, sua respiração ainda estava pesada depois da crise de choro. Só encostou a cabeça no ombro dele e deixou que ele limpasse suas lágrimas.
- Não ache que você está sozinha nesse mundo, não... - ele continuou - Nessa vida sempre foi eu, você e Deus. E vai ser sempre assim. Nós três contra o mundo.
- Eu, você e Deus. - ela conseguiu repetir baixinho enquanto segurava a mão dele.

Naquela tarde eles não falaram muito mais. Ele permitiu que ela chorasse o tanto que ela achasse necessário. Sabia que no momento que ela levantasse daquela cama, ela nunca mais choraria. E assim foi.

Antes dela ir embora, ele depositou um beijo nos lábios dela com carinho. Passou um tempo acariciando o rosto dela. E ela, sem nenhuma palavra dita, entendeu o recado.
- Eu, você e Deus - ela disse em voz alta. E então voltou para casa, para a realidade que ela teria que enfrentar sem o pai dali em diante.
Fim do flashback

Quando ele pegou o cordão na mão se permitiu chorar sozinho pela falta que sentiria dela nos próximos dias. Colocou o presente no pescoço e decidiu que aquele seria seu amuleto. E foi continuar seu dia.

No banho gelado ele percebeu o óbvio: só ele poderia mudar tudo aquilo. Ele amava ela. Ela amava ele. Só precisava da decisão dele em tornar tudo aquilo oficial. Então decidiu: aquele seria o último ano novo solteiro. No primeiro mês do ano seguinte ele a pediria em casamento.

Olhou pro céu pela janelinha do banheiro sorrindo e apontou:
- Seu Zé, eu vou casar com sua filha! Eu vou casar com o amor da minha vida.

Agora tudo fazia sentido!

SmileOnde histórias criam vida. Descubra agora