Capítulo 10 - Beatriz

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Passei as últimas horas catalogando e registrando um arsenal de livros. Amava meu trabalho, tudo relacionado as histórias que davam vida a biblioteca pública de Curitiba.
Não era costumeiro trabalhar nos finais de semana, mas gostava do silêncio das imensas salas cheias de livros. Adorava o cheiro das folhas antigas, até mesmo empoeiradas. Foram meses buscando uma vaga de emprego na Biblioteca Pública do Paraná, lutei para chegar onde estou. 
Sou assistente do Diretor, tenho minha própria sala e buscamos fazer da biblioteca um local de convivência, as pessoas precisam ter mais contato com livros. 
A leitura pode salvar vidas, ela proporciona um mundo de possibilidades. 
Olhei no relógio, eram quase cinco horas da tarde. Bom, acredito que chegou a hora de ir embora. 
Terminei de arrumar os livros dentro das caixas, depois peguei minha bolsa e a chave do meu carro. Tenho poucas horas até o jantar no apartamento da Janaína, evitei o máximo não pensar nos irmãos Vasconcelos, principalmente em cada detalhe lindo e intimidador do William. 
Os reencontros sempre serão difíceis, não importa os significados ou às vezes que sorrimos juntos. Nunca vamos estar preparados para rever alguém que um dia fez nosso coração bater mais forte, mesmo quando éramos apenas uma criança que não sabia nada sobre amor ou sobre as lições da vida. 
Não sabemos o que dizer, não sabemos como aquela pessoa vai reagir, se ela também vai ficar feliz ou até mesmo a vontade com a nossa presença. São muitas questões que devemos colocar na balança, eu tinha cinco anos quando conheci a família Vasconcelos, quando a minha mãe biológica começou a trabalhar na Mansão. Foram dois anos convivendo com eles, aprendendo a identificar os olhares repletos de carinhos do William, a timidez adorável do Samuel, o jeitinho desastrado da Dona Leonor e também os cuidados do Senhor Vasconcelos. 
Agora eles são todos desconhecidos! 
Inspirei profundamente, controlando meu nervosismo. Não era hora para pensar no plano louco da Janaína, ela acredita fielmente que vou dormir com o William Vasconcelos. 
O sexo casual pode ser muito prazeroso para pessoas normais, para pessoas sem transtornos… chega Beatriz Oliveira, apenas esqueça o seu passado. 
Gostaria de redescobrir o meu prazer, buscar a minha satisfação sexual, sou uma mulher adulta de vinte e seis anos e bem-sucedida, quero tentar… quero muito sentir tesão na cama!
Relembrei uma frase da minha terapeuta: mas se você não está aberta para o prazer, as suas tentativas serão frustrantes. 
Ela tem razão, primeiro preciso abrir a minha mente e estar preparada para receber os toques do meu parceiro. Não posso ficar evidenciando tentativas frustradas, com outro homem pode ser diferente. 
Quando cheguei no meu apartamento, corri para me arrumar. Escolhi um terno feminino, por baixo do blazer usei um cropped rendado e com um decote impressionante. Algumas gargantilhas estilo gravata que desciam charmosamente até meus seios volumosos. Antes de sair, respondi uma sequência de mensagens das minhas mães, elas sempre fazem as mesmas perguntas. É quase automático: “Já chegou em casa?”, “Como foi o trabalho?”, “Você almoçou bem?”, “Não esqueça nosso jantar no Hotel Florença”. 

— Amo vocês. — murmurei, olhando para tela do celular. Fernanda e Naya eram mulheres fascinantes, amantes de livros e professoras. 

Fernanda ainda lecionava em um seminário, também em um colégio privado na cidade. No entanto, Naya decidiu investir no mercado estético, ela ama tudo relacionado ao ramo da beleza. Às duas são extremamente apaixonadas, amigas e companheiras leais. Elas me amam muito, não tenho palavras para agradecer o amor e a dedicação delas. Hoje sou uma mulher bem-sucedido, realizada profissionalmente e feliz, porque Deus colocou dois anjos na minha vida. Ainda carrego alguns traumas, problemas psicológicos, mas são problemas que a Fernanda ou a Naya não conseguem apagar. 
Elas já fizeram e ainda fazem tanto por mim, não quero explicitar algo que ninguém vai mudar. 
No caminho até o apartamento da minha amiga, faço uma pequena prece mental:

Não vou ficar nervosa, não vou ter crises de ansiedades e não vou desmaiar novamente.

