" Não é incrível como a vida é uma coisa...
E, de repente, num instante, torna-se outra?"— Desconhecido
Boston / 23 de março / 18:30 PM
O sábado estava estranhamente tranquilo, pelas ruas de Boston. O clima frio estava se dissipando um pouco, apesar da previsão do tempo recomendar blusas ao saírem de casa. A cidade parecia tão alegre, iluminada e perfeita para um encontro, pelo menos um que não tivesse pessoas tão complicadas em cada lado da mesa.
— Você é daqui? — Noah iniciou a conversa, decidindo começar a se conhecerem, como era o padrão de um encontro.
O médico exemplar no serviço, era um galinha de quinta categoria e que nunca havia levado uma ficada para um encontro. Era normal ele estar nervoso - o que era o caso - e compreensível o quanto ele batucava com as mãos sem parar na mesa, ansioso.
— Talvez sim...talvez não.
Shivani não estava muito diferente dele, e transparecia isso muito mais.
Ela queria conhecê-lo.
Se sentia ótima na companhia dele.Mas não podia contar demais sobre sua vida, assim como também estava em um impasse entre continuar com aquela farsa ou mentir ainda mais.
— Desisto. — Noah soltou um suspiro cansado, admitindo. — Eu nunca fui num encontro, e pra ser sincero, não sei bem o que as pessoas fazem em um.
— Se serve de consolo... — Começou shivani, sorrindo. — Eu também nunca fui em um.
Outra mentira.
Ela já havia ido em muitos, graças a sua mãe, mas não os considerava encontros de verdade, até porque, a única coisa que sabia fazer quando ia em um, era comer.— Acho que as pessoas comem nos encontros, e contam caso. — Ele comentou, chamando o garçom, que não tardou a aparecer. — Já sabe o que vai pedir?
— Ah.. — Shivani olhou pensativa para o cardápio, não pensando em nada em especial. — Ainda não. Me recomende algo.
— E que tal...camarões em crosta de coco e cubos de manga com cebolas crocantes, salada de folhas verdes ao vinagrete de frutas e ervas. — Ele falou de uma vez, fechando o cardápio satisfeito com sua escolha. — E é barato..
Ela riu.
— Perfeito!
O pedido dos dois não demorou a chegar.
Enquanto isso, conversaram sobre tudo, ou quase tudo.Noah contou sobre a vida dele, o que gostava de fazer, o que gostava de comer, sua cor favorita, seu filme favorito, e até mesmo sobre o tipo de tatuagem que ele teria coragem de fazer se tivesse tempo de sobra, fora do hospital. Aquilo, deixou shivani com um sentimento de que talvez conhecesse ele a vida toda, baseado em seu falatório.
Ele gostava de assistir partidas de futebol, e detestava séries. Sua cor favorita era preta, seu filme favorito eram todos do Harry Potter - O que ela quase chorou, porque também eram os seus - era apaixonado por cirurgias e colecionava objetos estranhos que costumava nomear.
Ele era falante, engraçado, bom de lábia e atraente.
Ele tinha uma profissão que amava, era alguém que corria atrás de seus sonhos, e que parecia gostar de tudo.Shivani , em meio aquela observação, percebeu o quanto eles eram diferentes, e ao mesmo tempo tão iguais.
Era óbvio que ela havia se xingado e se repreendido por pensar que eles eram iguais, quando na verdade, ele era alguém muito melhor do que ela.
Mas tinham tantas coisas em comum, e fôra a primeira vez em que se sentiu tão solta, tão leve...Fôra a primeira vez que sentiu que alguém realmente estava prestando a atenção nela, nos olhos dela, nas suas histórias - mesmo que falsas - e no que ela tinha a oferecer, ao invés de suas pernas, da sua cor ou do quanto poderiam ganhar ao sair com a enteada de um ex milionário.
ele estava ali por ela.
Não pela sua mãe.
Não pelo seu padrasto.
Não pelo seu corpo.Mas por ela!
E o que ela fez?
— Eu me divertir muito.. — Noah murmurou, sem tirar os olhos dela.
— Poderíamos...ser amigos...
Houve um silêncio.
E aquela foi a sua maior mentira já contada, até aquele momento.Ela não queria ser somente amigo dele. Não queria olhar para sua foto de perfil no WhatsApp e ver no cara incrível que deixou escapar, e na pessoa que parecia completa-lá tão bem.
Ela queria mais.
Queria deixá-lo entrar na sua vida, e fazer o estrago que já estava fazendo.Queria deixar-lo ser a pessoa que conhecia todos os seus segredos, e que sabia quando ela mentia.
Porque naquele momento, era o que ela estava fazendo.Mentindo.
E talvez fosse o certo a fazer.
Deixar que as coisas acabassem assim. Afinal, Sabina estava certa. Eram três pessoas envolvidas. Não era justo.— Tudo bem...
E aquilo para ela, fôra mais doloroso do que ouvir de sua própria mãe que estava sendo vendida.
" Tudo bem"...
Tudo bem, vamos ser amigos...
Tudo bem, eu não queria nada com você..
Tudo bem, me deixe sozinha...Tudo bem, a minha mentira não seria mesmo descoberta!
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A sua mentira em abril (Noavani)
FanfictionAlgumas mentiras vem para o bem, Principalmente aquelas que escondem uma inevitável verdade. Farta de tantos compromissos relacionados ao seu casamento que, em sua humilde opinião, era apenas para quitar a dívida de sua família e a sustentar a amb...