capitulo 14🍃

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" Não é incrível como a vida é uma coisa...
E, de repente, num instante, torna-se outra?"

— Desconhecido

Boston / 23 de março / 18:30 PM

O sábado estava estranhamente tranquilo, pelas ruas de Boston. O clima frio estava se dissipando um pouco, apesar da previsão do tempo recomendar blusas ao saírem de casa. A cidade parecia tão alegre, iluminada e perfeita para um encontro, pelo menos um que não tivesse pessoas tão complicadas em cada lado da mesa.

— Você é daqui? — Noah  iniciou a conversa, decidindo começar a se conhecerem, como era o padrão de um encontro.

O médico exemplar no serviço, era um galinha de quinta categoria e que nunca havia levado uma ficada para um encontro. Era normal ele estar nervoso - o que era o caso - e compreensível o quanto ele batucava com as mãos sem parar na mesa, ansioso.

— Talvez sim...talvez não.

Shivani  não estava muito diferente dele, e transparecia isso muito mais.

Ela queria conhecê-lo.
Se sentia ótima na companhia dele.

Mas não podia contar demais sobre sua vida, assim como também estava em um impasse entre continuar com aquela farsa ou mentir ainda mais.

— Desisto. —  Noah soltou um suspiro cansado, admitindo. — Eu nunca fui num encontro, e pra ser sincero, não sei bem o que as pessoas fazem em um.

— Se serve de consolo... — Começou shivani, sorrindo. — Eu também nunca fui em um.

Outra mentira.
Ela já havia ido em muitos, graças a sua mãe, mas não os considerava encontros de verdade, até porque, a única coisa que sabia fazer quando ia em um, era comer.

— Acho que as pessoas comem nos encontros, e contam caso. — Ele comentou, chamando o garçom, que não tardou a aparecer. — Já sabe o que vai pedir?

— Ah.. —  Shivani olhou pensativa para o cardápio, não pensando em nada em especial. — Ainda não. Me recomende algo.

— E que tal...camarões em crosta de coco e cubos de manga com cebolas crocantes, salada de folhas verdes ao vinagrete de frutas e ervas. — Ele falou de uma vez, fechando o cardápio satisfeito com sua escolha. — E é barato..

Ela riu.

— Perfeito!

O pedido dos dois não demorou a chegar.
Enquanto isso, conversaram sobre tudo, ou quase tudo.

Noah  contou sobre a vida dele, o que gostava de fazer, o que gostava de comer, sua cor favorita, seu filme favorito, e até mesmo sobre o tipo de tatuagem que ele teria coragem de fazer se tivesse tempo de sobra, fora do hospital. Aquilo, deixou shivani  com um sentimento de que talvez conhecesse ele a vida toda, baseado em seu falatório.

Ele gostava de assistir partidas de futebol, e detestava séries. Sua cor favorita era preta, seu filme favorito eram todos do Harry Potter - O que ela quase chorou, porque também eram os seus - era apaixonado por cirurgias e colecionava objetos estranhos que costumava nomear.

Ele era falante, engraçado, bom de lábia e atraente.
Ele tinha uma profissão que amava, era alguém que corria atrás de seus sonhos, e que parecia gostar de tudo.

Shivani , em meio aquela observação, percebeu o quanto eles eram diferentes, e ao mesmo tempo tão iguais.

Era óbvio que ela havia se xingado e se repreendido por pensar que eles eram iguais, quando na verdade, ele era alguém muito melhor do que ela.
Mas tinham tantas coisas em comum, e fôra a primeira vez em que se sentiu tão solta, tão leve...

Fôra a primeira vez que sentiu que alguém realmente estava prestando a atenção nela, nos olhos dela, nas suas histórias - mesmo que falsas - e no que ela tinha a oferecer, ao invés de suas pernas, da sua cor ou do quanto poderiam ganhar ao sair com a enteada de um ex milionário.

ele estava ali por ela.
Não pela sua mãe.
Não pelo seu padrasto.
Não pelo seu corpo.

Mas por ela!

E o que ela fez?

— Eu me divertir muito.. — Noah  murmurou, sem tirar os olhos dela.

— Poderíamos...ser amigos...

Houve um silêncio.
E aquela foi a sua maior mentira já contada, até aquele momento.

Ela não queria ser somente amigo dele. Não queria olhar para sua foto de perfil no WhatsApp e ver no cara incrível que deixou escapar, e na pessoa que parecia completa-lá tão bem.

Ela queria mais.
Queria deixá-lo entrar na sua vida, e fazer o estrago que já estava fazendo.

Queria deixar-lo ser a pessoa que conhecia todos os seus segredos, e que sabia quando ela mentia.
Porque naquele momento, era o que ela estava fazendo.

Mentindo.

E talvez fosse o certo a fazer.
Deixar que as coisas acabassem assim. Afinal, Sabina estava certa. Eram três pessoas envolvidas. Não era justo.

— Tudo bem...

E aquilo para ela, fôra mais doloroso do que ouvir de sua própria mãe que estava sendo vendida.

" Tudo bem"...

Tudo bem, vamos ser amigos...
Tudo bem, eu não queria nada com você..
Tudo bem, me deixe sozinha...

Tudo bem, a minha mentira não seria mesmo descoberta!

A sua mentira em abril  (Noavani)Onde histórias criam vida. Descubra agora