capitulo 12🍃

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" Quando a gente tá arrebentado por dentro, a gente pode até rir, mas a tristeza volta"

— Desconhecido

Boston/ 19 de março / 21:05 pm.

— Tá melhor?

Tomando coragem para vê-lo novamente, apesar de sentir envergonhada - o que não era muito do seu feitio - e também enjoada pelo sangue, Shivani  engoliu em seco se virando, vendo-o sentar no meio fio e tirar a blusa - agora suja de sangue - de seu rosto, notando que finalmente o sangramento havia parado.

— Acho que sim. — Noah  ainda parecia meio desorientado, devido à pancada forte que levara. Lembrou de nunca mais se aproximar mais do que dez metros daquela garota, por ser um perigo para o seu belo rosto.

Mas ela o surpreendeu ao agachar na sua frente, e segurar o seu rosto, dando uma boa olhada no estragado que fizera.

— Não sou nenhuma cirurgiã plástica.. — Começou, umedecendo os lábios, fazendo-o engolir em seco. — Mas acho que não está tão ruim assim.

— Por que...está tremendo? — Ele pôde sentir as mãos frias dela se repuxarem de vez enquanto, ainda segurando seu rosto.

— Eu detesto ver sangue. — Respondeu, mostrando um sorriso nervoso. — E pra ser sincera, eu estou prestes a vomitar com todo esse sangue que saiu de seu nariz.

— Não vomitando em mim... — Ele sorriu, achando graça como ela havia comprimido os lábios, mordendo sua bochecha logo em seguida, provavelmente tentando se segurar.

— Acho que já extrapolei a minha cota em fazer algo com alguém, por hoje. — Ela deixou que suas mãos caíssem para baixo, se sentando ao seu lado no meio fio, o que, com o frio que fazia do lado de fora, era um pouco insano de sua parte. — Me desculpa. Eu realmente não queria acerta-lo.

— Tudo bem.. — Noah  tocou seu nariz, ainda sentindo o mesmo arder, e latejar. — Foi em legítima defesa, não foi?

— Tenho que parar de assistir filmes que abordam perseguições. Já estou ficando paranóica. — Ela soltou uma risada fraca, antes de abraçar as pernas, sentindo o vento gélido bater na sua pele desnuda, a fazendo se arrepiar e estremecer.

— Está com frio? — noah perguntou, já tirando sua jaqueta. Não era nem mesmo para ter feito aquela pergunta boba e idiota, levando em conta que a garota estava cada vez mais se encolhendo ao seu lado.

Ele colocou com cuidado a jaqueta em volta dela, que agradeceu com o olhar.

Parecia meio clichê aquilo tudo, levando em conta todas as situações que haviam acontecido à eles dois. E, apesar de detestar clichês, shivani  até que estava gostando de toda aquela gentileza dele, e daquele sorriso meio torto, que brincava em seus lábios, vez ou outra.

— Mas então... — Ela puxou assunto, sentindo na obrigação de manter a conversa deles ainda se desenrolando. — Cirurgião é?

— Pois é. — Noah  sorriu. — Estou no meu quarto ano de residência. É meio puxado, mas eu gosto de ser médico.

— É legal que faça algo de que goste. — E então, por um momento, noah  chegou a pensar que ela diria mais alguma coisa, principalmente quando seus olhos diziam algo muito além do que apenas aquelas palavras vagas e que saíram em tom de decepção.

— E você? — Ele perguntou, vendo que ela não diria mais nada.

— Eu o quê?

— O que faz? No que atualmente trabalha?
Shivani  mordeu a língua.
Estava prestes a dizer que trabalhava como uma golpista a favor dos pais, e que estava apenas de olho no dinheiro de alguém.

— Eu faço publicidade.

Contou, por fim.
Não era uma mentira, no fim das contas. Ela somente omitiu que sua faculdade estava trancada e que ela, no momento, não fazia nada.

— Parece ser divertido.

