Jude e a intimidação

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Fazia algumas horas que Mason tinha retornado à escola, mas eu ainda não tinha dado de cara com ele. Megan se ofereceu para conversar com Mason, mas eu não poderia simplesmente me esconder atrás dos meus amigos o resto do ensino médio, só porque um cara do passado tinha retornado. Meu melhor amigo também perguntou se eu mesmo não queria resolver isso conversando de vez com Mason, já que nunca tivemos oportunidade de conversar apropriadamente. Entretanto, eu era Jude Wallace. Eu jamais iria me rebaixar indo até ele colocar as cartas na mesa, não era meu estilo.

Para a minha sorte e conforto da mente, Mason não fora visto em nenhum lugar da cantina no horário do almoço, mas ouvi boatos de que ele havia assistido algumas aulas de manhã; graças ao bom Deus nenhuma delas era comigo, mas ainda existia o resto do dia e mais outros quatro dias da semana.

A aula de química era logo após o almoço, o que não agradava muita gente, mas eu particularmente amava, porque meu parceiro era Eric Oliver, um cara super lindo e bonito com quem eu saia ocasionalmente. Ele tinha entrado na escola no início do ano letivo e rapidamente consegui ele para o nosso lado da força, antes que Max o devorasse vivo. Pra minha sorte, Eric dava umas eventuais escorregadas, até eu conseguir ter um rolo secreto com ele. Eric dizia pra todo mundo que era super hétero macho alfa, mas adorava dar umas escorregadinhas comigo debaixo da arquibancada após o treino dos garotos do futebol. Eu não me importava com o fato dele querer esconder esses encontros porque eu também queria esconder; ele era muito gato, mas não era muito inteligente. Imaginem só se descobrissem que eu dava umas escapadas com ele, fora que ele era um completo surtado com a sexualidade dele, e eu não era o melhor mentor pra quem não se aceita.

— Você está bem?

Mas apesar de surtado, ele era um bom amigo. Ele não se fazia de tonto, ele realmente era idiota pra diversas coisas, mas mexa com um de seus amigos e ele fica louco. Todo mundo naquela escola sabia do meu passado e do buraco de bala na minha cabeça, então quando ele soube que várias das pessoas daquela escola contribuíram para minha decisão na época, tomou uma raiva deles para si mesmo, tudo porque eu havia sofrido horrores antes mesmo de conhecê-lo. Como um bom amigo, ele estava sempre prestando atenção em mim, estava sempre preocupado.

— Por que pergunta isso?

— Você geralmente é o mais atento nas aulas. Hoje você tá bem longe daqui, nem fez questão de humilhar Max quando a professora fez uma pergunta antes. Então, o que houve?

Eu estava realmente afim de contar a ele que meu maior pesadelo tinha retornado; ele era um bom amigo e seus conselhos eram até melhores que os de Vaught, mas eu não pude respondê-lo, porque fiquei completamente paralisado quando Mason entrou na classe, como se quisesse realmente chamar atenção de todo mundo ali.

— Sr. Harris, o senhor tem consciência de que esta aula deu início meia hora atrás, não tem?

— Sim, sra. Davis. Eu sinto muito pelo atraso. Eu tenho um... — A voz dele percorreu a sala e o meu corpo. Abaixei a cabeça, evitando olhar para ele, que adentrou a sala e entregou um papel para a professora, que revirou os olhos. Com um sinal de mão, permitiu a entrada dele, e então ele passou por entre as cadeiras e se sentou do lado oposto da sala, em uma das últimas cadeiras da fileira, próximo a Simmons.

Entretanto, eu não pude me virar, por mais que quisesse olhá-lo nos olhos e perguntar o que diabos ele tava fazendo. Ele tinha muita coragem mesmo. A professora retomou o assunto, mas eu ainda podia ouvir murmúrios vindo daquele lado da sala; eu não estava feliz pelo seu retorno, mas obviamente Max Oferecida Simmons estava super a vontade com a sua presença, para meu maior desespero. Em pouco tempo, comecei a sentir uma pressão gigantesca na costa, achando que ele estava me encarando. A sua volta me causou arrepios e naquele momento, começou também a me deixar paranoico, porque uma parte de mim achava que ele não teria me esquecido e outra parte achava que ele nem lembrava mais meu nome.

