capitulo 28🍃

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" Se você sente,
Por que finge que não sente?"

— Desconhecido

Boston/ 27 de março/ 11:59 AM

Noah já estava há uns bons minutos tentando tirar ao menos uma palavra ou um sorriso de sua boca, e, apesar de shivani  admirar aquela sua qualidade e todo o seu esforço, ela infelizmente não estava nem um pouco a fim de sorrir ou dizer alguma coisa.

Se abrisse a boca, o que sairia seria apenas palavras de rancor, raiva ou até mesmo a verdade.
Verdade sobre o quanto ela estava sendo uma idiota, e pior, uma idiota gananciosa.

Se tentasse sorrir, o que sairia seria apenas um puxar de lábios, antes de seu rosto ser preenchido por suas lágrimas, que estavam querendo a qualquer momento descer.

Então, ela continuou apenas imóvel, sentada no banco do carro e olhando a paisagem como se tivessem a capacidade de lhe tirar da realidade de seus problemas.
Ela só queria ficar ali, quietinha, ao lado dele, aonde seria arrancada em breves dias.

Noah soltou um longo suspiro, preocupado com ela. Se acostumara tanto com seu lado sorridente e feliz, que se esquecera de que todas as pessoas tinham suas batalhas com o que lutar.
Todos tinham seus dragões por dentro, e o dela, ela quase não o deixava transparecer.

— Quando eu era pequeno, eu costumava guardar para mim todos os meus sentimentos, meus pensamentos ou qualquer outra coisa que eu não me sentia confortável para compartilhar com ninguém.

— O que...

— A morte do meu cachorro, meu primeiro pé na banda, o quase divórcio dos meus pais...em fim... — Ele a interrompeu, quase sem querer. — Eu não gostava de dividir meus pensamentos e questões pessoais com ninguém, e por isso, tive que encontrar alguma coisa que pudesse me ajudar a esquecê-los.

Shivani passou a escuta-lo, escorando sua cabeça no vidro do carro.

— E encontrou?

— Sim, eu encontrei. — Ele sussurrou, estacionando o carro.

Ela deu um boa olhada no que parecia ser uma floresta, tomando cuidado ao sair do carro, por ter sido estacionado numa área muito íngrime.

Não escondeu sua curiosidade sobre aquele lugar, e isso, noah  percebera quando ela o olhou.

— Aonde estamos? — Perguntou por fim, tentando saciar seu interesse.

— Estamos no meu esconderijo — Ele respondeu, pouco se importando se havia ou não soado infantil. — Venho aqui toda vez que não consigo manter mais para mim mesmo o que estou sentindo.

— E faz isso desde quando? — Ela arqueou a sobrancelha, achando aquilo divertido.

— Desde os doze. — Contou, dando alguns passos para frente e chutando uma pedra para longe. — E não. Eu não fugia de casa para vim até aqui. Eu na verdade morava aqui perto..

Ela assentiu, compreendendo.

— E o que eu faço? — se remexeu, o encarando.

— Faça o que quiser. — Ele deu de ombros, voltando-se para perto do carro e se escorando. — Grite. Esperneie. Conte seus segredos. Mas quando sair daqui, não o leve contigo. Deixe-o  enterrado aqui, nesse lugar, bem longe de você.

Ela voltou a encarar a floresta, sem saber o que fazer.
Se gritasse para aquelas árvores os seus problemas, seria mesmo possível que elas a ouvissem?
Se gritasse para aquele céu, os seus segredos, eles a ajudariam?

Se contasse à aquele homem, o pesadelo que estava se tornando a sua vida, ele aceitaria fugir ao seu lado?

— Isso é ridículo. — Ela se agachou, deixando escapar um sorriso condescendente e envergonhado.

— Se pensa assim... — Noah cruzou os braços, apenas a observando. — mas funciona, se quer saber. Irá te deixar um pouco mais leve...

" Eu quero ele..."

" Quero-o para minha vida"

" Me tire desse abismo no qual me joguei"

" me salve"

" me leve embora"

Eram tantos sussurros em seu coração, que ela mal acreditou que estava com tantas coisas guardadas dentro de si.
Seria mesmo possível, que fosse assim tão infeliz?

Que se sentisse tão presa, e tão submissa, que simplesmente não conseguia sussurrar tudo aquilo em voz alta?

Ela se levantou em um pulo, tentando ignorar aquele desejo ardente de falar aquelas palavras em voz alta perante ele, que não fazia a mínima ideia da encrenca que ela havia se metido.

Tentou ignorar o seu coração acelerado, e o bolo que se fazia em sua garganta.

— Você não está desabafando... — Noah murmurou, atento a expressão de pânico dela.

— Não dá. Eu não consigo. — Shivani  pareceu afobada, tanto que começou a andar em círculos, inquieta.

— Grita...

— Não dá! Eu não sinto vontade de gritar, de espernear, de me descabelar, de xingar... — Ela suprimiu o choro. — de andar...de respirar...

O que tanto a afligia, que a deixava naquele estado?
Noah se fez essa pergunta um bilhão de vezes a caminho dali, e mesmo se aproximando dela, ele voltou a repetí-la em sua cabeça.

Aparentemente, ela era uma mulher comum.
Mas naquele instante, ela se mostrou ser alguém com tantos segredos guardados, quantos folhas que existiam naquela floresta.

— Vai ficar tudo bem. — Ele tentou tranquiliza-la, segurando os seus braços e a forçando a parar de andar.

— Como pode me prometer isso? Como sabe que tudo ficará bem? Você nem ao menos me conhece...

— Tem razão. — Ele a trouxe para mais próximo de si, sem interromper o contato. — Mas quero conhecê-la.

— Não posso prometer de que irá gostar após saber...

— Não custa nada tentar..

A sua mentira em abril  (Noavani)Onde histórias criam vida. Descubra agora