Eu me chamo Bruno

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     Eu me chamo Bruno. Tenho quinze anos. Mas esta história não é sobre mim. Não por enquanto. É sobre um cara chamado Pedro, que também tem quinze anos e estuda na mesma escola que eu. Pedro e eu nunca fomos grandes amigos. Éramos apenas conhecidos. Eu sabia da existência do Pedro. Pedro também devia saber da minha existência. Mas só isso.

     Quando éramos menores, bem pirralhos, brincamos juntos algumas vezes. Na época, Pedro e sua família, recém chegados da Bahia, não conheciam quase ninguém na nossa cidade. Minha mãe convidou a dona Luiza para passar alguns domingos em nossa casa, porque sempre fazíamos churrasco aos finais de semana. Pedro era bem tímido, quase não falava. Mas aos poucos foi se soltando. Brincávamos dentro de casa mesmo, porque minha mãe sempre foi muito cuidadosa. Não me deixava sair.

     Depois as visitas de Pedro e dona Luiza pararam. Não acho que tenha acontecido alguma discussão ou problema entre minha mãe e dona Luiza. Tem gente que se afasta mesmo, sem motivo nenhum. Acho que é normal. A vida tem dessas.

     Anos depois, Pedro e eu caímos na mesma turma, o nono ano B. Passamos a metade do ano sem trocar uma palavrinha. Em alguns momentos eu quis falar com ele. Quis perguntar se ele se lembrava dos domingos lá em casa. Mas sei lá. Pedro era meio fechado. Muito tímido. Eu só ouvia a voz do Pedro na aula de literatura. Ele era o único que parecia entender o que o professor Marcelo falava. O professor Marcelo parecia gostar bastante do Pedro. Se eu fosse professor de literatura e tivesse um aluno como Pedro, que gostasse muito de ler e sempre andasse com um livro na mochila, eu também iria gostar dele.

     Tirando as aulas de literatura, Pedro passava despercebido na maior parte do tempo, pelo menos foi assim até as férias escolares de junho. Quando recebi aquele vídeo no celular, tive vontade de vomitar. Não acreditei que pudesse ser real. Tive nojo. E raiva. Muita raiva. Todo mundo estava compartilhando aquilo sem se importar com as consequências que poderia ter na vida do Pedro. Na minha cabeça, só vinha a imagem daquele menino de aparência frágil que passava as tardes de domingo comigo, jogando videogame. Aquele menino, agora adolescente como eu, estava sendo exposto e ridicularizado por toda a escola. Eu nem podia imaginar como Pedro estava se sentindo.

     O vídeo do Pedro foi, de longe, o assunto mais comentado pelas pessoas do colégio durante o recesso escolar. No primeiro dia de aula após as férias, todos queriam saber se Pedro continuaria frequentando as aulas. Apostas foram feitas. A maioria dos alunos achava que ele não teria coragem de aparecer depois daquela exposição toda. Se estivesse no lugar dele, eu sumiria. Eu trocaria de escola. As pessoas na Gaspar Miranda não o deixariam em paz. Tem muita gente ruim nessa escola. Pedro seria louco se decidisse continuar estudando nela.

     Mas aí o Pedro apareceu na segunda aula. E é aqui que esta história começa.

Tá tudo bem, PedroOnde histórias criam vida. Descubra agora