Uma nova vida

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Era algo surpreendente, novo, completamente novo, era essa palavra que definia melhor a nossa situação presente, mas ainda assim, era algo fantástico, ter mais alguém em nossa casa, não só alguém, mas o nosso próprio filho.

Lukas era a razão da minha vida agora, minha e do pai dele, nos dedicávamos a cada uma das suas necessidades, dos seus gestos e até mesmo dos seus caprichos. Para Niki, era mais fácil identificar quando o choro do nosso bebê se tratava de uma simples manha.

-Não é possível - eu costumava repetir - não é possível que só pelo choro você sabe o que ele quer.

-É uma questão de lógica, meu amor - explicou meu marido - olha só, se ele tá alimentado, com o sono regular e com seu brinquedo favorito em mãos, é só imaginar que ele não tem motivo para se comportar assim, a não ser chamar atenção.

-Mas ele é só um bebê, como pode conseguir nos manipular desse jeito? - eu insisti e questionei

-Você também já foi criança um dia, sabia manipular seus pais quando queria, por conhecê-los bem - Niki explicava - o Lukas sabe exatamente quem somos, por isso vai tentar de tudo pra nos convencer.

-Sabe que você tem razão nisso, faz sentido o que você disse - suspirei, entendendo que aquela teoria tinha lógica - mas eu não era tão manipuladora assim com os meus pais.

-Certo, eu sei que sim - meu marido concordou com a minha história.

-Eu quero só ver se o Lukas vai continuar meio manipulativo quando crescer um pouco mais - sugeri.

-Eu espero que não, por enquanto eu consigo conter suas manhas, mas depois... tá aí um mistério que é melhor deixar para o futuro, não é meu filho? - ele olhou para o nosso bebê, que o respondeu com uma risadinha graciosa, realmente, parecia que ele estava entendendo tudo.

Conforme o tempo passou, Lukas perdeu um pouco dessa característica de conseguir o que queria de nós com gracejos e tudo mais, ele viu que muitas vezes, com seu próprio esforço, conseguiria o que queria. Como quando ele quis iogurte e apenas pediu ao pai se poderia dividir a guloseima que já estava comendo. Confesso que vi Niki um tanto enciumado, mas ele acabou cedendo mesmo assim.

Desde pequeno, Lukas acompanhava o pai na sede da empresa, observando os aviões e até mesmo os testes, o que fascinava nosso pequeno, poder observar aquelas máquinas enormes alcançarem o céu de forma fantástica, de um jeito que parecia muito fácil.

-É como se fosse balões - meu menino comentou uma vez para mim sobre os aviões.

-Ah, por que eles voam até o céu? - questionei.

-Aham, só que são bem maiores e barulhentos - apontou Lukas.

-É muito mais complicado um avião voar do que um balão voar - disse o pai dele com paciência.

-Por que? - quis saber o nosso menino e Niki deu um sorriso, mostrando que estava super contente com a curiosidade de Lukas.

Eu fiquei contente também, por ver que meu filho estava crescendo tão inteligente, mas logo depois, fiquei meio temerosa, sabia o que tinha passado na cabeça do meu marido, e não achava que era suficientemente seguro ou a hora certa para a ideia que ele tinha em mente.

-Bom, um balão é bem leve e ele tem ar dentro dele, e quando ele flutua pra cima, o ar o impulsiona a ir cada vez mais alto, e é só ele que voa, não precisa carregar nada e mais ninguém - Niki disse com clareza.

-E o avião não é assim - comentou Lukas - ele é bem maior e feito de metal.

-Vários tipos de metais, sem contar as poltronas de couro, certo? - o pai dele apontou.

-E as janelas de vidro e as cortinas de pano - Lukas tentou se lembrar de mais coisas em um avião que não eram de metal.

-Está esquecendo uma coisa bem importante - eu instiguei meu filho a pensar um pouco mais.

-Importante? Como o que? O motor? - ele questionou, pensativo.

-Não está totalmente errado, filho, sem o motor o avião não voa, sem as turbinas também seria impossível - Niki observou - mas acho que a sua mãe se referiu a outra coisa.

-Ah sim, outra coisa... - Lukas pôs uma mão no queixo, se esforçando para pensar outra vez, como um pequeno e fofo filósofo.

-Deixa eu te ajudar um pouco - decidi e meu filho prestou mais atenção em mim - pra que você acha que servem os aviões?

-Ah mamãe, eu achei que ia me ajudar, mas agora está fazendo mais perguntas, eu não acho que isso é ajudar - reclamou meu filho, cheio de razão.

Eu até vi o pai dele se esforçar para esconder o riso, mas Niki acabou soltando uma gargalhada mesmo assim. Lukas apenas olhou estranhado para ele.

-Tudo bem, eu digo a resposta, os aviões levam as pessoas de um lugar para o outro com mais rapidez, não é? - eu expliquei, Lukas assentiu - e as pessoas dentro de um avião o deixam mais pesado, e coisas pesadas são difíceis de voar.

-É, mas elas voam dentro do avião - meu filho começou a compreender.

-E o avião não cai por ser pesado, por causa do motor e das turbinas, são as hélices debaixo das asas e os motores que sustentam uma coisa tão pesada no ar - Niki completou a explicação, e vimos Lukas entender tudo, demonstrando sua percepção em seu rosto.

-Agora entendi, isso tudo parece ser tão complicado, mas muito legal - comentou nosso menino por fim.

Parecia que toda aquela conversa complicada cansou sua mente de criança e ele acabou se distraindo com um tipo de avião que poderia entender melhor, feitos de papel, por ele mesmo. Quando voltamos pra casa, nós três nos juntamos numa competição para ver quem jogava os aviões mais longe. Para Lukas, a brincadeira era a resposta suficiente das suas indagações.

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