Estranho.
Shivani sentiu uma sensação incômoda ao ouvir aquilo, principalmente de alguém que, convenhamos, só conhecia há três ou quatro dias.

A última vez em que ouvira alguém dizer algo sobre sua escolha na faculdade, não fôra bem um elogio. Foi mais um lamento, ou até mesmo descontentamento.
Sua família parecia desapontada, seus amigos - os que, pelo menos, ela achava que eram amigos - a chamaram de tola, e a única que a apoiou piamente em suas escolhas, era somente Sabina.

Mas agora...tinha aquele estranho, que não era mais tão estranho assim.

— Já que é médico... — Ela agarrou sua mão, de repente, o pegando desprevenido, ao levá-la até a região do seu coração. — Sabe me dizer porque meu coração está tão acelerado?

Noah arfou.

Aquela mulher era imprudente e intrigante, e, estava o deixando cada vez mais interessado em conhecê-la melhor.

— O que... — Ele puxou as mãos dele com cuidado das dela, a avaliando. — Está sentindo?

— Palpitações. — Admitiu. Noah ficou admirado em como ela era tão sincera e aberta, e principalmente, transparente como água. — Ah, mais cedo também tive isso. É normal? — Ela pareceu pensativa.

Da última vez em que sentira algo assim, foi pelo seu crush na escola, quando ele havia a notado.

— Acho que não são sintomas de doença. — Ele a fitou confuso, e até mesmo divertido. — Você é bastante maluquinha, shivani paliwal.

— Ainda se lembra do meu nome? — Ela sorriu latino.

— E deu pra esquecer? — Noah  franziu a testa, provocando. — Não faz nem dois dias que nos vemos pela última vez.

— Pela primeira vez, você quis dizer. — Ela o corrigiu. — Caramba, eu nunca tinha ficado com alguém numa balada. Pelo menos, nunca tinha acordado no dia seguinte agarrada à alguém numa praça pública.

— Não me lembre desse episódio vergonhoso da minha vida. — O mesmo colocou a mão no rosto, o tampando.

— Por que? Você estava fofo naquele calçãozinho de flanelas — Ela gargalhou com a lembrança, ao mesmo tempo em que noah emburrara a cara.

— Será que dá pra esquecer dessa parte? — Pediu, suplicante.

— Sinto muito. — Ela balançou a cabeça, se divertindo a beça. — Mas me lembrarei daquilo pelo resto da vida!

— Ah é? — Ele levantou as mãos na altura do peito, começando a insinuar que se ela não esquecesse, ele a encheria de cócegas.

E, apesar de a minutos atrás os dois acharem que não tivessem absolutamente nada em comum, ou que fossem apenas estranhos, tudo parecia mudar à partir daquele momento.

Era como se fossem amigos há anos...

Existia certa cumplicidade entre eles e até mesmo química, que, somente no olhar, poderia ser notada o quanto ela borbulhava.

Shivani não pensou que pudesse se divertir tanto com alguém que conheceu em tão pouco tempo, como estava naquela hora. Assim como também não imaginou que pudesse sorrir tanto, mesmo que sua mente estivesse sempre atenta aos dias que se aproximavam do inevitável casamento.

— Ei... — Os dois pararam de rir, quando ele abaixou as mãos e encarou o chão, desviando o olhar. — Sábado é a minha folga. E a minha vida geralmente costuma girar em torno do hospital, então será bom passear um pouco. Quer ir à um encontro comigo?

Shivani  congelou por alguns instantes.
Não porque ela não queria ir, e não sabia como negar o convite.
Mas sim porque queria muito sair com ele, de forma que sua boca agira, minutos depois, sozinha.

— Quero!

Era um caminho sem volta, a partir daquele momento.
Ela estava colocando tudo o que tinha em risco, em prol daqueles momentos que lhe roubavam boas risadas.

A sua mentira em abril  (Noavani)Onde histórias criam vida. Descubra agora