Casa na árvore

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     Pedro tinha construído aquilo tudo sozinho. Cada uma daquelas tábuas foi cortada e pregada por ele. Pra dar um clima mais aconchegante, comprou luzes vermelhas e as pendurou no teto. Pedro gostava muito de música e cinema. Isso justificava a quantidade de pôsteres grudados na parede. No chão, além dos livros espalhados, havia um tapete felpudo e algumas almofadas. No cantinho, próximo à uma janela, um toca-discos. Dali saía uma música calma, que invadia todo o ambiente.

     — O que tá tocando, Pedro?

     — Beethowen. Moonlight.

     Eu não conhecia. Eu não era um cara que entendia de música clássica. Não sabia o que dizer. Procurava algo urgente pra preencher o silêncio.

     — Porra, Pedro... — Olhei ao redor — Achei foda. Eu não conseguiria construir uma parada dessa.

     Pedro jogou uma almofada pra mim, pra que eu também me sentasse. Me sentei sobre a almofada e, pelas frestas no piso, pude ver Lulu brincando lá embaixo.

     — Até que não demorei tanto pra terminar — Pedro também olhou ao redor — Em um mês, tudo ficou pronto.

     Aquele silêncio constrangedor outra vez.

      — E como é que você tá? — Perguntei.

     Pedro pensou antes de responder.

     — Hoje pela manhã eu quis me matar.

     — Caralho, Pedro.

     Pedro sorriu.

     — Você fala pelo menos um palavrão toda vez que abre a boca, já prestou atenção nisso?

     — Porra. Real. Mas o que você esperava? Acabei de ouvir você me dizer que queria se matar pela manhã.

     Pedro me encarou, sério. Depois deu uma gargalhada. Também não me segurei. Não sei bem do que estávamos rindo. Acho que ríamos das nossas limitações. Eu, por não conseguir falar uma frase sem soltar um "porra" ou "caralho". O Pedro, por ter pensado em fazer merda pela manhã.

     — Eu lembro de você — Pedro ficou sério — Seu pai ainda é babaca?

     Eu ri.

     — Acho que ficou pior com o tempo — Respondi.

     — Isso é possível?

     — Acho que sim. Ele se mandou de casa.

     — Não acredito.

     — Minha mãe tá péssima.

     O olhar do Pedro mudou na hora. De triste, ele se transformou em um olhar de pena. Pedro tava com dó de mim. Ele se aproximou, encostou seus ombros nos meus e os braços envolveram o meu corpo. Era um abraço.

     A vida é engraçada. Eu tinha ido pra casa da árvore do Pedro porque eu queria dar um abraço nele. Mas o Pedro viu que eu tava precisando de um abraço primeiro. Foi aí que descobri uma coisa sobre ele. O Pedro era muito forte. Deixou de lado, por um momento, tudo o que tava acontecendo com ele. Deixou de lado pra poder me ajudar. O Pedro era foda.

     — Tá chorando, Bruno?

     — Não, caralho. Eu não choro.

     — E essas lágrimas?

     — Que lágrimas?

     Pedro balançou negativamente a cabeça.

     — Esqueci que vocês, héteros, nunca admitem que choram — Passou a mão no meu cabelo, sorrindo.

Tá tudo bem, PedroOnde histórias criam vida. Descubra agora