Eu já não sabia mais como me portar naquela aula, hora eu me encostava na mesa; hora na cadeira. Levantei perna, abaixei braço, a borracha não ficava boa em nenhum lugar da mesa e a ponta do lápis parecia não estar perfeita nunca. Eu estava prestes a ter um ataque de ansiedade.

— Gun, você tá suando frio... — Eric se preocupava, mas eu já não sentia mais ninguém dentro da sala de aula; parecia que era apenas eu e Mason na sala, mas o meu eu antigo, espinhento, estranho, medroso e solitário, prestes a ser vítima mais uma vez.

Eu não aguentei: guardei minhas coisas e sai voando da sala. Eu estava com raiva de mim mesmo porque, em todos aqueles anos em que eu tinha me tornado Gun, nunca havia deixado alguém me intimidar, porque eu aprendi a sair sempre por cima. Aprendi a revidar e a não deixar ninguém me fazer de trouxa novamente, mas ali estava eu. Completamente intimidado por Mason Harris, mesmo após tantos anos. Permaneci ali fora sentado no corredor, sem saber exatamente o que eu deveria fazer; se Mason estava de volta, eu teria ainda que ver ele durante um ano inteiro, logo eu precisaria enfrentar sua intimidação em algum momento.

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— Não é possível que esse cara tenha voltado, ele é muito cara de pau.

Atrás da arquibancada ficava um pequeno esconderijo – não tão secreto –, onde eu e Eric geralmente nos encontrávamos. Mas além dele, Vaught, Megan e Ellios eram os únicos que vinham até esse local.

— Você pode falar com a diretora, ela não poderia ter permitido ele voltar, isso não tá no histórico dele?

— Não — balancei a cabeça. — Não houve queixa contra ele. Só existe uma anotação dizendo que ele se meteu em uma briga; não tem nada sobre mim lá.

Desse detalhe, nenhum deles sabia. Minha irmã decidiu não prestar queixa contra ele depois de uma longa conversa que teve com Joshua e o avô de Mason, mas mesmo que não existisse nenhum documento, o bom senso deveria ser algo a ser considerado, certo?

— Chega, eu mesmo posso ir lá tirar satisfação com ele, afinal ele é todo pouquinho, posso dar um chega pra lá nele — Vaught acabou arrancando algumas gargalhadas com sua fala, inclusive de mim, o que me relaxou um pouco depois de um estresse gigante. Mas depois que todos riram, Vaught se sentou ao meu lado, com uma expressão mais séria que antes. — Digo, você enfrentou todo mundo dessa escola. Todo dia você e a Max discutem e tá sempre batendo ela em alguma coisa. Você pode bater o Mason também. Você é melhor do que ele.

— Vaught tem razão — Megan se sentou segundos depois. — Você é melhor do que os dois juntos.

— Não sei se consigo. Bater Max é jogo de criança, mas Mason praticamente criou uma era.

— Não estamos mais no ginásio, Gun. Você criou sua própria era em Devon, pode bater ele também. Você manda aqui.

Eu me levantei. Eles tinham razão, meus amigos tinham razão. Eu poderia batê-lo, eu não deixaria que ele me passasse a perna apenas por estar ali, e mesmo que ele não lembrasse de mim, o resto da escola faria questão de lembrá-lo.

— Não vou falar com ele — era minha decisão final. —Mas não vou deixá-lo me intimidar. Já fazem alguns anos, já sou crescido.

— Bem, é isso mesmo — Vaught disse. — Agora vamos, vai ter teste do basquete daqui a pouco e eu sei que você quer babar o Ellios.

Mais do que a completa razão deles de eu tentar não me deixar intimidar, ninguém além deles poderia saber que eu estava com a mente tão vulnerável assim, ainda mais por causa da chegada de, tecnicamente, um mísero novato. Seria desastroso se isso viesse à tona, com certeza alguém tornaria a me fazer de saco de pancadas se eu cedesse a intimidação dele.

Mas afinal, o que Mason Harris queria ao retornar para Branville após tantos anos longe? O que ele ainda tinha para fazer aqui?

Quem Vai Conquistar Mason Harris? - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora