2. O horror da floresta escura

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 O dia começou com uma claridade intensa, vinda dos raios do sol que conseguiram atravessar as nuvens como uma faca em um pedaço de carne. Os raios da manhã atingiram a janela bem onde estava a cama de Kara, um despertador perfeito para alguém que, mesmo amaldiçoando a tudo naquele horário, precisava se levantar e se preparar para mais um dia de caçada. Se lavou com água fria para se livrar da preguiça, colocou toda a roupa pesada feita de coro e pele de animal e então saiu para a floresta, curtindo o silêncio que só aquele horário poderia trazer.

O calor da manhã passou e as nuvens voltaram a cobrir o céu como um manto de ferro. Horas se passaram e Kara permanecia parada na tocaia até ouvir o barulho da armadilha. Cheia da satisfação da conquista, ela correu animada para onde tinha posto a arapuca e viu um coelho branco se debatendo para sair. Caçar animais menores era bem melhor daquele jeito, já que no primeiro barulho de tiro, todos corriam para todo lado, dificultando tudo ainda mais encontrá-los.

Ela se aproximou do animal com a faca em punho, o segurou pelas orelhas e quando ia desferir o golpe percebeu uma característica peculiar. Suas mamas estavam inchadas, maior do que costumava ver por ali, assim que viu isso a faca tremeu em suas mãos, não de euforia, mas com uma pena enorme. Em suas mãos segurava a vida de uma fêmea que ainda estava amamentando, uma mãe que lutava contra o inverno para se alimentar e alimentar seus filhotes, alguém que se arriscava todos os dias para proteger aqueles que amava. Kara permaneceu uns dois minutos segurando a coelha pela corda até que por fim, desceu a faca.

A coelha saltou pela mata sem nem olhar para trás. Curtindo a liberdade e provavelmente voltando para os filhotes. Mas antes de sumir de vez, ela olhou para a caçadora piedosa uma última vez, direto nos olhos da caçadora, que sentia um calor familiar em meio ao vento frio, quase uma sensação de agradecimento vinda do animal que poucos segundos depois saltou no emaranhado de mato e neve, sumindo de vez.

- Golpe baixo. - Disse Kara, maldiçoando sua própria fraqueza. - É por isso que eu odeio caçar coelhos.

Ela seguiu outro trecho esperando haver algum pássaro, ou até mesmo, outro cervo, caminhando metros a fio sem encontrar nenhum sinal de vida. Sua atenção foi chamada ao canto de um pássaro não muito longe dali. Com a esperança de uma caça menos dramática, seguiu o rastro do canto, tomando todo cuidado para não pisar em um galho ou afundar em um buraco oculto pela neve. Quando achou que tinha se aproximado do possível animal, outro som ecoou bem mais perto dali, algo canino, agudo e contínuo. Um uivo de lobo, que se tornou um rosnado e depois foi seguido de alguns tiros. Não tiros calculados que alguém daria se estivesse caçando a fera. Mas tiros rápidos, demonstrando o desespero de quem estava sendo atacado.

Não entendia o porquê, mas suas pernas se moviam sozinhas, corriam em direção aos barulhos que começavam a ficar mais altos. Conforme adentrava no bosque a escuridão da floresta profunda, trazia ondas de nervosismo em seu corpo que a percorriam como ondas elétricas. Quando enfim avistou uma clareira, a visão da fera transformou a eletricidade em um frio ácido que paralisou seu corpo por um segundo.

O lobo tinha uma pelugem branca e cinzenta que quase se misturava a neve por onde andava, transformando-o em um borrão quando visto por cima. Seu grunhido era tão gutural que Kara só percebeu que estava tremendo quando tentou empunhar o rifle. Mas o que mais amedrontou a caçadora foi o tamanho do animal, que era tão grande quanto um cavalo. A alguns metros à sua frente um homem segurava o rifle com o braço vertendo sangue e atrás dele, um garoto aterrorizado se abraçava ao caçador.

Um homem que achou que o filho já tinha idade para caçar, um garoto que queria ser orgulho para o pai. Pessoas que só queria sobreviver, cercadas por uma fera sanguinária. Mesmo tremendo, Kara respirou fundo até conseguir firmar os braços, para sua sorte o animal estava concentrado demais nos dois para perceber que havia outra arma mirando em sua cabeça, ela soltu a respiração e por fim apertou o gatilho. O estampido inundou seus ouvidos e a bala voou certeira no pescoço do animal, que mesmo depois de ser acertado investiu contra os caçadores, Kara engatilhou mais uma bala e antes dele chegar em suas vítimas, um projétil de metal voou mais uma vez. atingindo a besta no peito e a derrubando na neve.

O MISTÉRIO DA FLORESTA ESCURAOnde histórias criam vida. Descubra agora