Mordi meu lábio inferior. 
Acho que posso evitar o desmaio, as minhas crises, mas o nervosismo… isso não vou conseguir evitar. 
Estacionei meu carro na garagem do prédio, antes verifiquei meu batom no espelho interno do carro. Percebi que acabei borrando a lateral do lábio inferior quando mordi. Droga… Procurei meu batom vermelho dentro da bolsa. 
Uma Picape belíssima entrou no estacionamento, ela tinha um tom meio bordô. 
Meu sonho de consumo era uma Picape. Infelizmente, meu salário ainda não cobre as parcelas de uma Hilux Cabine Dupla. 

Suspirei fundo. 
Não custa sonhar, Beatriz! 

Liguei o alarme do meu carro, seguindo até o elevador. Apertei o botão, em seguida ouço uma risada descontraída, depois portas de carros se fechando, ao me virar para ver do que se tratava, fiquei completamente inerte. 
Acho que um dia a minha curiosidade vai acabar me matando! 
Os irmãos Vasconcelos estão seguindo na minha direção. 
O mundo parou nesse instante, tenho certeza que faltou até oxigênio no meu sangue. O ar simplesmente não chegava nos meus pulmões. 

Apertei o botão novamente. 
Elevador demorado…
Elevador filho de uma… 

— Boa noite, Beatriz Oliveira. — William ronronou num tom sensual. 

Fecho os olhos por alguns segundos, virando-me lentamente. 

— Boa noite, William. — A minha voz chegou, mas meu coração… ele perdeu completamente o ritmo. 

Will estava deslumbrante, mesmo usando uma roupa casual. Apenas uma calça jeans, uma camisa simples e um blazer preto por cima. As mangas estão levemente arregaçadas, mostrando um belíssimo relógio e algumas pulseiras. 

Ele era lindo… 

Muito lindo! 

Não era uma beleza comum, algo que podemos encontrar em um Caffe, enquanto aproveitamos a companhia de um livro e bebemos um cappuccino. 
William tinha uma aparência angelical, mas o seu olhar… Engulo em seco, era como encarar as chamas do próprio inferno. Não tinha como ignorar seus olhos-castanhos, eles são ardentes e intensos, até mesmo o seu sorriso era repleto de malícia. 

— Suponho que vamos apreciar o mesmo jantar? — Indagou, prendendo o seu olhar no meu decote. 

— Acredito que sim! — Respondi meio resignada. 

A porta do elevador abriu… 
Finalmente, mas que demora. 
Entramos, os três em silêncio. 
Samuel também estava tão lindo, ele tinha um estilo mais esportivo. Discretamente reparei nas roupas, Sam estava usando uma camiseta vermelha, tinha uma camisa amarrada na sua cintura, a calça jeans era mais clara, mas… 

— Beatriz, posso ajudá-la? 

O quê? 

Levantei meu olhar, flagrando o Samuel com um sorrisinho no rosto. 
Ele percebeu, que vergonha! 

— Eu gostei da camisa. — Disse sem pensar direito. 

Ele começou a rir. 

— É um prazer revê-la; — Samuel estendeu a mão. — Desculpe o meu equívoco na festa de casamento, mas não reconheci você. 

Aceitei o cumprimento. 

— Está tudo bem, faz muito tempo. Você não pode lembrar de cada pessoa que passou rapidamente pela sua vida. 

Ele concordou sutilmente com a cabeça, olhando nossas mãos entrelaçadas. 

— Você está com frio? A sua mão está muito gelada…

— Ela não está com frio; — A voz do William sobrepôs. — Está nervosa! 

Soltei a mão do Sam, notando o sorriso predador no rosto do William. 
Era nítido a diferença entre eles. Samuel tinha uma postura mais reconfortante, mantinha um tom tranquilizador, lembrando uma brisa de verão. William, era intimidador, ele transmitia luxúria e astúcia, lembrando o próprio inferno. Ele era uma reprodução perfeita do pecado, um fogo primitivo que vai destruir tudo que tocar. 
Eu estava pronta para responder, mas a porta do elevador abriu, cortando meus pensamentos excitantes sobre o William Vasconcelos. 
Saí rapidamente, preparando meu psicológico para aguentar os olhares repletos de cobiça do milionário sedutor. 


Milionário Sedutor (DEGUSTAÇÃO).Onde histórias criam vida. Descubra agora